110º dia
vendée globe
transar velejando
Steve White, o mais brasileiro dos ingleses desfilando ao longo da Marques de Sapucaí aquática de Sables d'Olonne.
Salve amigas e amigos velejadores
Chegou! Chegou e chegou de forma bastante original e despretensiosa, o protagonista de uma das mais incríveis estórias da incrível, fantástica, extraordinária Vendée Globe. Steve White, vulgo Morcego, acaba de cruzar, amigos, a linha de chegada do “Everest do Mares”, diante de uma Sables d’Olonne espantada, encantada, maravilhada.
Milhares de fãs vieram recepcioná-lo e um grupo deles exibia um grande cartaz no qual se lia. “Obrigado Steve, você nos fez sonhar”. Detalhe: Arnaud Boissières, o sétimo colocado, veio recepcioná-lo dentro d’água. Surpreendente essa performance de Steve “Morcego” White! Um oitavo lugar, que na minha escala particular de valores vale tanto ou mais que o
primeiro de Michel Desjoyeaux.
A amiga leitora já deve ter percebido que sou apaixonado pelas MIL E UMA NOITES, não? Pois bem, eu adoraria que as MIL E UMA NOITES fossem infinitas e estivessem disponíveis on line, num imenso site, tipo o da maravilhosa Wikipedia. Isso em todas as línguas ainda em uso no planeta Terra, para que toda vez que alguém tivesse notícia de uma estória realmente fantástica, pudesse registrá-lo no interminável compendio. Se querem saber, a primeira estória que eu incluiria neste novo livro virtual e interativo das MIL E UMA NOITES seria a da participação do Steve White nesta 6ª edição da Vendée Globe. Estória assombrosa e das mais insólitas. Leiam alguns tópicos que selecionei pra vocês:
A grande paixão do Steve White eram as corridas de cavalo.
Steve White treinou pra ser jóquei.
Despois trabalhou na restauração carros antigos.
Steve White descobriu a vela há apenas 12 anos atrás, pelas mãos do seu amigo Richard Heaton.
- Vamos dar uma velejada Steve?
- Velejar? Nunca subi a bordo de um veleiro na minha vida Richard.
- Não sabe o que está perdendo Steve.
- É bom é?
- Bom é pouco diga ótimo, diga excelente, diga magistral. Velejar é a segunda melhor coisa desse mundo.
- E qual seria primeira?
- Transar velejando.
- Hummmm vou contar isso pra Kim. O problema é que tenho medo da MAR.
- Aposto que tem medo da MAR porque não sabe nadar.
- Tem razão Richard.
- Aprenda a nadar que lhe ensino a velejar.
- E quanto tempo leva pra se aprender a velejar?
- Quinze minutos.
- E pra se aprender a velejar bem?
- Uma vida inteira não é suficiente.
- Legal, vou aprender a nadar e depois lhe procuro Richard.
- Fechado Steve!
Steve White aprendeu a nadar, depois a velejar e três meses depois já velejava melhor que seu mestre e amigo Richard.
Steve White participou de sua primeira Vendée Globe apenas doze anos após sua primeira velejada.
Três semanas antes do início da Vendée Globe a situação financeira dos White era insustentável. Quase perderam a casa, hipotecada para financiar seu velho open 60.
No apagar das luzes uma fada madrinha ligou e disse:
- Continuem a preparar o veleiro que eu me encarrego da grana.
E foi graças à fundação caritativa “Toe in the Water” que Steve White pode enfim participar da Vendée Globe.
No entanto menos de um mês antes do início da regata seu barco estava todo desmontado num estaleiro de Sables d’Olonne.
Tiveram que realizar em três semana a reforma que deveria ter sido feita em três meses.
O antigo mastro foi trocado às pressas por um novo recém-adquirido.
No momento da partida equipamentos ainda não instalados, peças sobressalentes, ferramentas e gêneros alimentícios empilhavam-se no convés, embarcados que foram no apagar das luzes.
Steve White só recebeu o software de navegação pouco antes de largar a última espia.
Pra lhe dar sorte, sua esposa Kim havia pintado uma porção de morcegos no interior da cabine de “Toe in the Water”.
No primeiro dia de regata tudo correu bem.
No segundo um incêndio irrompeu a bordo do seu antigo open 60, construído em 1998.
Contra todas as expectativas Steve White, que é vegetariano e se alimentou de uma dieta à base de ovos e batatas, acaba de completar o imenso percurso da Vendée Globe, tendo regressado à Sables d’Olonne com seu veleiro em excelentes condições. Bem melhor do que quando partiu.
Ficou faltando dizer uma porção de coisas interessantes sobre o cascudo e simpático Steve White, mas como o autor não deve surrupiar do leitor o raro prazer de garimpar novas pepitas de ouro durante a pesquisa, paro por aqui e forneço-lhes mais uma vez o endereço do site da Vendée Globe, onde vocês poderão ler e ver dezenas de artigos, fotos e vídeos sobre a ousada e bem sucedida saga de Steve “Morcego” White, o ganhador do prêmio “Estrela d’Alva” desta 6ª edição da Vendée Globe: uma bandeirola em cetim salmão com a logomarca da minha humilde canoa alada, que pretendo enviar-lhe pelo correio.
http://www.vendeegl obe.org/fr/
Bons ventos amigos e amigas velejadoras
Fernando “Estrela d’Alva” Costa
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