68° dia
Vendée Globe
Senna, Pelé, Obama + Lars Grael
Notícia boa! Dee Cafari, Brian Thomson e Arnaud Boissières sobreviveram à forte tempestade que assolou o cabo Horn durantes as últimas 24 horas, cada qual lançando mão de um estratagema diferente. Brian Thomson se abrigou a sotavento da ilha dos Estados. Arnaud Boissières fugiu da depressão rumando 45 milhas ao sul do Cabo Horn e Dee Cafari preferiu esperar que a
frente fria passasse, a 100 milhas a SW do cabo Horn, nas proximidades da ilha de Diego Ramirez.
Boa noite amigo velejador
Tenho três perguntas pra você.
Especialmente pra você que nunca tinha ouvido falar e acabou de se encantar com a Vendée Globe e incluiu secretamente nos seus sonhos, participar da próxima edição desta incrível, fantástica, extraordinária regata.
Na verdade não foi você quem tomou essa decisão. Foi alguém bem mais poderoso que você. Seu INCONSCIENTE. E quando nosso inconsciente toma uma decisão, amigo leitor, ela vira idéia fixa e nunca mais nos abandona. A propósito Machado, o grande Machado escreveu isto aqui: "Deus te livre amigo leitor de uma idéia fixa, antes um argueiro, antes uma trave no olho."
A partir do momento que uma idéia fixa toma conta de nós, nada mais pode nos deter, nada mais pode nos impedir de realizá-la. Sejamos fortes ou fracos, jovens ou maduros, experientes ou inexperientes. Uma idéia fixa é irredutível.
A idéia fixa do Santos Dumont era inventar o avião. A do Ayrton Senna vencer na Formula 1. A do Pelé ser tão bom jogador quanto seu pai Dondinho. A do Barak Obama ser presidente dos Estados Unidos. A do Lewis Hamilton ser o mais jovem campeão da Fórmula 1. A do Joshua Slocum dar a primeira volta ao mundo em solitário a bordo de um barco à vela. A do Alan Adler construir o "Brasil 1". A do Betão Pandiani atravessar o Pacífico a bordo de um catamarã de 21 pés. A do Robert Scheidt ser tão bom na classe Star, quanto o havia sido na Laser. A da Izabel Pimentel ser a primeira mulher brasileira a cruzar o Atlântico em solitário. A do Lars Grael velejar tão bem após seu dramático acidente, quanto velejava antes. A do Torben Grael é vencer a atual VOR. A minha idéia fixa é "velejar por velejar" até morrer, a bordo de uma simples canoa alada na Costa do Sol. E a sua nova idéia fixa, amigo leitor, será participar da próxima edição da Vendée Globe em 2012. Tá ligado?
Pois bem, tenho três perguntas pra você:
pergunta n° 1 - Qual a primeira coisa que você pretende fazer pra tornar seu sonho realidade?
( possibilidades: Correr atrás de patrocinadores? Começar a construir um Open 60 no quintal da sua casa? Participar do maior número possível de regatas em solitário de hoje em diante? Mudar-se pra França? Matricular-se imediatamente no "Pôle France Finistère Course au Large" que poderíamos traduzir como Polo de Treinamento para Velejadores de Regatas Oceânicas do Finistère? )
pergunta n° 2 - O que você acha que os seis primeiros colocados da atual edição da Vendée Globe tem em comum?
( Os seis primeiros colocados, no presente momento, da atual edição da Vendée Globe são: Michel Desjoyeaux, Roland Jourdain, Armel Le Cléac'h, Samantha Davies, Marc Guillemot mais o Vincent Riou que conquistou o terceiro lugar "hors concours" antecipado da regata de forma extraordinária. )
pergunta n° 3 - Quais os nomes dos seis primeiros velejadores, do quadro abaixo, todos participantes do Polo de Treinamento para velejadores de Regatas Oceânicas do Finistère?
Não deveria, mas vou responder às três perguntas que lhe fiz amigo leitor.
1 - A primeira coisa que você, que decidiu participar da próxima edição da Vendée Globe, deveria fazer imediatamente é matricular-se no "Pôle France Finistère Course au Large" que poderíamos traduzir como Polo de Treinamento para velejadores de Regatas Oceânicas do Finistère.
http://www.polefini stere.com/ navigateurs. php
2 - O que os seis primeiros colocados da atual edição da Vendée Globe tem em comum é que todos eles se aperfeiçoaram no Polo de Treinamento para Velejadores de Regatas Oceânicas do Finistère?
3 - Os nomes dos seis primeiros velejadores do quadro acima, todos participantes do Polo de Treinamento para Velejadores de Regatas Oceânicas do Finistère são exatamente os mesmos dos seis primeiros colocados da atual edição da Vendée Globe.
Michel Desjoyeaux, Roland Jourdain, Armel Le Cléac'h, Samantha Davies, Marc Guillemot mais o Vincent Riou que conquistou o terceiro lugar "hors concours" antecipado da regata de forma extraordinária.
E aí? Esperando o que pra visitar o Polo de Treinamento para Velejadores de Regatas Oceânicas do Finistère?
http://www.polefini stere.com/ navigateurs. php
O Finistère amigo velejador é o departamento da França que fica no extremo oeste da Bretanha, terra de alguns dos marujos mais cascudos do planeta.
Bons ventos a todos e até amanhã se Deus quiser
Se não quiser a lagoa tá aí mesmo.
Fernando "Estrela d'Alva" Costa
MOITESSIER DOBRANDO O CABO HORN
Décima primeira estrofe do "poema" em versos livres MOITESSIER DOBRANDO O CABO HORN que escrevi, utilizando metade das palavras do próprio Moitessier, em seu clássico “O LONGO CAMINHO”, traduzido pela Carmen Ballot e publicado pelas Edições Marítimas.
estrofe 11
o Navio Fantasma de Richard Wagner é impressionante
mas faltam-lhe algumas notas aterrorizantes
que ele com certeza teria acrescentado
se tivesse alguma vez dobrado o Horn
em solitário
por volta da meia-noite
com eu faço neste exato momento
existem acordes que só a experiência pode nos soprar ao ouvido
o frio está queimando as minhas orelhas
e a ansiedade a minha garganta
essa angústia só terá fim após eu ter dobrado o Horn
ajeito o capuz do meu impermeável sobre a cabeça e o rugido da mar se transforma num ronco longínquo
farejo na semi-escuridã o da noite blocos de gelo e sargaços
“Joshua” quase atravessou no cavado de uma onda gigantesca
depois endireitou-se, orçou e voltou a adernar
e toma-lhe rajada
rajada atrás de rajada!
rajada após rajada
uma infinita saraivada de rajadas
“Joshua” orça e aderna mais uma vez e após um longo surf planta o gurupés no traseiro de uma imensa vaga
a vaga vinga-se do atrevimento de “Joshua” dando-lhe uma violenta bofetada de água sólida no costado
tive de me agarrar à adriça da bujarrona pra não ser carregado pela enxurrada que varreu o convés
minhas botas encheram-se de água gelada
outra vaga aproxima-se rugindo pela proa
alta, muito alta, maior que as anteriores
imensa, gigantesca, colossal
toda branca no topo e negra na base
“Joshua” começa a escalar a montanha d’água
quase na vertical
segue-se uma descida vertiginosa
penso cá com meus botões
bastaria uma descida mal sucedida de uma vaga dessas
pra que meu pássaro de asas brancas não consiga voltar à tona
e continue sua viagem numa outra dimensão
ao lado de todos os outros barcos que naufragaram tentando dobrar o cabo Horn
mas ainda não foi dessa vez
“Joshua” não é o “Flying Dutchman”
mas continua voando em direção ao Horn sob o clarão das estrelas
e a ternura um pouco distante da lua
o tempo é elástico amigos marujos
quando vogamos ao sabor de uma brisa amiga
como diz mestre Slocum
circunavegando uma bela ilha da Polinésia
o tempo passa asinha
quando nos aproximamos do cabo Horn à noite
o tempo se arrasta
tenho a impressão que faz uma semana que comecei
a dobrar o Horn
na verdade nem sei onde me encontro agora
terei já dobrado o famigerado cabo Horn?
não, creio que não
se minha navegação estimada não mente
ainda não
ainda faltam 30 longas milhas pra cruzarmos o meridiano do Horn
conhecem as coordenadas do cabo Horn amigos?
não?
tomem nota!
55°58′47″S 67°17′21″W
felizes de vocês marujos do futuro
marujos da era do GPS
marujos que conhecerão a latitude e a longitude apertando um simples botão
aqui ainda estamos em 1968 amigos
temos de empunhar o velho e bom sextante
medir a altura dos astros acima do horizonte
quando há astros e horizonte
depois mergulhar nas grossas tábuas astronômicas
e por fim encarar a longa calculeira
à luz do lampião de querosene
sabem do que é que estou falando?
agora me digam uma coisa
o que é que vocês fazem quando o GPS de vocês pifa?
rezam?
( continua num futuro post )
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