NOVIDADES
1 – Rolou uma nova troca na comissão de frente da regata, François Gabart retoma a liderança de Armel Le Cléac’h e começam ambos a voltar pra casa, já que sãos os únicos a terem percorrido mais da metade do infinito percurso da Vendée Globe.
2 – Enquanto isso o espanhol Javier Sansó, que lembra-meu personagem favorito, Dom Quixote de la Mancha, aproxima-se cada vez mais do suíço Dominique Wavre, a bordo do veleiro mais inteligente desta edição da Vendée Globe. Porque? Porque é o único 100% ecopowered.
3 – Essa é demais! Essa façanha é realmente incrível, fantástica, extraordinária, mas Jean-Pierre Dick, teve a coragem de
escalar, esta última noite, o mastro de 30 metros do seu bólido alado, em pleno Oceano Austral, pra substituir o moitão que possibilita o uso do balão, inutilizado há vários dias e com certeza responsável por sua perda de terreno, para os dois líderes da regata. Palmas pra ele, que esse merece. E eis porque a Vendée Globe é conhecida como o “Everest dos Mares”. LoL!
Boa tarde!
Quero fazer hoje uma homenagem ao Armel Le Cléac’h, amigas e amigos leitores, não por ele ter sido o segundo colocado na edição anterior da regata e também não por ele ter conseguido manter-se na liderança da atual Vendée Globe até o presente, sendo um dos mais cotados pra vencê-la. Isso todo mundo sabe. Nisso todo mundo anda ligado. O que com certeza a maioria não sabe é que Armel, mais conhecido “nas rodas da malandragem” como “Chacal”, teve a brilhante idéia de ler pela primeira vez “O Longo Caminho” de mestre Bernard Moitessier “pari passu” com seu trajeto há 4 anos atrás. Não sabem o que significa a expressão latina “pari passu”, amigos leitores? Então leiam a definição a seguir e mais tarde a gente continua a conversar.
Pari passu é uma expressão latina que significa "em igual passo", "simultaneamente", "a par", "ao mesmo tempo", e, por extensão, comumente utilizado no jargão jurídico no sentido de "proporcionalmente; em passo igual; sem preferência" ou em igualdade de condições, de modo que todas as partes sejam tratadas da mesma maneira, conforme Black's Law Dictionary, 8ª ed., 2004 ("proportionally; at an equal pace; without preference"). (Wikipedia)
Entenderam o que o inteligente e original Armel fez amigos? Leu “O Longo Caminho” de Moitessier dia após dia, à medida que ia passando pelos mesmo pontos do roteiro citados no livro. Ou seja, quando ele, Armel, cruzou o cabo da Boa Esperança em 2008, leu neste mesmo dia o que Moitessier viveu e contou em seu livro ao dobrar o cabo da Boa Esperança em 1968.
Que bela idéia não? Que idéia curiosa não? Que idéia singular, não? Aposto com vocês que Armel não desperdiçou nenhum momento da sua preciosa vida vendo essas telenovelas que reduzem o QI dos macróbios humanos ao da ostra. Sabem, o que gostaria de fazer, se isto fosse possível amigo leitor, saber tudo que o Armel pensou, tudo que o Armel sonhou lendo aventura de Moitessier pari passu com sua aventura.
Só sei de uma coisa a esse respeito. O que foi que o Armel pensou quando chegou ao ponto do livro em que Moitessier abandonou a regata e seguiu em frente rumo au Pacífico dizendo “Vou seguir em frente, por duas razões: porque me sinto feliz no mar e para salvar a minha alma.”
No original...
« Je continue sans escale vers les îles du Pacifique, parce que je suis heureux en mer et peut-être aussi pour sauver mon âme. »
Chegado a este ponto crucial, Armel, tentado a abandonar ele também a regata, balançou a cabeça dizendo, não, não, Moitessier era Moitessier e eu sou Armel. Como foi que fiquei sabendo disso? Fácil, lendo. Ao menos isso eu tenho em comum com o grande Armel, e com o colossal Moitessier. Nós três gostamos de ler e a leitura, alimenta o espírito. Mas vejam acima, meu autoretrato favorito do Armel. Pena que ele não está relendo “O Longo Caminho” de Moitessier. Se tivesse correria o grande risco de abandonar mesmo essa edição da Vendée Globe. Porque? Porque ler é reler e escrever é reescrever. Última observação. Discipulo de Moitessier e aluno de Desjoyeaux, Armel tem tudo pra ir longe, bem longe, não?
Bons ventos a todos e até amanhã.
CURIOSIDADE 3 - Há quatro anos atrás...
Escrevi o seguinte no meu excêntrico diário da Vendée Globe:
"Não sei se vocês estão ligados, amigos, mas a jovem, bela e cascuda velejadora Maud Fontenay, pela qual o atual presidente da França nutre uma evidente paixão ou pra não pecar por excesso, uma admiração sincera, completou no início do ano passado uma volta ao mundo em solitário, sem escalas e sem assistência, navegando sempre no sentido contrário ao dos ventos e correntes dominantes (de leste para oeste) a bordo do veleiro "L'ORÉAL PARIS".
Vejam bem, ao final de sua árdua circunavegação, após 151 dias de mar e graças a uma mastreação de fortuna, pois que o mastro do seu bólido alado quebrou-se a dez dias da chegada, a charmosa Maud Fontenay fez a seguinte declaração:
- Estou muito feliz em concluir esta incrível aventura, que no futuro não será mais possível.
- Corta!
A maioria dos velejadores mais experientes que participam da atual Vendée Globe tem declarado com freqüência, nas "vacation radio", que nunca sofreram tanto pra atravessar o oceano Índico, por conta da brutal força dos ventos e exagerado tamanho, rapidez e confusão das ondas.
- Corta!
Sem ter aplicado nenhum tratamento estatístico à questão, suspeito que velejei muito menos dias este ano do que nos anteriores, impedido que fui pela cada vez mais freqüente e exagerada força dos ventos, que sopraram na Região dos Lagos.
- Corta!
Em 2006 o ex-vice presidente dos EEUU, Al Gore recebeu o prêmio Nobel pelo seu livro "Uma verdade inconveniente. "
A questão é a seguinte:
- Será que é verdade que os ventos soprarão cada vez mais fortes sobre a superfície do planeta Terra, por conta do aquecimento global e outras perturbações meteorológicas engendradas pela doida raça humana, até que a navegação à vela tornar-se-á impossível?
Eis uma questão que me preocupa! Imaginem que pena lastimável. Não poder saborear nunca mais o segundo maior prazer desta vida. Felizes de vocês que começaram a velejar bem antes de mim. Terão mais boas lembranças que eu pra consolá-los quando os ventos se tornarem invelejáveis.
Sem mudar de assunto, já notaram que antes que os líderes da atual Vendée Globe chegarem ao meio da prova, a estatística de abandonos já se aproxima terrivelmente da média geral?"
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