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domingo, 20 de janeiro de 2013

Todo veleiro deveria ser espartano como o de Jean-Pierre Dick - Diário da Vendée Globe - 72º dia - 21/01/2013

Jean-Pierre Dick - foto de Fernando Costa




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1 – O Rei Jean (Le Cam) comparou hoje a subida da quase infinita costa brasileira, a uma verdadeira guerra de trincheira.





2 – Armel "Chacal" Le Cléac'h, o perseguidor mais implacável de François Gabart continua firme e forte no seu encalço a apenas 150 milhas de distância. Os entendidos em Vendée Globe afirmam que nunca houve em toda a história da regata um duelo tão longo e acirrado. Se nenhum incidente perturbar o rápido avanço desses dois fogosos "cavalos-marinhos" é possível que eles regressem a
Sables d'Olonne durante o próximo fim de semana.




3 – Nesta última etapa da regata vários super-marujos-pseudo-solitários-da-planetária-Vendée-Globe enfrentam problemas, os mais diversos, a bordo dos seus sofisticados veleiros. Mike Golding, por exemplo, não pode mais contar com seus hidrogeradores e apela pro motor a explosão, para produzir a quantidade de eletricidade de que precisa, mas não sabe se a reserva de combustível, de que dispõe, será suficiente para navegar até Sables d'Olonne.





O Boa tarde amigas e amigos, deste nosso oceânico blog, que contabilizou exatos 3.000 posts, em 30 meses de existência. Ou seja, publicamos 100 posts por mês, todo mês, desde que o blog foi criado em 1º de julho de 2010, há dois anos e meio atrás. Ligados?

 Bem, o nosso professor convidado de hoje na UTSVG -  Universidade de Todos os Saberes da Vendée Globe é o francês Jean-Pierre Dick, que já nos deu oito aulas de como escalar o mastro de dez andares de altura, de um open 60 navegando em alta MAR, com tudo em cima. Confesso a vocês que escalei meu primeiro e único mastro de três andares, de um veleiro fundeado, num braço de canal tranquilo o ano passado e nem consigo imaginar a ousada façanha que o cascudíssimo Jean-Pierre Dick já realizou, oito vezes. 
Mas creio que ele tem algo ainda mais importante a nos ensinar na aula de hoje.
Tomem nota do título da lição.
"Todo veleiro deveria ser espartano."
A maioria dos velejadores brasileiros, pelo que pude observar, pensa o contrário.
Eu não, eu estou de pleno acordo com mestre Jean-Pierre Dick.
Pra mim o veleiro ideal deve ter casco leve e resistente. Ser ágil e fácil de manobrar. Possuir mastro indestrutível, mas leve. Contar com excelentes velas, sempre novas. Ter leme e bolina super-resistentes. E a título de conforto, apenas um beliche e um aparelho de som tocando clássicos. Mais nada. Nada mais. Porque o resto é supérfluo. Se você atulhar seu veleiro com móveis, eletrodomésticos e gadgets eletrônicos, ele fica lento, você fica obeso e perde a vontade de gozar dos maiores prazeres, que uma viagem por MAR, a bordo de um veleiro, pode lhe oferecer. Quais?
Dormir quando sentir sono.
Comer quando sentir fome.
Pescar quando desejar variar o cardápio.
Contemplar as paisagens marítimas noturnas ou diurnas, sempre novas e originais, embora os que não sabem ver, pensem que são parecidas e até iguais.
Ler.
Escrever.
Ouvir música.
Mas acima de tudo velejar por velejar, pensar e meditar.
Sim, porque o melhor templo budista é menos zen que um veleiro tripulado por um velejador solitário.
- O quê???!!!!!
Levar um aparelho de TV pra bordo de um veleiro e ficar assistindo telenovela ou filme hollywoodiano é pra mim, um absurdo elevado ao absurdo.
O veleiro do Jean-Pierre Dick é do jeito que gosto. Minimalista ou se preferirem espartano. Só possui o essencial. Acreditam que nem aquecedor ele tem a bordo, ele que acaba de cruzar os mares mais frios e tempestuosos do planeta. Acreditam?  Eu, que estou passando o inverno em Sables d'Olonne, a bordo do meu veleiro francês "Doliceyou", confesso que teria levado ao menos um aquecedor. Talvez seja justamente pela falta de um aquecedor que ele esteja tão exausto. Mas não podemos esquecer que ele já escalou oito vezes o mastro de dez andares de altura do seu bólido alado. É... pensando bem, retiro o que disse. Um bom veleiro deve ser 100% espartano. Porque todo luxo, pompa, beleza e circunstância a divina MAR nos oferece o tempo todo.

Bons ventos e até amanhã.

E por falar em bons ventos, Windguru está prevendo ventos de 39 nós com rajadas a 49 nós, para amanhã às 13 h, aqui em Sables d'Olonne. No momento já está rolando uns 42 nós na rajada. Será que eu e meu charmoso "Dolice You" sobreviveremos a esse novo furacão? Sei não.

Fernando Costa, contando o dia a dia da Vendée Globe pra você, diretamente de Sables d'Olonne, na costa oeste da França.






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