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sexta-feira, 20 de agosto de 2010

comida oriental, ópera, sexo e vela

“E assim seguimos nosso caminho, por este MAR, de longo, até que, terça-feira das Oitavas de Páscoa, que foram vinte e um dias de Abril, estando da dita ilha obra de 660 ou 670 léguas, segundo os pilotos diziam, topamos alguns sinais de terra, os quais eram muita quantidade de ervas compridas, a que os mareantes chamam botelho, assim como outras a que dão o nome de rabo-de-asno. E quarta-feira seguinte, pela manhã topamos aves a que chamam fura-buxos.
Neste dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra!
Primeiramente dum grande monte, mui alto e redondo; e doutras serras mais baixas ao sul dele; e de terra chá, com grandes arvoredos: ao monte alto o capitão pôs nome - o MONTE PASCOAL e à terra - a TERRA DA VERA CRUZ.”



Relendo este trecho da famosa carta que Pero Vaz de Caminha escreveu ao rei Dom Manuel I ( acho essa carta curiosíssima ) , sobre o descobrimento do nosso querido Brasil me lembrei do texto “O Paradoxo do Pais Aquático” que prometi comentar na minha newsletter anterior. Estão ligados? A hora é esta e a pergunta a seguinte:
Porque um país, como o Brasil, que reúne as condições ideais de navegabilidade o ano todo e ao longo de uma costa tão linda e extensa, não se tornou o nirvana/polo da vela mundial? Noutros termos. Porque o brasileiro ainda não aprendeu a gostar de velejar? Hein? Porque? Decifremos de uma vez por todas este enigma!
Pensei, pensei muito a bordo da minha canoa alada e cheguei à seguinte conclusão.
A vela, como a ópera, a comida oriental e o sexo, quatro das melhores coisas desse mundo, dependem de uma boa iniciação para serem apreciadas na sua justa medida.
Acontece que iniciar alguém na prática ou “degustação” de uma dessas atividades requer uma sensibilidade, uma dedicação e uma cultura que a maioria dos pretensos mestres não possuem. Resumindo. Se você tiver a capacidade de bem iniciar uma pessoa, de preferência durante a infância, na prática da vela, ela se torna fatalmente um velejador ou velejadora tão apaixonados e assíduos quanto Lars Grael, Amyr Klink e Robert Scheidt o são. Concordam? Concordam que o brasileiro ainda não descobriu a vela, apesar de viver ao longo da costa ideal para a prática da vela, por falta de bons iniciadores? Sim porque eu, Fernando “Estrela d’Alva” Costa afirmo que é impossível, eu disse impossível, que alguém que tenha sido bem iniciado na vela, não se torne um fervoroso e definitivo praticante desta suprema arte zen que os japoneses esqueceram de catalogar.


Velejar, amigos... Velejar é... Velejar é o máximo! Vou confessar uma coisa pra vocês. Andamos eu e o Fausto de Goethe à procura do diabo, pra trocar nossas almas pela mágica idade dos sete anos, idade em que o Bernard Moitessier e o Eric Tabarly aprenderam a velejar. Idade, que lástima, em que a infeliz Isabella Nardoni foi covardemente assassinada pelos pais. Porque adoraria voltar aos sete anos? Pra começar a velejar aos sete anos e ser mil vezes mais feliz do que tenho sido, eu que só aprendi a velejar aos 45. Se vocês tivessem visto, como eu vi, a felicidade estampado na carinha do casal de filhos do meu amigo Sergio Gomes do projeto “Três no Mundo”, quando eles passaram por Cabo Frio há um ano atrás, vocês entenderiam o que quero dizer. Maldito seja o sistema de ensino brasileiro que não nos ensina a velejar a partir dos 7 anos de idade. Em vez disso nos fecha numa entediante sala de aula, onde sacrificamos milhares de preciosas horas de vida copiando bobagens do quadro negro. A melhor escola desse mundo, amigos, é um barco à vela. E digo mais, todo tempo passado longe de um barco à vela é tempo perdido. Será que exagerei? Talvez... Todo novo apaixonado exagera quanto aos méritos e qualidades do objeto do seu amor. É natural. Cabe ao razoável leitor deduzir. Mas que o barco à vela é a mais inteligente invenção da “doida raça humana”, disso não abro mão. Mais inteligente que o avião? Sim, sim, sim. Se o planador conseguisse levantar vôo, sem o auxílio de uma avião a motor, o planador seria mais inteligente que o barco à vela, como não é o caso...
Bons ventos a todos

Fernando Costa

Extrato da newsletter n° 10/2008 de 15 de maio de 2008 - projeto "Estrela d'Alva"

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