Ei! Não deixe de visitar as outras páginas!

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Ciranda infernal - Diário da Vendée Globe 2008/09 - post 26



O tubarão-martelo esfomeado de vitórias Michel "Foncia" Desjoyeaux veleja, acreditem 
se quiserem, a mais de 30 nós. 
http://www.teamfoncia.com/

http://www.vendeeglobe.org/fr/

Muito bom dia amigas e amigos velejadores!
Não sei se vocês estão plugados, mas está acontecendo algo inacreditável, desde que os líderes da flotilha da incrível, fantástica, extraordinária Vendée Globe, começaram a escalar a imensa montanha russa feita de água salgada das baixas latitudes.
Lá onde o vento sopra sem cessar com
força colossal.
Lá onde as ondas circulam desimpedidas de obstáculos, atingindo alturas inimagináveis.
Lá onde a temperatura da água e do ar são extremas.
Lá onde as frentes frias são frequentes e sempre grávidas de violentas tempestades.
Lá onde todos os fenômenos ligados à MAR que nós conhecemos em mi bemol menor, em nossas baixas latitudes, tornam-se grandiosos, exagerados, monumentais.
A ponto de alguns dizerem que acima dos 40 não há lei.
E acima dos 50 não há deus.
Pois bem, é neste cenário em tudo hiperbólico e grandiloquente, que os dez primeiros colocados da atual e sexta edição da planetária Vendée Globe, inventaram e vem sustentando o que um articulista do site da regata chamou de "ciranda infernal".
Justamente numa fatia do oceano em que a prudência deveria nortear cada decisão do navegante, os líderes da prova resolveram exorbitar.
Em resumo, o pelotão de frente da Vendée Globe endoidou de vez e está sorvendo em grupo, overdoses sobre overdoses da droga mais poderosa do mundo, a adrenalina.
Os caras estão sacrificando o sono pra aumentar suas médias diárias de velocidade, conduzindo seus bólidos alados além de todos os limites da sensatez.
Os caras estão buscando energia na excitação e não mais no repouso.
Os caras estão velejando com tudo em cima no olho do furacão.
No olho não, engano meu, que no olho do furacão reina a calmaria.
Na periferia do furacão, melhor dizendo.
Esta sede desenfreada de velocidade, amigos. 
Esta alucinada vontade de potência a gente pode notar já
em Moitessier
em Tabarly 
 mais ainda em Alain Colas
muito mais ainda em Phillippe Jeantot.
Mas acho que os "tubarões esfomeados" + os "cações agressivos" + um certo "peixinho", da atual Vendée Globe, estão indo longe demais em sua busca do inenarrável prazer, que só o excesso de velocidade a bordo de um veleiro hightech, navegando na mar pode oferecer.
Só quero ver em qual bicho essa loucura vai dar. 
A primeira questão é:
Até que ponto o material resistirá a tão monstruosos e milhares de vezes repetidos esforços?
A segunda questão é:
Até que ponto o físico e a mente desses superexcitados macróbios humanos suportará essas diuturnas e desmesuradas solicitações?
A terceira questão é:
Será lícito transformar o esporte em sessão coletiva de consumo da droga mais alucinógena do mundo, a adrenalina.
A propósito o cerra-fila deste desvairado pelotão de frente, autor de uma bela corrida de recuperação, bateu ontem ao fim de uma longa surfada, o recorde de velocidade no mar: exatos 30.44 nós.  
Estamos falando, é óbvio, de Michel "Foncia" Desjoyeaux, ou se preferirem, do "Professor".
Quando eu digo a vocês que a Vendée Globe merece no mínimo umas dez páginas do Livro das Mil e Uma Noites.
A propósito, selecionei mais um extrato, desse livro sem igual, especialmente pra vocês. 
"Prosseguimos a viagem e o barco avançou, beneficiado por bons ventos, durante cinqüenta dias, ao cabo dos quais chegamos a uma..."
48ª noite

Grande abraço amigas e amigas da Copa Pé de Vento 
e até amanhã se Netuna quiser

Fernando "Estrela d'Alva" Costa

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seus comentários, críticas ou elogios farão meu blog evoluir. Obrigado por participar.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...