Arnaud Boissières, o velejador solitário de Akena Vérandas, que realiza uma elogiável campanha de combate ao câncer, que merece todo o nosso apoio. - Sables d'Olonne - França - foto de Fernando Costa
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1 – François Gabart, ele, sempre ele, o garoto-bom-de-vela, o caçula-debutante-líder-e-recordista da atual edição da Vendée Globe, já cruzou o Equador Terrestre, sendo o primeiro dentre os 12 concorrentes, que ainda tentam chegar ao tope do "Everest dos Mares", a reingressar no hemisfério norte. Diante dele porém um grande obstáculo se apresenta, a cabulosa ZCIT - Zona de Convergência Intertropical ou se preferirem "Doldrums" ou se preferirem "le-pot-au-noir". Detalhe importante, só para aqueles que adoram marcas e recordes. François Gabart acaba de diminuir o tempo de singradura Les Sables d'Ollone-Equador em mais de cinco dias. Ah, querem saber o tempo exato? Tomem nota! 66 dias 1 hora e 39 minutos. Também querem conhecer o tempo que Desjoyeaux fez há
quatro anos atrás. Perfeitamente. Tomem nota! 71 dias 17 horas e 12 minutos. Satisfeitos?
quatro anos atrás. Perfeitamente. Tomem nota! 71 dias 17 horas e 12 minutos. Satisfeitos?
2 – Enquanto isso Tanguy de Lamotte foi hoje o penúltimo dos super-marujos-pseudo-solitários da Vendée Globe a dobrar todo feliz e pela primeira vez na vida, o famigerado Cabo Horn.
3 – Na esteira do carismático "Initiatives-Coeur", de Tanguy de Lamotte, que já salvou nada menos que 7 (sete) crianças carentes e doentes da morte iminente, vem "o último dos moicanos", o igualmente campeão mundial de simpatia Alessandro di Benedetto, que não sei se vocês sabem, perdeu o mastro do seu pequenino "Findomestic" da última fez que se aproximou do "pedregulho do fim do mundo" ou se preferirem do "ferrão do escorpião das Américas" ou se preferirem do "cemitério de marinheiros". Quando isso? Em 30 de março de 2010. Torçamos para que desta feita, nada de mal lhe aconteça.
Vamos ver se vocês adivinham o nome do nosso professor convidado de hoje na UTSVG - Universidade de Todos os Saberes da Vendée Globe. Vou dar-lhes nada menos que dez dicas. Prestem, por favor, atenção.
1 - Ele é o único dos participantes da atual edição da Vendée Globe que reside em Sables d'Olonne, no charmoso bairro La Chaume, onde já estive hospedado, no pequeno e familiar Hotel de la Tour.
2 - Ele participou da sexta edição da Vendée Globe.
3 - Ele sofreu uma doença grave na infância.
4 - Ele é um humorista nato.
5 - Seu apelido é "Cali".
6 - Foi discípulo de Yves Parlier e Catherine Chabaud.
7 - Foi sétimo colocado na edição anterior da Vendée Globe.
8 - Já participou de 3 Solitaires du Figaro.
9 - Já participou de 3 Mini-Transats.
10 - Seu atual open 60, herdado de Vincent Riou, chamava-se "PRB" e atualmente "Akena Vérandas".
Quem disse que o nome do nosso conferencista de hoje é Arnaud Boissières, acertou na mosca.
Agora vejamos qual importante lição ele tem a nos dar.
Uma lição óbvia, que muito marujo experiente costuma negligenciar. A seguinte:
Quando partir para uma longa travessia marítima, comece navegando devagar, bem devagar e vá acelerando gradativamente à medida que avançar. Acelerar aos poucos e gradativamente. Entenderam? Velas sempre rizadas, mesmo que o vento não seja dos mais fortes. Escotas folgadas e leme a meio.
Só isso. Mais nada.
Senão vejamos, enquanto que 13 velejadores abandonaram a edição anterior da regata, enquanto que 8 velejadores já abandonaram a atual edição da Vendée Globe, Arnaud "Cali" Boissières continua na raia firme e forte, seguindo sempre em frente e navegando a cada dia mais rápido, à medida que se adapta ao barco, à medida que se acostuma com a vida de bordo, à medida que reencontra suas marcas, à medida que deixa de ser macróbio humano e vira uma mistura de peixe com albatroz mais golfinho. Nada de pressa, nada de afobação, nada de precipitação. Pra que pressa se o caminho é longo? Pra que pressa se a rota é quase infinita? Pra mim esse é um dos maiores segredos da navegação oceânica à vela, de longo curso. Começar pianinho e ir aos poucos acelerando... Acelerando... Acelerando gradativamente. Sem saltos, sem sobressaltos, até chegar à maior velocidade segura de que somos capazes, com o veleiro, cuja cana do leme temos na mão.
Minha querida avó Balbina resumiria a lição de mestre "Cali" assim:
"Devagar se vai ao longe."
Pra que pressa, amigos, se no fim do caminho quem nos espera é sempre ela, a malvada, a perversa, a impiedosa morte.
E se não for a morte que nos mata, será forçosamente a pseudo-morte que mata nosso indizível prazer de velejar na MAR, pondo fim à nossa travessia ou à circunavegação de mais uma ilha. Mas aí vocês dirão. Com uma filosofia tal, ninguém vence regata. Mas quem foi que disse que mestre "Cali" pretendia vencer a Vendée Globe. O objetivo dele era e é bem menos ambicioso e mais filosófico. Ele só pretendia fazer melhor do que fez da última vez. Só isso. E isso é o bastante, porque nesta vida, amigos, só faz sentido existir pra melhorar ou circunavegar uma nova ilha. Se você viver sua vida sempre melhorando, sempre evoluindo, sempre progredindo naquilo que gosta de fazer, sua felicidade está garantida. Pra que mais? Porque querer vencer a qualquer custo a regata, se participar simplesmente da regata, já é extremamente agradável? Hein? Outra coisa. Algum de vocês já viu um open 60 de última geração de perto? Eu já. Vi, toquei, fotografei todos os 20 open 60 que participam ou participaram da atual Vendée Globe. Esses barcos são lindíssimos, amigos. São sofisticadíssimos. São enormes. São velozes. São todo poderosos. São o máximo. Então, se o humilde canoeiro que vos fala, fica feliz de circunavegar a ilha Comprida a bordo sua minha humilde, lenta e pequenina "Estrela d'Alva", porque o Arnaud Boissières, mais todos os seus 11 colegas super-marujos-pseudo-solitários da Vendée Globe, não podem ficar felicíssimos com o raro privilégio de dar um rolé no globo terrestre, que deveria chamar-se aquático, a bordo de um desses belíssimos bólidos alados? Hein? Última pergunta. Pra que se matar tentando alcançar o lugar mais alto do pódio, se para o alegre e democrático povo de Sables d'Olonne, campeão é todo aquele que regressa ao belo porto da cidade, após ter circunavegado o planeta? Hein? Você chegando em primeiro ou em último a festa será a mesma. Dizem alguns até que a festa que fazem em homenagem ao último é ainda mais animada que a festa que fazem pra recepcionar o primeiro.
Bons ventos e até amanhã.
Fernando Costa, contando o dia a dia da Vendée Globe pra você, diretamente de Sables d'Olonne, na costa oeste da França.
1 - Ele é o único dos participantes da atual edição da Vendée Globe que reside em Sables d'Olonne, no charmoso bairro La Chaume, onde já estive hospedado, no pequeno e familiar Hotel de la Tour.
2 - Ele participou da sexta edição da Vendée Globe.
3 - Ele sofreu uma doença grave na infância.
4 - Ele é um humorista nato.
5 - Seu apelido é "Cali".
6 - Foi discípulo de Yves Parlier e Catherine Chabaud.
7 - Foi sétimo colocado na edição anterior da Vendée Globe.
8 - Já participou de 3 Solitaires du Figaro.
9 - Já participou de 3 Mini-Transats.
10 - Seu atual open 60, herdado de Vincent Riou, chamava-se "PRB" e atualmente "Akena Vérandas".
Quem disse que o nome do nosso conferencista de hoje é Arnaud Boissières, acertou na mosca.
Agora vejamos qual importante lição ele tem a nos dar.
Uma lição óbvia, que muito marujo experiente costuma negligenciar. A seguinte:
Quando partir para uma longa travessia marítima, comece navegando devagar, bem devagar e vá acelerando gradativamente à medida que avançar. Acelerar aos poucos e gradativamente. Entenderam? Velas sempre rizadas, mesmo que o vento não seja dos mais fortes. Escotas folgadas e leme a meio.
Só isso. Mais nada.
Senão vejamos, enquanto que 13 velejadores abandonaram a edição anterior da regata, enquanto que 8 velejadores já abandonaram a atual edição da Vendée Globe, Arnaud "Cali" Boissières continua na raia firme e forte, seguindo sempre em frente e navegando a cada dia mais rápido, à medida que se adapta ao barco, à medida que se acostuma com a vida de bordo, à medida que reencontra suas marcas, à medida que deixa de ser macróbio humano e vira uma mistura de peixe com albatroz mais golfinho. Nada de pressa, nada de afobação, nada de precipitação. Pra que pressa se o caminho é longo? Pra que pressa se a rota é quase infinita? Pra mim esse é um dos maiores segredos da navegação oceânica à vela, de longo curso. Começar pianinho e ir aos poucos acelerando... Acelerando... Acelerando gradativamente. Sem saltos, sem sobressaltos, até chegar à maior velocidade segura de que somos capazes, com o veleiro, cuja cana do leme temos na mão.
Minha querida avó Balbina resumiria a lição de mestre "Cali" assim:
"Devagar se vai ao longe."
Pra que pressa, amigos, se no fim do caminho quem nos espera é sempre ela, a malvada, a perversa, a impiedosa morte.
E se não for a morte que nos mata, será forçosamente a pseudo-morte que mata nosso indizível prazer de velejar na MAR, pondo fim à nossa travessia ou à circunavegação de mais uma ilha. Mas aí vocês dirão. Com uma filosofia tal, ninguém vence regata. Mas quem foi que disse que mestre "Cali" pretendia vencer a Vendée Globe. O objetivo dele era e é bem menos ambicioso e mais filosófico. Ele só pretendia fazer melhor do que fez da última vez. Só isso. E isso é o bastante, porque nesta vida, amigos, só faz sentido existir pra melhorar ou circunavegar uma nova ilha. Se você viver sua vida sempre melhorando, sempre evoluindo, sempre progredindo naquilo que gosta de fazer, sua felicidade está garantida. Pra que mais? Porque querer vencer a qualquer custo a regata, se participar simplesmente da regata, já é extremamente agradável? Hein? Outra coisa. Algum de vocês já viu um open 60 de última geração de perto? Eu já. Vi, toquei, fotografei todos os 20 open 60 que participam ou participaram da atual Vendée Globe. Esses barcos são lindíssimos, amigos. São sofisticadíssimos. São enormes. São velozes. São todo poderosos. São o máximo. Então, se o humilde canoeiro que vos fala, fica feliz de circunavegar a ilha Comprida a bordo sua minha humilde, lenta e pequenina "Estrela d'Alva", porque o Arnaud Boissières, mais todos os seus 11 colegas super-marujos-pseudo-solitários da Vendée Globe, não podem ficar felicíssimos com o raro privilégio de dar um rolé no globo terrestre, que deveria chamar-se aquático, a bordo de um desses belíssimos bólidos alados? Hein? Última pergunta. Pra que se matar tentando alcançar o lugar mais alto do pódio, se para o alegre e democrático povo de Sables d'Olonne, campeão é todo aquele que regressa ao belo porto da cidade, após ter circunavegado o planeta? Hein? Você chegando em primeiro ou em último a festa será a mesma. Dizem alguns até que a festa que fazem em homenagem ao último é ainda mais animada que a festa que fazem pra recepcionar o primeiro.
Bons ventos e até amanhã.
Fernando Costa, contando o dia a dia da Vendée Globe pra você, diretamente de Sables d'Olonne, na costa oeste da França.
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