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domingo, 6 de maio de 2012

(19/12/2008) - Solidariedade Humana - Diário da Vendée Globe 2008/09 - post 40




 


 40° dia

Vendée Globe

Solidariedade Humana

-Tô na área, pode contar comigo meu irmão! Disse o solidário Marc Guillemot aquartelado a menos de uma milha do acidentado Yann Eliès.

Salve amigas e amigos velejadores

Vocês já devem ter percebido que sou um aficionado pela Vendée Globe.

-         Desde quando?

-         Desde o ano 2000 quando estive na França e comecei a ouvir aqui e acolá este nome mágico “Vendée Globe” que eu entendi como “Vents du Globe”. Além da agradável sonoridade do nome, o que me encantou de pronto foi o belo prefixo musical que antecedia as transmissões radiofônicas sobre a regata. Mas na época meus interesses estavam voltados noutra direção e eu não me liguei na mágica “Vendée Globe”.  O certo é o Vendée Globe, que significa o Globo da Vendée, sendo Vendée o nome de um departamento da França, em sua costa noroeste. Tempos depois li “Le Roman du Vendée Globe” de Christophe Agnus e Pierre-Yves Lautrou, que despertou minha paixão pela regata.      

Mas nada se compara com aventura de acompanhar dia após dia o desenrolar da prova, ao longo desta 6ª e riquíssima edição, no substancial site da regata.

http://www.vendeegl obe.org/fr

 Tenho lido todos os artigos, "flash infos" e "magazines". Tenho visto todas as fotos e muitos vídeos, mas acima de tudo ouvido as imperdíveis “vacations radio”. ( em francês para os concorrentes franceses e em inglês para os demais )

Nas “vacations radio”, amigo, você ouve vários jornalistas, velejadores importantes, organizadores da regata, mais convidados especiais e mesmo crianças, alunas de várias escolas francesas entrevistarem diretamente os velejadores, onde quer que eles estejam navegando.

- Oh admirável mundo novo. Como os homens são belos!!!



-         Bem, de tudo que sei atualmente sobre a Vendée Globe, dez tópicos me encantam.

Já lhes falei do n° 1 – O simples, sucinto, ímpar e ousadíssimo enunciado da prova.

REGATA DE VOLTA AO MUNDO EM SOLITÁRIO, SEM ESCALAS, SEM ASSISTÊNCIA E PASSANDO PELOS TRÊS MÍTICOS E TEMÍVEIS CABOS BOA ESPERANÇA, LEEWIN E HORN.

O que pra mim se traduz como a forma de navegar mais elegante, rápida, inteligente, ecologicamente correta e moderna do mundo.

-         Porque?

-         Analisemos um único desses tópicos, a modernidade da regata.

a – Há 6000 anos que os homens navegam na mar, sempre em equipe. Os velejadores da Vendée Globe velejam em solitário, novidade que não chega aos 2% do total, pois que há apenas 115 anos, que o primeiro homem ( Joshua Slocum ) realizou a primeira volta ao mundo em solitário, a bordo de um veleiro . ( Vocês já se deram conta do quanto um velejador, mais respectivo veleiro precisam evoluir, em todos os sentidos, até serem capazes de realizar uma volta ao mundo em solitário? )

b – Há 600 séculos que os homens navegam na mar, sempre próximos à costa e na maior parte das vezes em viagens curtas em duração e distância. Trata-se da rudimentar navegação de cabotagem. Os cascudos marujos da Vendée Globe realizam uma volta inteira ao planeta Terra sem escala e velejando a maior parte do tempo, longe, muito longe de terra. 

C – Há 60 décadas que os homens da mar navegam dependentes dos homens de terra, para o reabastecimento d’água e mantimentos, para realizar consertos os mais diversos, para se medicarem etc. Os velejadores da Vendée Globe são auto-suficientes, e só pedem ajuda em caso de emergência e perigo iminente, no que são automaticamente eliminados da prova.

Já lhes falei do n° 2 – A retumbante aclamação digna de um herói grego, com a qual o democrático e entusiástico povo de Sables d’Olonne comemora a chegada de cada velejador, que completa a prova ao longo do famoso canal de acesso ao porto da cidade.

Vou falar-lhes neste post do terceiro tópico que me encanta na Vendée Globe e futuramente comentarei dos outras sete.

tópico n° 3 - solidariedade humana

Os corajosos marujos e marujas que disputam o imenso percurso da Vendée Globe palmo a palmo, jarda a jarda, milha a milha, com unhas e dentes, a ferro e fogo, com garra e ímpeto do mais selvagem dos gladiadores romanos, transformam- se num passe de mágica, em anjo da guarda dos mais fieis e dedicados, a partir do momento que recebem um pedido de socorro de um outro concorrente.

É o que está acontecendo neste exato momento, amigos.



O Marc Guillemot abandonou voluntariamente a regata, para socorrer o Yann Eliès, que fraturou o fêmur ontem de manhã durante uma manobra de troca de velas.

Passaram a noite aquartelados lado a lado no meio do oceano gelado das altas latitudes, um fornecendo calor humano e apoio moral ao outro. Querem saber a primeira coisa que o Marc disse pro Yann.

-         Tô na área, pode contar comigo meu irmão!

-         Mas e a regata? Você abandonou a regata por minha causa Marc?

-         Regata? Quem falou em regata? Eu já esqueci da regata. Estou aqui do seu lado, pra lhe ajudar no que for preciso e daqui só saio quando a fragata australiana que está vindo lhe socorrer chegar.

Lindo isso, não? Um exacerbado concorrente que se metamorfoseia de repente no mais solidário e compassivo dos anjos da guarda.

O nome disso é SOLIDARIEDADE HUMANA, meus irmãos!

-  Gostaria de perguntar-lhes uma coisa. O que mais o Marc Guillemot poderia fazer pelo Yann Eliès além de dar-lhe o precioso apoio moral. Não sei se vocês estão ligados mas a situação é a seguinte:

-         O Yann Eliès está com o fêmur fraturado e deitado no interior do seu Open 60, sem condições de se movimentar. Só pra vocês terem uma idéia da gravidade da situação, até ontem à noite, apesar de estar se contorcendo em dores, ele não conseguira nem pegar os analgésicos na sua farmácia, a dois metros de distância de onde ele se encontra caído.

-         Corta!

-         O Marc Guillemot que velejou 100 milhas a toda brida até chegar ao lado do veleiro do Yann Eliès, ontem, por volta das 23 horas, está aquartelado a menos de uma milha de distancia. A pergunta que lhes faço é a seguinte. - O que mais poderia o Marc fazer pelo Yann? Outra pergunta, após o salvamento do Yann Eliès pela fragata australiana, o que será feito do seu intacto bólido alado?

Escrevi demais hoje. É que a Vendée Globe me apaixona.

Me desculpem, todo apaixonado é inconveniente.

Bons ventos

Fernando “Estrela d’Alva” Costa

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