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quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Pobre inseto pousado num graveto flutuante - antigos diários


"Estrela d'Alva"    foto - Henrique Souza


Salve amigos aventureiros da MAR!

Fui buscar no fundo do baú uma estoria antiga pra contar pra vocês. Página do meu diário, do tempo em que eu ainda não sabia dormir a bordo da minha querida Estrela d'Alva. Nesta época eu deixava minha canoa alada ancorada numa enseada tranquila e pedia ajuda a um barraqueiro de praia, pra guardar minha bagagem. Só voltava pra velejar quando o estado da MAR e a força e direção do vento eram favoráveis à circunavegação de uma nova ilha. Depois descobri que é fácil
dormir a bordo e abandonei esta prática complicada.


4/10/2004


- Saí de casa (Cabo Frio) hoje debaixo de chuva. O céu estava todo encoberto de nuvens cinzas, mas quando cheguei a Búzios (praia de João Fernandes) tive uma boa surpresa. O vento soprava pela primeira vez de NW, desde que cheguei à esta bela península. A "Estrela d'Alva" estava bastante adernada, cheia d'água da chuva forte que havia caído durante toda noite. Esgotei a água do ventre da Estrela o mais rápido possível e embarquei com toda a minha bagagem (que estava guardada na "Barraca do Nego", que é branco). Depois tive a coragem de içar as duas velas usadas e barrigudas da minha casquinha-de-noz e rumar para a ilha de Âncora, distante 5 milhas (aproximadamente 10 km) de terra... Sim amigos, tive a imensa coragem de ir além do medo. Algumas vagas grandes demais pro tamanho da minha embarcação faziam-na balançar e caturrar comigo em cima, mais parecido com "um inseto pousado num graveto flutuante", no dizer de mestre Joshua Slocum. Após uma hora de navegação consegui cruzar o través da ilha de Gravatá. Algumas gotas de chuva caídas de pequenas nuvens esparsas pelo céu molharam-me a cabeça, que deveria ter pensado melhor antes de partir para uma tal aventura...


Caminho percorrido por mim a bordo da "Estrela d'Alva" em 4/10/2004


Aos poucos o vento começou a enfraquecer até que chegou praticamente a zero, quando aproximava-me da ilha de Âncora... Que maravilha, amigos olhar pela primeira vez de perto esta ilha selvagem, que eu sempre olhei de longe perguntando-me:
- Será que algum dia conseguirei conquistar aquela lá ?
 Fui obrigado a contornar a ilha a remo, porque o vento perdeu quase toda sua força. O que mais me impressiona nestas ilhas da Costa do Sol, colegas velejadores, é que a maioria delas não tem praias. Se você naufragar nas imediações de uma delas, talvez não consiga subir nas pedras, que as circundam, sempre chicoteadas pela MAR. Triste, não? Você nadar até uma ilha e morrer esfolado nas pedras. Devido à falta de vento, fui obrigado a remar até a praia da Ferradura, porque a calmaria chegou pra ficar. No caminho passei bem perto da ilha Filhote, onde uma embarcação a motor ofereceu-me reboque até Arraial do Cabo. Agradeci a ajuda e continuei em frente, mas imagino que se tivesse de remar mais meia milha, talvez tivesse desmaiado. Estava exausto, quase exangue. 
- Querem saber qual a distância da ilha de Âncora à praia da Ferradura?
-  Acabo de verificar no Google Earth: 13,77 km em MAR aberto ou se preferirem 7 milhas. 
Cheguei à praia da Ferradura muito tempo depois do crepúsculo e passei a noite na barraca do meu amigo Expedito Natureza, que no dizer da minha avó Balbina, já foi desta pra melhor faz tempo. RIP amigo.

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