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Praia de Manguinhos, Búzios, 10 de abril de 2008, sexta-feira - 20:00 h
4° dia da sétima expedição de sete dias do corrente ano - tempo excelente
"Acabo de realizar, amigos, a melhor velejada da minha curta vida de velejador solitário (cinco anos). Parti às 14h 30 do Iate Clube de Rio das Ostras e atraquei ao cais novo de Manguinhos às 20h 30. Como dizer pra vocês, com palavras, dos inúmeros prazeres que essa homérica velejada de seis horas de duração me proporcionou?
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Tudo estava tão perfeito, a MAR, ligeiramente agitada por pequenas ondas de E, mais um suave swell de NE, o delicado e morno vento-brisa de E, o céu azul emoldurado por cúmulos de bom tempo. A luz doce do sol, filtrada por uma sutil névoa seca. E mais tarde, quando a noite caiu, a romântica lua em quarto crescente, acompanhada por milhões de cintilantes estrelas, mais o planeta Vênus, que todos sabem, é a estrela d'alva, sem aspas e com letras todas minúsculas. Porque "Estrela d'Alva" entre aspas e com iniciais maiúsculas é uma só, minha querida canoa alada.
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Minha felicidade foi tanta que vim acariciando a superfície macia e morna da água da MAR com a mão direita. Porque da MAR e não do MAR? Porque como disse na minha newsletter anterior o MAR pra mim e para os franceses é feminino em tudo. Ruído a bordo? Só dois. Ambos agradáveis. O da proa da minha canoa alada cortando as tranquilas ondas da MAR, mais o barulhinho gostoso da prancha de surf deslizando à flor d'água e seguindo obedientemente a "Estrela d’Alva", como o bezerrinho segue a vaca. Eu vim o tempo todo sentado confortavelmente no fundo da canoa, comendo, quando me dava fome, azeitonas-verdes ou maçãs-gala, olhando maravilhado a paisagem e me perguntando de tempos em tempos:
- Será que já morri e fui pro céu?
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Minha felicidade foi tanta que vim acariciando a superfície macia e morna da água da MAR com a mão direita. Porque da MAR e não do MAR? Porque como disse na minha newsletter anterior o MAR pra mim e para os franceses é feminino em tudo. Ruído a bordo? Só dois. Ambos agradáveis. O da proa da minha canoa alada cortando as tranquilas ondas da MAR, mais o barulhinho gostoso da prancha de surf deslizando à flor d'água e seguindo obedientemente a "Estrela d’Alva", como o bezerrinho segue a vaca. Eu vim o tempo todo sentado confortavelmente no fundo da canoa, comendo, quando me dava fome, azeitonas-verdes ou maçãs-gala, olhando maravilhado a paisagem e me perguntando de tempos em tempos:
- Será que já morri e fui pro céu?
Mas se vocês pensam que isto é tudo que me aconteceu de agradável ou emocionante ao longo desta última expedição, estão redondamente enganados. Leiam:
- Ultrapassei o “limite norte”, indo pela primeira vez até Rio das Ostras.
- Recebi três elogios entusiasmados, feitos à minha querida “Estrela d’Alva”, por três mulheres diferentes (coisa muito rara... as mulheres em geral adoram as lanchas a motor e menosprezam as canoas à vela...). Uma pescadora em Manguinhos. (-Que barquinho bonitinho moço!) Uma surfista na enseada da praia dos Ossos. (-Seu barco é lindo! - Não, não, a tal surfista não estava surfando, estava nadando... Porque na praia dos Ossos não tem onda pra se surfar.) E uma velejadora na enseada da praia de Armação de Búzios. (-Que maravilha sua batera à vela!)
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- Dormi sete noites na cama mais macia do mundo, a cama de um pequeno veleiro ancorado numa enseada tranquila. Quatro delas do jeito que mais gosto, ao relento.
- Assisti a cinco nasceres e a sete pores de sol.
- Sobrevivi a uma tempestade noturna na enseada da praia da Tartaruga, em Rio das Ostras.
- Fui atacado pela louca da prancha de surf em Rio das Ostras.
- Almocei no Icab a convite e em companhia do meu amigo Johnny Geribá.
- Vi trinta e cinco veleiros velejando.
- Velejei por alguns minutos em companhia do nosso amigo Joel Damasceno. Ele a bordo da sua nova batera à vela “Atrevida”, eu a bordo da minha companheira de sempre, a intrépida “Estrela d’Alva”. Porque intrépida? Porque ela jamais treme diante do perigo. Eu, já não posso dizer o mesmo de mim.
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- Vi o nosso amigo Quintão dando uma aula de vela a bordo do Ranger 22 “Xodó”, na enseada da praia de Manguinhos.
- Tomei um bom café feito pelo comodoro do Iate Club de Rio das Ostras, o sr Helinho, porque a secretária dele havia faltado ao trabalho por motivo de saúde.
- Examinei de perto o sofisticado (e segundo o Johnny, rapidíssimo) trimarã “Laura’s” (um projeto revolucionário) no Iate Clube de Búzios.
- Visitei pela primeira vez o providencial pier novo de Manguinhos. Cabo Frio precisa urgentemente de um igual.
- Tive, no mínimo, cinco idéias originais. Porque, como sabem, um veleiro navegando em solitário é uma não-máquina-de-pensar.
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- Velejei um total de 90 milhas sem poluir a água, o ar ou o som.
- Apertei pela primeira vez a mão do grande velejador Kiko “Brasil 1” Pelicano.
- Vi uma cena extraordinária e pra mim inédita, em Búzios. Uma jovem mulher velejando um laser em companhia dos seus dois filhinhos... Pensei imediatamente no nosso amigo Mario Hamers... O Mario me disse, há algum tempo, que a estratégia de marketing dele consistia em ensinar vela às crianças. Mario, que tal você ensinar vela às mães das crianças primeiro? De que adianta ensinar vela às crianças, se as mães das crianças assistiram filmes hollywoodianos de tragédias na MAR, quando adolescentes e não cessam de apavorar seus filhos com medos infundados? Detalhe importante. Antes de ensinar as mães das crianças a velejar, sugiro apresentá-las ao simpático Breno da Ventura Esportes. A especialidade do Breno é tirar o medo da MAR das pessoas. Medo inconsciente e infundado, é lógico. A terra é dez vezes mais perigosa que a MAR. E não sou quem diz isso? Só estou repetindo o que o Lars Grael e o Amyr Klink escreveram.
Eu e minha intrépida "Estrela d'Alva", a canoa alada - foto de Henrique Souza
- Circunaveguei enfim, em grande estilo a caprichosa ilha de Pargos, que estava devendo a vocês desde o ano passado. (Estou apostando uma boa garrafa de vinho com os amigos Johnny Geribá e Joel Damasceno das bateras à vela “Habilidosa” e “Atrevida”, como eles não conseguem circunavergar “Pargos” em menos de duas horas.)
- Entrei no canal de Itajurú à noite, com duas velas em cima, contra a corrente de maré e o vento de NE e consegui driblar dois pesqueiros dos grandes que estavam manobrando no meio do canal.
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- Enquanto isso vocês... por favor não falem, que vou adivinhar.
Enquanto isso vocês ficaram em terra, vivendo aquela vidinha medíocre de personagem de novela televisiva de sempre: Casa-trabalho. Trabalho-casa. Ou seja, intrigas mil, ação zero. Não é verdade?
- Não, por favor, não se ofendam, que este último parágrafo é pura provocacão! O que mais desejo é que vocês todos se rebelem contra a famigerada sociedade-de-consumo e venham me fazer companhia na MAR, sete dias sim, sete dias não, sempre a bordo de um veleiro e jamais de um barco a motor, que barco a motor, só serve pra poluir a água, o ar e o som. Ligados?
Bons ventos a todos e não se zanguem com minhas pseudo-insolências que, como escreveu o poeta, "só amor me move".
Fernando Costa
Newsletter n° 8 de 17 de abril de 2008 - projeto "Estrela d'Alva"
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