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terça-feira, 31 de agosto de 2010

"Mar Aberto" - filme - newsletter nº 13/2008


Salve colegas marujos!

O filme conta a história de um casal que planeja uma manhã de mergulho nas suas curtas férias. Tudo sairia perfeito, se o barco da excursão não os tivesse esquecido em plena MAR aberta.

http://www.imdb.com/title/tt0374102/
Morrerei na saudade de ver a obra prima, que um bom diretor de cinema faria, com uma estória tão tragicamente simples quanto esta. Estórias simples e curtas só grandes diretores sabem contar. E é por isso que a pobre-rica Hollywood atual só faz filme com enredos rebuscados e longos. Pensando melhor e indo mais fundo na fantasia o que eu gostaria mesmo, era de assistir a seis versões diferentes de "MAR Aberta", filmadas pelos grandes Werner Herzog, Stanley Kubrick, Orson Welles, Fritz Lang, Glauber Rocha e Igmar Bergman.



A estória de "MAR Aberta", contada por um grande diretor, amigos, tornar-se-ia uma estonteante paráfrase da estória da humanidade sobre a Terra. Os terráqueos, à semelhança do inexpressivo casal de "MAR Aberta", foram esquecidos por deus no meio do oceano do cosmos infinito. Possibilidade de resgate? Mínima. Possibilidade de nadar até a margem? Nenhuma. Possibilidade de sobrevivência? Nula. O sol vai explodir em breve e fim de papo. Este em breve entenda-se como 5 bilhões de anos, não se assustem. Mas bem antes disso nós mesmos teremos destruído o planeta, não é verdade? Absurdo semelhante ao do marujo que faz um furo no casco do próprio navio, em alta MAR, e depois se surpreende com o iminente naufrágio.
Infelizmente o diretor de "MAR Aberta", cujo nome não merece citação, não sabe nada sobre a difícil arte de contar estórias simples. Contar estórias simples e curtas é mais difícil que velejar com vento fraco e variável em direção, em MAR encapelada, concordam?

Interessados em ler algumas notas que tomei durante a assistência do filme? Ei-las:


1 - O filme não possui "crescendo" e uma estória sem "crescendo" equivale a um ser invertebrado, o que no sentido literal significa sem coluna dorsal e no sentido figurado sem caráter. A propósito do "crescendo dramático" que é o que mais importa num espetáculo cênico, o medíocre casal de atores começa o filme com uma cara e o termina com a mesma cara. A mesma cara inexpressiva do princípio. Coisa absurda, não? Dois seres humanos viverem a maior das tragédias, diante dos nossos olhos, sem expressar no rosto, que é o espelho da alma, o que lhes vai no âmago.

2 - Se esse filme tivesse sido bem feito, as pessoas que o assistissem, nunca, jamais, em tempo algum teriam coragem de se afastar mais de dez metros de qualquer praia.

3 - Apesar de ruim o filme é apavorante. Não, não mesmo, não senti um pingo de medo da MAR vendo esse beócio filminho de tragédia na MAR. O que me dá medo é estando na MAR, pensar na situação que o filme apresenta. Na verdade o que realmente me apavora neste filminho desprezível, é o erro do marujo responsável pela contagem dos mergulhadores. Isso é que me mata de medo. O erro na MAR. E não a MAR em si, que não é e nunca foi assassina. Isto me faz lembrar da melhor lição que recebi na excelente escola de vela francesa, Les Glénans (http://www.glenans.asso.fr/), e que partilho agora com vocês. Tomem nota que pode salvar-lhes a vida. "Marinheiro bom é marinheiro seco." Tenderam?

4 - A cena em que o casal adormece e ambos, macho e fêmea se perdem um do outro é o cúmulo da idiotice. Onde já se viu duas pessoas extraviadas no meio da MAR, adormecerem ambas ao mesmo tempo, em pleno auge do stress. Quem é que consegue dormir com uma tonelada de adrenalina circulando no sangue, gente? O famoso sono do náufrago, que eu saiba só advém na fase final da hipotermia, ou será que me engano?




5 - Fico me perguntando pra que tantos tubarões em cena? Na verdade nenhum tubarão deveria aparecer neste filme. A terrivelmente trágica e simples estória desse filme prescinde da presença de tubarões. Eu, autor do roteiro de "MAR Aberta", deixaria os tubarões de lado e se tivesse de incluí-los, incluiria um só. Pra quem tá perdido em alta MAR, amigos marujos, basta a passagem longínqua, da suposta barbatana, de um pequenino tubarão, pra se entrar em pânico. Esse casal deveria morrer, ele de hipotermia, e ela bem antes dele de síncope cardíaca ao avistar a barbatana de um golfinho, pensando tratar-se de um tubarão. Aquele cardume de tubarões promíscuos que o filme mostra esbarrando, esfregando-se, roçando as barbatanas nas pernas do inexpressivo casal de "MAR Aberta", só entrou em cena pra distrair o espectador inocente da falta de talento da equipe, que produziu um dos piores filmes que já vi. Não fosse a intenção de comentá-lo pra vocês jamais teria ido além do quinto minuto. Gosto de perder meu precioso tempo de vida não. E vocês?
De zero a dez estrelas, menos três.

Bons ventos a todos, e que Netuno os livre de serem esquecidos no meio do seu salgado reino, por um marujo desatento. Desatento é pouco. Por um marujo homicida.



Extrato da Newsletter nº 13 de 27 de junho de 2008 - Projeto “Estrela d’Alva”

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