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domingo, 14 de novembro de 2010

O velejador, sua namorada mais o cão Hund - estórias vividas na MAR


A estória é a seguinte. Um amigo velejador, cujo nome estou proibido de divulgar, contou-me que tinha acabado de se separar da mulher, que apossou-se do seu apartamento em novembro de 2008. De repente não tinha mais onde morar. A solução que encontrou foi juntar-se ao responsável pela separação.
- Quem?
- Seu veleiro Ranger 22, pra bordo do qual ele se mudou "de mala e cuia" no dizer da minha avó Balbina. No princípio estranhou morar a bordo. Sentiu falta do barulho dos motores dos carros, do vozerio dos vizinhos falando alto, da sub-música que toca-se alto em toda parte . Sentiu falta da imobilidade da sua cama. Sentiu falta das luzes da cidade acesas durante a noite toda, perturbando nosso sono de macróbios humanos. Sentiu falta do calor infernal que faz na cidade. Enfim sentiu falta de todos os defeitos da cidade, mas já na segunda semana deu-se conta que viver na MAR ou perto dela é a maneira ideal de se viver... Passou a velejar com frequência, só arriando as velas pra dormir numa enseada tranquila ou ao abrigo de uma ilha amiga. Em vez de azarar as moças nas boates, passou a perseguí-las nas praias e rapidinho descolou a primeira namorada. Sairam pra velejar uma primeira vez, com vento fraco, conforme manda o figurino, mas da segunda o vento refrescou. Estavam previstos 10 entraram 25 nós de vento, chegando a 30 nas frequentes rajadas. Ele pensou em voltar. Estavam a duas milhas do porto de origem. Teria sido prudente e relativamente fácil voltar. Mas o diabo, sempre atento a uma nova chance de praticar o mal e perder os inocentes, colou a boca no ouvido do nosso colega velejador e cochichou.

- Siga em frente! Vá em frente corajoso velejador, o dia está lindo, a temperatura ideal e a MAR foi feita pra quem a merece.
- Nosso colega vejador entusiasmou-se com a enganosa lábia do diabo. Manteve todas a velas em cima e meteu leme a meio.

O vento de través bem folgado, quase entrando pela alheta foi apertando, as ondas crescendo e a velocidade do veleiro aumentado cada vez mais. Nosso colega velejador tinha dificuldade pra manter o rumo. As ondas começaram a estourar invadindo cada vez mais a proa do veleiro. Enquanto isso a namorada dele, tranquila estava e tranquila continuou, tomando banho de sol deitadinha no convés de bum bum pra cima, mais apetitosa e macia que um caqui, só que maior e bem menos vermelha. A meio caminho entre Rio das Ostras de onde saiu e Búzios onde ele pretendia chegar o vento alcançou 30 nós na rajada. A MAR cresceu bastante de tamanho e apareceu um swell imenso ninguém sabe de onde. O veleirinho coitado, cuja manutenção deixava a desejar, como acontece com 90% dos poucos veleiros brasileiros que ainda navegam, balançava, caturrava, adernava muito nas rajadas, enfurnava a proa n’água, estalava, rangia, espumava, mas a namorada do nosso colega velejador, que nadava bem, mas em matéria de vela era analfabeta, pensava que tudo aquilo era normal.
- De repente o incorrigível diabo, mergulhou em parafuso, despencando do interior de um enorme cúmulo-nimbo, a nuvem da desgraça, e aterrisou invisível no convés do Ranger 22, do nosso pobre amigo velejador e salivando, pensou:
- É hora de fazer a festa!
Esqueci de dizer que nosso colega velejador possuía um cão pastor-alemão chamado Hund. Hund era um cão sempre alerta e obediente. Começou a rosnar, a latir, a acuar o diabo, que, todos sabem, é pródigo em artimanhas pra engambelar-nos a nós pobres e pequeninos mortais. Não satisfeito em mal aconselhar nosso colega velejador, foi recuando, foi caminhado de costas e estalando os dedos.
- Vem meu irmão. Vem comigo, vem Hund?
-  Atiçado, Hund continuou a latir, a avançar na direção do diabo que ia sempre recuando, afastando-se do seguro barlavento, em direção ao perigoso sotavento. De repente uma onda mais forte chicoteou o convés lançando Hund no espaço. O diabo riu sua famosa gargalhada rascante e desapareceu do veleiro. Hund ainda flutuando no ar olhou aflito nos olhos do nosso colega velejador, que olhou desesperado nos olhos da namorada, que angustiada olhou nos olhos de Hund ainda parado no ar. Suspense!

- Ploft, Hund cai n’água e desaparece na esteira do Ranger 22, naquele momento surfando a inacreditáveis 15 nós de velocidade.
- O amigo leitor já viu um Ranger 22, mesmo com tudo em cima dar 15 nós? Nem eu.
- Outra pergunta.
- Diga-me agora você, que é velejador experiente, com várias travessias de oceano nas costas, diga-me o que acha que aconteceu 10 segundos depois dessa muda troca de olhares que acabamos de mencionar? Hund olhando nosso colega velejador nos olhos, que olhou pra namorada no fundo dos olhos que olhou pra Hund no fundo dos olhos?
- Pago-lhe um suco de açaí na “pastelaria” NOVO SABOR, do Paulo Chinês, mais tarde, se adivinhar o que aconteceu com nossos amigos, assim que Hund caiu de cabeça n'água salgada.
- Dou-lhe uma.
- Dou-lhe duas.
- Nosso colega velejador jogou uma bóia n’água, aquartelou o veleiro e escalou 2/3 do mastro pra tentar avistar Hund?
- Dou-lhe três! Errou a resposta e perdeu o suco de açaí.
- A resposta certa é… continua num próximo post.

~~~~~~~~~~~~~~

- Irada assim porque amiga velejadora?
- Gosta de novela não é? Ué, tem certeza que você é brasileira? Brasileiro é que costuma negligenciar a MAR, pra assitir novela na TV!
Os franceses fazem ao contrário.
- Um abraço a todos e a todas.
-  Quando Madame Sorte quiser, conto a segunda parte dessa incrível estória pra vocês.
- Bons ventos a todas e a todos e que o cão de estimação de vocês jamais caia à MAR durante um pé de vento.

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