Se minha expedição de sete dias de n° 8 para Búzios foi a mais longa de todas ( 90 milhas ) esta última foi a mais curta ( 6 milhas ). Leiam meu diário de bordo do dia 7 de maio que vocês entenderão o que me aconteceu.
Passagem, Cabo Frio - 7 de maio de 2008 – Quarta-feira - 20h
2° dia da décima expedição de sete dias do corrente ano - tempo bom
Hoje, após uma velejada radical ( 28 nós de vento segundo a buowyweather.com ) em companhia do meu amigo Paulo Paes e a bordo da sua canoa à vela “Nazaré”, sofri o mais grave acidente da curta história ( 5 anos ) das minhas mini-expedições marítimas na paradisíaca Região dos Lagos/Costa do Sol.
Quando tentei passar de volta da “Nazaré” para a “Estrela d’Alva” tive minha mão esquerda imprensada entre a forqueta de metal de uma e o espelho de popa da outra. Resultado: Dor pungente, corte profundo, pequena hemorragia e grande hematoma.
Poderia fazer “mil” comentários sobre esse lamentavel acidente, mas a bem da concisão farei só três.
- Se eu estivesse usando luvas, estaria salvo.
- Se eu tivesse aceitado a sábia sugestão do Paulo Paes de arriar as velas e fazer a aproximação a remo estaria salvo.
- Se eu tivesse deixado as duas canoas baterem uma na outra para só depois apoiar a mão na popa da “Estrela d’Alva” estaria salvo.
Agora multipliquem meu acidente por um milhão e vocês terão o espantoso número de acidentes que ocorre diariamente no Brasil, por falta de respeito às normas de segurança.
- Cabofrienses! Fluminenses! Brasileiros! Meus irmãos!
Quando é que vamos aprender a usar:
Capacete na moto.
Cinto de segurança no automóvel.
E colete salva-vidas, luvas, roupa comprida, isotérmica e à prova de raios ultra violeta mais filtro solar, a bordo de nossos barcos à vela. Hein? Por favor me respondam! Quando?
Talvez nunca!
Se a prevenção de acidentes não consta do currículo de nenhuma de nossas escolas.
Se os nossos médicos preferem praticar a deplorável medicina corretiva, em vez da sábia e indolor medicina preventiva.
Se a nossa TV, em vez de exibir programas educativos no horário nobre, nos narcotiza, há mais de cinqüenta anos, com infindáveis telenovelas. Verdadeiros compêndios audiovisuais de toda sorte de patifaria.
Ah... Mas eu fui punido, eu fui muito bem punido pelo meu desrespeito às normas de segurança:
Punição n° 1 - Dois pontos sem anestesia no PU de Cabo Frio. Curiosos pra saber o que a médica de plantão, que me costurou, disse?
- Ah desculpe, a anestesia não pegou.
- É, amigos, leis e anestesia, às vezes, não pegam no Brasil. Ha ha ha ha ha. Estou rindo agora. Na hora chorei de dor. Algum de vocês já recebeu dois pontos, sem anestesia na palma da mão, um dos lugares mais sensíveis do corpo humano? Não? Então vocês não sabem do que eu estou falando.
Punição n° 2 - Quatro dias sem velejar, fundeado na Passagem e ouvindo os três barulhos que eu mais odeio no mundo:
- Barulho de motor ( o pópópó dos pesqueiros + o bbbbrrrrrrummm das lanchas )
- Barulho da sub-música que se toca alto em toda parte.
- Barulho de gente matraqueando. ( No domingo de manhã, tive de aturar um casal mais uma menina de sete anos falando sem parar. Já repararam que nós brasileiros falamos alto e sem parar? Os três estavam pescando siri na prainha, ao lado do terminal de transatlântico e pra cada siri que eles pescavam falavam umas mil palavras inúteis. Madame repetiu dezenas de vezes a seguinte fala:
“ Amor, eu cutuco o siri com o pau, mas não tenho a manha de enfiar ele no meu puçá.”
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puçá
Pequena rede de pesca, em forma de cone curto, presa a um aro circular de madeira munido de cabo, utilizada pelos índios brasileiros para pegar peixes miúdos, pitus, etc.:
Dicionário Aurélio – século XXI
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No último dia de expedição fui salvo do tédio pelo meu mais fiel colaborador, Evandro Lopes, que faria aniversário no dia seguinte. Demos uma agradável velejada ao longo do canal de Itajurú, envergando pela primeira vez a vela grande, novinha em folha, que a Cognac Velas deu de presente pra “Estrela d’Alva”. Gente, nunca vi minha canoa tão bela! Era gata borralheira. Tornou-se Cinderela da noite pro dia. Obrigado amigo Arnaldo. Obrigado amigo Evandro. Por coincidência o Arnaldo, o Evandro e eu, fomos, todos três e nesta ordem, discípulos do eterno mestre Nils Ostergren. Saúde e bons ventos mestre!
Fernando Costa
Extrato da newsletter n° 10/2008 de 15 de maio de 2008 - projeto "Estrela d'Alva"
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