Os navegantes franceses, amigos, chamam "Le Cours de Glénans", um tijolaço de 1300 páginas, que eu tive o prazer de ler de ponta a ponta, de "Bíblia do Marinheiro".
Decidi copiar alguns extratos desse precioso compêndio sobre navegação à VELA e traduzí-los livremente pra vocês. Espero que lhes seja útil.
Decidi copiar alguns extratos desse precioso compêndio sobre navegação à VELA e traduzí-los livremente pra vocês. Espero que lhes seja útil.
CUMULO-NIMBO, A NUVEM DA DESGRAÇA
Graças à sua imensa extensão vertical, o cúmulo-nimbo pode provocar os fenômenos meteorológicos mais violentos: pancadas de chuva, queda de neve ou de granizo, fortes rajadas de vento, trombas d’água na MAR, tornados em terra e principalmente tempestades.
ORIGINAL EM FRANCÊS
"De par son extension verticale considerable, le comulus-nimbus peut engendrer les phénomènes météorologiques les plus violents: averses de pluie ou de neige, grêle, rafales de vent, trombes em mer, tornades sur terre, et ntament des orages."
Meu comentário: Lembro-me que durante uma das minhas últimas expedições a bordo da “Estrela d’Alva”, ano passado, deitei-me pra dormir, com minha canoinha ancorada no interior da pequena angra que encontramos, com certa dificuldade, no lado de dentro da ilha de Pargos. Quando dormi por volta das 20 h o tempo era bom e o céu estava estrelado e livre de nuvens. Acordei por volta da meia-noite com a Estrela corcoveando que nem cavalo chucro. (Mas eu nunca montei um cavalo chucro. Como posso saber?) Levantei a aba de bombordo da barraca pra olhar e vi apavorado que estava debaixo de um enorme, colossal, majestoso cúmulo-nimbo, cuja base ia da ilha de Pargos até muito além da praia do Peró. De repente o vento rondou de NE para W, tornou-se violento, ondas rápidas e agressivas começaram a esmurrar nervosamente o estreito costado da “Estrela”, uma chuva torrencial desabou sobre nós e dezenas de raios brotaram da gigantesca nuvem. Felizmente o perrengue não durou mais que meia hora. Mas só Netuna sabe o medo que senti. Só Netuna sabe o esforço que fiz pra não deixar a canoa virar. Só Netuna sabe, com que prazer deitei pra dormir, aliviado, após ter trocado de roupa, quando a tempestade passou. Fique de olho nos cúmulos-nimbos, amigo velejador. Na MAR, o cúmulo nimbo é o gato mais cruel que existe, e nós marujos míseros camundongos indefesos. Só nos resta uma alternativa: EVITÁ-LOS OU DELES FUGIR enquanto houver tempo. Enfrentá-los pode ser nossa última experiência desagradável nesta vida.
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E aí? Gostou da dica? Esta aqui pode simplesmente salvar sua vida na MAR. Não se esqueça de acender uma vela pela salvação da minha alma e outra pela salvação da alma da "Estrela d'Alva", viu? Porque essas rugas de espanto na testa? Achou estranho meu pedido? Você só pode ser iniciante. Ainda não sabe reconhecer um cúmulo-nimbo no céu e nunca ouviu falar que veleiros são pessoas e tem alma? Tá precisando, sabe de quê? Muita água salgada na ca... no rosto, de preferência a bordo de uma bateira a remo e à vela cascuda mas instável, como a “Estrela d’Alva”. Porque barco grande e a motor, com o perdão da palavra motor, nos dá a falsa sensação de que somos poderosos. Somos nada. Somos, como bem disse mestre Slocum, "um inseto agarrado a um graveto" no meio da gigantesca MAR.
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