Perguntei ao alemão Jens do "Abema", clone do "Joshua" de Bernard Moitessier, como é que a gente faz, pra se livrar dos perigos do excesso de autoconfiança e ele não me deu uma resposta convincente. Isso me preocupa, porque, não sei se vocês já notaram, mas venho realizando performances marítimas, digamos assim, cada vez mais ousadas, para não dizer temerárias, em companhia da minha pequenina e instável "Estrela d'Alva".
Na segunda-feira, 23/6/2008, fiz o impensável, parti de Búzios debaixo de uma frente fria e orcei contra o vento até Cabo Frio, encarando chuva, ondas grandes, baixa visibilidade e frio.
Bati meu recorde anterior de singradura, que era de 10,5 horas. Levei desta vez 8 horas para completar o percurso de 20 milhas, mas acho que me arrisquei mais do que deveria. E aí? Como refrear a imensa vontade de partir. De ir mais longe. De velejar mais rápido. De se ultrapassar. Hein? Como ganhar "savoir faire", "know-how", experiência e auto-confiança, sem perder o necessário "medo-protetor" da toda poderosa MAR. That is the question?
Antes, confesso que tinha medo da MAR. Agora tenho medo da minha crescente falta de medo da MAR. Ou se preferirem do meu excesso de auto-confiança. Amigos, velejar de Búzios a Cabo Frio, a bordo de uma canoa de 4,86 m de comprimento, por 1.30 m de boca máxima, debaixo de uma frente fria é temeridade. Concordam? Muita gente boa já dançou por causa disso. O cascudo e jovem marinheiro bretão Antoine Duguet, por exemplo. Antoine Duguet foi o marinheiro mais apaixonado pela divina MAR que já conheci até o presente. Pena.
Culpa do Fernando Pessoa que escreveu isto aqui na sua bela e quilométrica Ode Marítima:
"Ah seja como for, seja por onde for, partir!
Largar por aí afora, pelas ondas, pelo perigo, pelo mar.
Ir para Longe, ir para Fora, para a Distância Abstrata,
Indefinidamente, pelas noites misteriosas e fundas,
Levado, como a poeira, plos ventos, plos vendavais!
Ir, ir, ir, ir de vez!"
Mudando de assunto. A festa-regata-passeio de inauguração da nova flotilha de bateras à vela, realizada no ICAB, dia 21/6/2008, foi bem melhor do que eu tinha imaginado. Seis belas bateras construídas em Campos e armadas no capricho, pelo meu amigo Johnny Geribá, entraram numa das raias de vento mais lindas do Brasil por volta das 11 horas. Eram elas "Jeitosa", do comodoro do ICAB, Sr. Alain Joullié, "Habilidosa 1" e "Habilidosa 2" do Johnny Jeribá, "Moleca", do Roberto, "Sacuritá" do Liro e a "Graciosa" do holandês Bart. Difícil dizer qual a minha preferida. Admirei todas. Parabéns aos seus proprietários, timoneiros e tripulações, mas antes de todos, ao carpinteiro que as construiu e ao Johnny Geribá que as armou. A "Jeitosa" ganhou a regata, mas a minha grande surpresa foi ver o pescador e velejador-iniciante Liro, no podium, em sua regata de estréia. Tive o privilégio de acompanhar a regata de dentro d'água, ziguezagueando entre os competidores, em companhia do meu amigo e colaborador Evandro Lima e a bordo da minha intrépida canoa alada. A "Estrela d'Alva" envergou três velas, porque o vento soprava fraco e também pra tirar uma onda com suas colegas maiores, que apesar de bonitas, não possuem gurupés e não contam mais que duas velas: grande e buja. Escrevi isto aqui, não para esnobá-los e sim para provocá-los, ouviram amigos do simpático ICAB? Já perceberam o quanto a provocação nos ajuda a progredir na vida? Portanto não se irritem, pelo contrário, agradeçam ao maluco aqui, por provocá-los. Quem avisa amigo é, dizia minha avó Balbina. Eu digo que quem provoca mais que amigo é. O provocador bem intencionado é um... é um... meta-amigo, digamos assim. Concordam? Silêncio? Não entendo esse silêncio. Estamos num forum de debates ou no meio do deserto de Atacama?
Extrato da Newsletter nº 13 de 27 de junho de 2008 - Projeto “Estrela d’Alva”
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