104º dia
vendée globe
Nó em pingo d’água
- Vocês sabiam que dos 30 velejadores de alto nível que partiram de Sables d’Olonne às 13h 02 do dia 9/11/2008, com a pretensão de dar uma volta ao mundo sem escalas e sem assistência, 19 já abandonaram a regata? Pra vergonha dos homens, todos homens. Vocês sabiam?
Salve amigas e amigos velejadores
TRILHA SONORA DA MENSAGEM:
Boa pra ouvir velejando em todos os ventos, cada movimento combina com um vento diferente. O mais popular e ao mesmo tempo o clássico dos clássicos aqui em versão rock. Espero que gostem.
http://www.youtube. com/watch? v=feYAl3Ev9_ A&feature=related
NOVIDADES SOBRE A VENDÉE GLOBE
>>> Arnaud “Cali” Boissières deve iniciar o desfile do seu antigo mas animado trio elétrico “Akéna Veranda” domingo à tarde, para o gáudio dos habitantes de Sables d’Olonne, que já estão com seus abadás de inverno prontinhos. Leram a declaração de amor que o atrevido Cali fez à charmosa Lady Dee? – Quando eu chegar vou te convidar pra comer as melhores ostras do mundo Dee! Alguém se lembra de algum outro velejador que arranjou namorada durante uma
Vendée Globe?
>>>> Steve “Morcego” White, o homem que hipotecou sua casa pra realizar o sonho de participar de uma Vendée Globe, não tem pressa de chegar e sim prazer em degustar sua última semana em solitário na mar, velejando por velejar.
>>>>> Raphaël Dinelli do Fondation Océan Vital contornou esta manhã o belíssimo arquipélago de Fernando de Noronha. Ele, que como eu sofreu horrores debaixo do tórrido sol brasileiro deste verão, só deve chegar, se chegar, a Sables d’Olonne dentro de três ou quatro semanas e não será o último, será se for o penúltimo.
CURIOSIDADE SOBRE A VENDÉE GLOBE
Vocês sabiam que dos 30 velejadores de alto nível que partiram de Sables d’Olonne às 13h 02 do dia 9/11/2008, com a pretensão de dar uma volta ao mundo sem escalas e sem assistência, 19 já abandonaram a regata? Vocês sabiam? Vocês sabiam que dentre esses 19 desistentes, apenas 4 necessitaram de socorro externo pra regressar pra terra firme? Não? Pois tomem nota pra não esquecer:
- Bernard Stamm
- Yann Eliès
- Jean Le Cam
- Vincent Riou
O caso do Jean Le Cam é o mais curioso. Num primeiro momento, após ter capotado nas proximidades do cabo Horn, ele foi resgatado por um participante da regata ( socorro interno ) e a seguir como passageiro do “PRB” do Vincent Riou, que perdeu o mastro dobrando o cabo Horn, foi rebocado até Puerto Williams pelo navio-patrulha “Alacalufe” da marinha chilena ( socorro externo ). Pros marujos da Vendée Globe, amigos, é ponto de honra voltar pra terra sem apelar pra socorro externo. Pra mim e minha inseparável “Estrela d’Alva” idem. Tanto isto é verdade que ao longo de 5 anos de aventuras na paradisíaca e inóspita Costa do Sol, só pedimos socorro duas vezes. Meus detratores amplificarão este numeral, mas não levem fé neles não, viram?
ESCOLA PARA VELEJADORES SOLITÁRIOS DA VENDÉE GLOBE:
LIÇÃO NOVA
Lição nº 13 – NÓ EM PINGO D’ÁGUA – O velejador solitário precisa, além de saber fazer de tudo, saber consertar tudo, a bordo do seu veleiro. Caso contrário, como diria minha avó Balbina estará num mato sem cachorro. Se dispuser de uma equipe técnica em terra, capaz, eficiente e sempre atenta ao chamado do telefone satélite, terá uma chance a mais de sobreviver. Isso se o seu problema não for urgente e se o seu telefone satélite não pifar bem na hora H. Caso contrário terá de se valer apenas da inteligência que Deus lhe deu. Lição do Brian Thomson, que pra conseguir completar sua longa volta ao mundo, a bordo do seu problemático, bota problemático nisso, “Bahrain Pindar Team”, teve que desatar muito nó de pingo d’água. Dar nó em pingo d’água é relativamente fácil, difícil mesmo é desatar nó de pingo d’água. O amigo leitor está habilitado a desatar nó de pingo d’água? Sim? Se sim já pode se inscrever pra próxima Vendée Globe. Caso contrário aconselho bater um papinho com o Brian Thomson, o rei do gatilho, da sucata, da gambiarra, do quebra galho. Pra quem não sabe Brian Thomson é aquele grandalhão inglês que cruzou a linha de chegada de Sables d’Olonne sentado na ponta do gurupés do seu impressionante albatroz cibernético todo remendado. Estão ligados?
LIÇÕES ANTERIORES
Lição nº 12 – DIREITO AO ERRO – O velejador solitário tem direito a alguns erros e a outros não. A divina mar nos perdoa muita coisa errada, exceto os erros fatais.
Lição nº 11 – NAVEGAÇÃO PERIGOSA – Navegar próximo a qualquer costa é 10 vezes mais perigoso que em alta mar. Lição do grande Amyr Klink.
Lição nº 10 – RESERVA DE ENERGIA VITAL – Quando em viagem a bordo de um veleiro, todo velejador deveria manter-se o mais bem alimentado e bem dormido possível, pois que nunca se sabe quando a mar exigirá dele um grande esforço físico e mental extra. Lição da namoradinha da Vendée Globe. Samantha Davies.
FANTASIA SOBRE A VENDÉE GLOBE:
Fantasia nº 5 - O Fausto, personagem da peça de mesmo nome do monumental Goethe, resolveu traduzir a bíblia. Só que amigo das licenças poéticas, à semelhança deste que lhes escreve há mais de 100 dias, em vez de escrever.
- No princípio era o verbo.
Escreveu assim:
- No princípio era o ato.
Eu traduzindo a bíblia escreveria o seguinte:
- No princípio era o silêncio.
Queria ser um milionário excêntrico amigos... Por enquanto sou só um pobre excêntrico, o que é bem mais difícil do que ser um milionário excêntrico. Mas se eu fosse um milionário excêntrico mandava construir aos cuidados do professor Michel Desjoyeaux um open 60 leve, ágil e bastante reforçado pra eu participar da próxima edição da Vendée Globe em 2012. Logo no início da regata, que pra mim não é regata coisa nenhuma e sim a maior de todas as aventuras humanas, eu quebraria meu telefone satélite em dez pedaços. A partir de então, ninguém poderia mais falar comigo e eu não poderia falar com ninguém. Silêncio, mistério absoluto em torno da minha participação na regata. Como não teria internet a bordo ficaria incomunicável. Ou seja tornar-me-ia um verdadeiro solitário à la Moitessier. Ah, ia me esquecendo de dizer que o nome do meu open 60 seria “Étoile du Berger” em francês que em brasileiro significa “Estrela d’Alva”. Pois bem, logo após cruzar... ( continua na próxima página digital do meu tresloucado diário da Vendée Globe )
EXTRATO DE “AS MIL E UMA NOITES”
na tradução de Mamede Mustafa Jarouche. Estória: “O terceiro dervixe.”
“Mal terminei de fazer isso, e antes mesmo que eu pudesse me dar conta, fui atirado no meio da mar, pra fora da canoa, que virou e afundou. “
NOTÍCIAS DA ESTRELA D’ALVA
Enquanto isso eu e minha fiel “Estrela d’Alva” continuamos a explorar o poluído canal de Itajurú. Ontem passamos o dia em Porto Veleiro, muito mais agradável que São Bento. Não sei quem foi que teve a triste idéia de cortar as árvores e asfaltar as ruas das cidades, transformando- as em verdadeiros fornos crematórios gigantes. Quantos absurdos a doida raça humana já não pôs em prática sob o falso nome de progresso! Uma cidade asfaltada, sem árvores e cheia de edifícios de concreto armado é o fim da picada. Arre! Quando daqui a alguns milênios os arqueólogos do futuro desenterrarem o que sobrar da nossa pseudo civilização, vão morrer de rir da nossa burrice.
Bons ventos amigos e amigas velejadoras
Fernando “Estrela d’Alva” Costa
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