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terça-feira, 21 de setembro de 2010

Muito mais estrelas - diário da Estrela - newsletter nº 17/2008



Quando por uma razão qualquer, eu arribo, chegando até à margem, em companhia da minha querida e inseparável “Estrela D’alva”, os sempre curiosos brasileiros, meus amigos, meus irmãos, meus compatriotas queridos me perguntam:
  -  Qual o seu nome?
Fernando
 - Vai pescar Fernando?
- Só baleia e tubarão dos grandes, respondo brincando.
 -  Pescou o quê Fernando? 
-  Belas nuvens!
  - De que você alimenta a bordo da sua batera à vela?
Basicamente de frutas, maçãs são minhas favoritas, mas às vezes como peixe cru. 
  - Fernando, como é que você dorme a bordo da “Estrela d’Alva”?
- Dentro de um saco de dormir, deitado sôbre um retângulo de espuma com três dedos de espessura, por cima de um isolante térmico.
  - Por onde você navega? 
- Entre os paraísos de Búzios e Arraial do Cabo, partindo de Cabo Frio, sem esquecer a colossal lagoa de Araruama, que infelizmente foi poluída pelo antropóide-falante. Mas este ano me aventurei até Rio das Ostras.
E quanto às necessidades fisiológicas...?
Tinham de fazer essa pergunta! Sempre me fazem essa pergunta. Procuro seguir as normas sanitários francesas para barcos na MAR, porque pesquisei as brasileiras e ainda não as encontrei.


  Agora vou fazer a mim mesmo uma pergunta que nunca me fizeram:
-  Fernando, viver na MAR é melhor que viver em terra?
-  Muito melhor, no mínimo dez vezes melhor. Leiam:
1 – A MAR é silenciosa, ao contrário da barulhenta cidade, onde o infernal ruído dos motores, da sub-música que se toca alto em toda parte, da conversa sem fim dos antropóides-falantes e da propaganda política eleitoral não nos deixa jamais pensar, nem dormir direito. E dormir e pensar são dois dos maiores prazeres desta vida.
2 – A MAR é bem menos quente que a Terra. Com essa idéia absurda de cortar as árvores e asfaltar as ruas, a cidade tornou-se um verdadeiro forno crematório, que vai nos cozinhando aos poucos.
3 – Enquanto a cidade cheira mal, a divina MAR cheira deliciosamente bem em toda parte. A MAR, amigos, à semelhança de uma mulher sadia e caprichosa, tem um cheirinho bom e sempre diferente em cada lugar do corpo. É verdade, cada braço de MAR, cada enseada, cada trecho de praia exala um aroma original e sempre saboroso. Isso, é lógico, quando um bando de meta-orangotangos-vagabundos não poluem a área em questão. Ofendida porque chamei o bicho-homem de meta-orangotango-vagabundo amiga leitora? Então me diga de que forma devo chamar um ser que polui a sua própria água de beber? Ou a água onde ele e sua namorada vão nadar. A água em que seus filhos vão velejar? Quer que nos chame de homo sapiens, é? Me perdõe mas não o merecemos mais não. Somos todos nós, uns mais outros menos, nada além de meta-orangotangos-vagabundos.


4 – O horizonte na MAR é ampla e mede exatos 360°. Enquanto que na cidade foi reduzido a minguados 50°.
 
5 – Navegando na MAR, a cada dia você pode acordar diante de uma paisagem diferente. Enquanto que olhando pela janela da casa mais cara de Cabo Frio, você vê exatamente a mesma paisagem há anos, eu de bordo da minha humilde “Estrela d’Alva”, acordo e vislumbro, hoje a ilha do Japonês, amanhã a prainha na entrada de Arraial do Cabo e depois de amanhã, se me der na telha e o vento for generoso, a encantadora enseada da praia da Ferradura em Búzios. Sou portanto o miserável mais rico do mundo, amigos, e toda minha fortuna se resumo num simples e inteligente barco à vela. Concordam que o barco à vela é a mais inteligente invenção da doida raça humana?
 
6 – A MAR é mais segura que a cidade: mil vezes menos acidentes, roubos, assaltos, seqüestros e quase que ausência de tiroteios.
 
7 – O céu marítimo possui amplitude máxima, meia esfera celeste e muito mais estrelas. Porque? Porque a escuridão que reina na MAR, à noite, não ofusca a visualização dos astros.


8 – A MAR fornece alimento gratuitamente, coisa que a terra, deixou de fazer há tempos.
9 – Morrer na MAR, tem, normalmente, muito mais charme que morrer atropelado num cruzamento qualquer, de uma cidade qualquer.
 
“É doce morrer no mar, nas águas verdes do mar.”

Dorival Caymmi

 
10 – Estatiscamente as pessoas que você encontra na MAR, são muito mais interessantes, corajosas e habilidosas do que as que você encontra em terra. Já dizia mestre Platão: “Exitem tres tipos de gente, os vivos, os mortos e os que andam na MAR.”
 
Entenderam porque eu já passei metade desse ano dentro d’água?
 
E vocês? Esperando o quê pra trocarem a quente, barulhenta, fedorenta, claustrofóbica e insegura cidade pela paradisíaca MAR? Hein?
 
Fernando “Estrela d’Alva” Costa, “o maluco da canoa alada”, como alguns me chamam aqui em Cabo Frio.

Extrato da newsletter n° 17 de 4 de setembro de 2008 - projeto "Estrela d'Alva".

foto: - Fernando Costa

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