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domingo, 14 de outubro de 2012

(25/2/2009) - Violentos tsunamis artificiais - Diário da Vendée Globe 2008/09 - post 109





109º dia
vendée globe
violentos tsunamis artificiais

Para alegria do seu único filho e quatro esposas. Digo, para alegria da sua esposa Kim e dos seu quatro filhos, Steve White chegará a Sables d’Olonne amanhã de manhã após 108 dias consecutivos de mar em solitário.

Salve amigas e amigos velejadores

TRILHA SONORA DA MENSAGEM:

Para ouvir velejando ao sabor de qualquer tipo de vento, bem longe da costa, após o décimo dia de uma travessia oceânica em solitário. Uma das mais belas composições do genial Johannes Brahms. Aqui vai só o primeiro movimento. Pesquisem e ouçam a sinfonia inteira. Belíssima!!!

http://www.youtube.com/watch?v=yCaaPaQx5zg&feature=related


NOVIDADES SOBRE A VENDÉE GLOBE



>>> Contrariando os prognósticos dos entendidos em Vendée Globe, Steve White, o Morcego, deverá completar sua volta ao mundo amanhã em
8º lugar, a bordo de um dos mais antigos open 60 que participaram desta acidentada Vendée Globe. Velocidade atual: 9.5 nós.



>>>> O veterano Rich Wilson continua imprensado entre dois anticiclones pouco cooperativos. Velocidade atual: 4.9 nós.  Chegada a Sables d’Olonne prevista entre 5 e 7 de março. Seu mestre Desjoyeaux já prometeu que virá recepcioná-lo.

>>>>> O lanterninha Norbert Sedlacek continua enredado nas calmas equatoriais, donde só deverá se subtrair amanhã. Velocidade atual: 1,8 nós. Chegada a Sables d’Olonne: sem previsão.

CURIOSIDADE SOBRE A VENDÉE GLOBE

- Vocês sabiam que o título “Toe in the Water”, nome do antigo open 60 do cascudo Steve White, que deve entrar triunfalmente amanhã no famoso canal de Sables d’Olonne vem de uma associação caritativa inglesa que tem como objetivo motivar e reabilitar cidadãos acometidos por acidentes de trabalho através da prática da vela. Vocês sabiam?

ESCOLA PARA VELEJADORES SOLITÁRIOS DA VENDÉE GLOBE:

LIÇÃO NOVA

  Lição nº 15– SILÊNCIO A BORDO!  – Quando for atravessar a divina mar, amigo velejador, fique de olhos e ouvidos atentos aos sinais e ruídos da mar. Radar é muito bom, GPS é muito bom, computadores são muito bons. Internet é muito boa. Telefone satélite é muito bom. Telefone celular é ótimo mas... Mas melhor que tudo são os ouvidos e olhos sempre atentos do bom navegante. Creio que está havendo um ab-uso dos equipamentos eletrônicos em detrimento da atenta observação da mar e do vento com olhos e ouvidos desimpedidos. O pior de tudo é o vício do telefone. Tenho visto muita gente boa com o celular colado ao ouvido, falando falando falando falando falando sem parar com alguém em terra, nos momentos menos propícios pra isso. Jean Le Cam perdeu o mastro e capotou no momento em que estava falando com o Vincent Riou. Vincent Riou quase que perdeu o mastro no momento em que estava falando com a comissão de regata ao telefone satélite. E tenho quase que certeza que o Bernard Stamm estava falando com alguém ao telefone quando colidiu com um cargueiro e perdeu a Vendée Globe da sua vida. Razão tem o professor Desjoyeaux mais o nosso grande Amyr Klink quando decidiram limitar o uso do telefone a bordo ao mínimo. Pra começo de conversa a Terra nunca deve chamar o Barco. Pra fim de conversa durante manobras importantes a bordo não se fala com Terra, nem com outro navegante na mar, nem com Deus. Quem gosta de rezar que reze antes ou depois da manobra urgente e importante concluída. Durante jamais. Na “Estrela d’Alva” meu telefone celular está sempre desligado. Quando falo com Terra só o faço numa situação absolutamente sob controle e quase nunca de viva voz. Recomendo a vocês o veículo de comunicação ideal. A coisa mais linda do mundo. Milhões de anos foram necessários para que o bicho homem atinasse com esse prodígio de comunicação que é o “torpedo” enviado por telefone celular ou pra quem tem internet a bordo por e-mail. Uma textinho curto. Um bilhetinho abreviado e se possível codificado pra ficar mais curto ainda, digitado num tecladinho minúsculo, projetado numa telinha luminosa minimalista pra conferência e enviado numa fração de segundos. E se tiverem que falar ao telefone fixo, celular ou satélite amigos, sejam por favor breves! Velejador bom é velejador mudo e calado. Mudo, concentradíssimo, de olho na mar e com os ouvidos ligados no vento e nos ruídos mil que um veleiro faz, pra nos alertar dos perigos que nos espreitam o tempo todo. Em três palavras. Silêncio a bordo!

LIÇÕES ANTERIORES

Lição nº 14 – RESISTÊNCIA x SOFISTICAÇÃO – Se você pretende, amigo velejador, completar uma volta inteira ao planeta Terra, em solitário, sem escalas e sem assistência, durante a próxima Vendée Globe, um veleiro simples e resistente ser-lhe-á de muito mais valia que um veleiro sofisticado, mas frágil. Lição do Steve White que deve entrar triunfalmente em Sables d’Olonne amanhã a bordo do seu velho e bom “Com o Pé N’água.”

Lição nº 13 – NÓ EM PINGO D’ÁGUA – O velejador solitário precisa, além de saber fazer de tudo, saber consertar tudo, a bordo do seu veleiro. Caso contrário, como diria minha avó Balbina estará num mato sem cachorro. Lição do Brian Thomson, que regressou a Sables d’Olonne com seu open 60 remendado da quilha ao tope do mastro e que está pensando seriamente em abrir uma oficina mecânica-eletro-eletrônica chamada de “O Quebra-Galho”.

  Lição nº 12 – DIREITO AO ERRO – O velejador solitário tem direito a alguns erros e a outros não. A divina mar nos perdoa muita coisa errada, exceto os erros fatais. Lição do Yann Eliès que fraturou o fêmur durante uma manobra equivocada no bico de proa do seu “Generali” abandonado incólume em plena mar.

     
FANTASIA SOBRE A VENDÉE GLOBE:

Fantasia nº 5 -  ( conclusão ) Chegaria a Sables d’Olonne após 76 dias 13 horas e 31 segundos e contrariando mais uma vez as expectativas de uma multidão três vezes maior que aquela que me recepcionara da primeira vez eu cambaria em roda, assumindo o rumo oposto. Jogaria novamente sobre o convés de uma das embarcações, que me seguissem em procissão, uma segunda pedra de basalto rolado, catada na prainha da península do Vigia, enrolada num pedaço de papel branco, no qual teria escrito à mão:

“Continuarei a velejar por velejar na mar, onde me sinto feliz e pretendo salvar minha alma”.

Que tal? Hein? Duplo pontapé no rabo do “monstro” que contorcer-se-ia em ódio e sede de vingança, vendo a minha querida “Estrela d’Alva” deslizar asinha de volta pro meio do Atlântico iniciando uma terceira circunavegação consecutiva do planeta Terra, que eu no entanto não completaria.

Dobraria os cabos Boa Esperança e Leewin pela terceira vez e navegaria até o atol de Ahe, no Taiti, onde visitaria a casa onde viveu o grande Moitessier, se ela ainda existir . Mas não ficaria em terra muito tempo não. Porque? Porque “o monstro” já tomou conta da Terra inteira. Ficaria na mar a circunavegar as ilhas mil do Pacífico até que a morte viesse por ponto final à minha eterna infância. Se a amiga leitora quiser saber a quem me refiro quando digo “o monstro” leia “O Longo Caminho” de Bernard Moitessier e tire sua dúvida.

NOTÍCIAS DA ESTRELA D’ALVA

Enquanto isso no mundo real eu e a Estrela d’Alva continuamos a sobreviver, só deus sabe como, navegando a remo ao longo do movimentadíssimo canal de Itajurú, chacoalhados pela passagem de zilhões de lanchas e jet-skis que circulam a mil por hora, provocando violentos tsunamis artificiais que de vez em quando causam o rompimento da amarra de alguma embarcação fundeada na Passagem.

Acrescente-se a isso um sol atômico dardejando inclementes raios sobre a cabeça da gente, que a esburacada camada de ozônio terrestre não consegue mais filtrar.

 Acrescente-se a isso o cheiro de peixe podre que alguns perversos pescadores jogam n’água durante a preamar.

 Acrescente-se a isso o ensurdecedor ruído do funk tocado e dançado sob a Amendoeira.

Acrescente-se a isso um bando de moleques que barbarizam as embarcações fundeadas próximo à margem.

Ou seja o inferno no paraíso. Ou melhor um inferno no que já foi o paraíso. Torcendo pra que o verão acabe logo e eu possa ficar com a paradisíaca Costa do Sol, só pra mim, mais meia dúzia de gatos pingados que só velejam uma vez na vida outra na morte, no dizer da minha avó Balbina.


 EXTRATO DE “AS MIL E UMA NOITES”

 na tradução de Mamede Mustafa Jarouche. Estória: “A primeira jovem, a dona da casa.”

 “O navio continuou avançando como um relâmpago, e eu fiquei agarrada aos rochedos a noite inteira, até que a alvorada despontou e eu avistei uma.... “

Bons ventos amigos e amigas velejadoras

  Fernando “Estrela d’Alva” Costa

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