- Salve velejadoras e velejadores solitários!
- Falemos again, a mando de Madame Sorte, do mais infeliz dos velejadores solitários de todos os tempos e lugares:
- Donald Crowhurst.
- Aquele que blefou jogando contra a toda poderosa MAR.
- Coitado.
- Basta a gente olhar pras enormes vagas do Pacífico Sul, na quinta parte de "Deep Water" pra sentir o drama de Donald Crowhurst, que eu apelidei de
"O Hamlet da MAR".
"O Hamlet da MAR".
- Amigos navegantes, podemos fazer de tudo quando na MAR, menos mentir sobre nossa posição. Na MAR você pode dizer, se tiver certeza, por onde já passou, jamais onde estará amanhã.
- Antes de seguir adiante com meus comentários, gostaria de mostrar-lhes meia-dúzia de extratos favoritos dos posts anteriores, que já publiquei neste blog, a respeito do incauto, do bisonho, do temerário, do inocente Donald Crowhurst.
- Concordam?
- Lá vai!
"Só que algo estranho acontece... O tempo passa e nada de Donald Crowhurst chegar... Dos nove navegantes que partiram, apenas Robin Knox Johnson consegue completar a prova." link-do-texto
"Estou aos 3 mins 16 seg do filme... Vejo uma imagem perturbadora! Loucura isto! O trimarã do Donald Crowhurst visto por ele mesmo, poucos segundos após ter saltado na MAR, com o cronômetro e outros objetos pesados amarrados ao pescoço... Afundando... Afundando, tragado pelo abismo. O que teria pensado Donald Crowhurst durante seus últimos dois minutos de vida, olhando "do fundo do MAR" o casco do seu trimarã boiando na superfície? Isso jamais saberemos e isto é o que mais me intriga neste primeira parte do filme. São 4 h da manhã. Vou tomar um chocolate
quente, já volto." link-do-texto
Olhando pro rosto sofrido do Simon Crowhurst pensei que mais triste deve ter sido sua vida, após o inconcebível e histórico fiasco protagonizado por seu pai, que o suicídio deste último. Morrer é doce, amigos, principalmente
se for na MAR. link-do-texto
Vergonha vitalícia que se reflete nas vozes melancólicas de perdedores da viúva e do filho do famoso trapaceiro. Confesso que ouvi-los me deprime. Na situação deles eu jamais comentaria semelhante assunto. link-do-texto
Incapaz de afrontar o Índico e o Pacífico irados, opta pela farça. Mas, antes do epílogo, já sem força mental pra suportar a fantasiosa versão dos fatos, ao contrário de Hamlet, opta pelo suicídio, ultrapassando o próprio Hamlet em dramaticidade.
Tem um detalhe que muda tudo, e que eu ignorava. Eu pensava que o Crowhurst era apenas um espertalhão que planejou se dar bem às custas da primeira regata de volta ao mundo, em solitário e sem escala. Na verdade ele entrou numa tremenda sinuca-de-bico. Se ficasse o bicho comia, se corresse o bicho pegava. Optou pela mentira. Mas a mentira, todos sabem, tem pernas curtas, no dizer da minha avó Balbina. link-do-texto
Sobre a quinta parte do documentário eu acrescentaria um último comentário. Observei ao longo da minha curta-longa vida neste mundo de Deus e do diabo, que um dos verbos que os macróbios humanos mais conjugam é o verbo mentir.
O pior lugar pra se mentir, amigos, é a bordo de um veleiro, velejado em solitário. Mas se mesmo assim você quiser, precisar, for obrigado a mentir colega velejador, minta sobre o seu passado na MAR e jamais sobre o futuro. O futuro na MAR é mil vezes mais imprevisível que o futuro em Terra.
Bons ventos a todas e todos os velejadores solitários do mundo, a começar por Laura Dekker, Jéromine Pasteur, Mike Horn e Michel Desjoyeaux.
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