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terça-feira, 21 de dezembro de 2010

O-Coelho-Urso-do-Leão - estórias vividas

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Muito boa noite amigas e amigos deste nosso blog dedicado à divina MAR, à inteligente VELA e ao sagrado MEIO-AMBIENTE.

Vou contar-lhes uma estória vivida. Não por mim, mas por outro navegante. Pasmem, por um navegante de barco a motor. Com o perdão da palavra motor.
Foi isso mesmo que eu escrevi e vocês leram, vou pela primeira vez, na minha vida, contar a estória de um marinheiro que a partir dos 16 anos e durante 16 anos  navegou a bordo do mesmo barco a motor chamado "Leão".
O nome dele é Coelho. O-Coelho-do-Leão, se me permitem.
- Porque resolvi abrir uma excessão pro Coelho, eu que só costumo prestigiar os maiores velejadores e velejadoras de todos os tempos e lugares?
- Por algumas razões especiais, leiam:
- O Coelho é o mais antigo navegante, dentre os muitos que ancoram seus barcos no canal de Itajurú, bairro da Passagem, onde também mora a "Estrela d'Alva".
- O Coelho é cabofriense da gema.
- O Coelho é campeão mundial de simpatia.


- O Coelho gosta da MAR e dos barcos do fundo do peito.
- O Coelho continua a navegar em solitário e possui mais de "quatro x vinte" anos como gostam de dizer os franceses.
O primeiro nome do Coelho é Artur e como vocês sabem Artur significa urso-grande.
O-Coelho-Urso-Grande de quem lhes falo, com todo respeito, é claro, não é alto, possui estatura mediana.
Mas se é mediano na estatura é grande de coração.
Todo mundo gosta dele e ele parece gostar de todos.
Conversei longamente com mestre Coelho duas vezes.
Duas longas entrevistas.
A primeira sem nada anotar.
A segunda anotando tudo que lhes digo no momento.
Mestre Coelho contou-me muita coisa interessante do tempo em que o canal de Itajurú não era poluído, a cidade de Cabo Frio era tranquila, segura e ainda não havia sido invadida pela praga dos cubos-de-cimento, todos iguaizinhos, todos feios, todos quentes, verdadeiros fornos de cozer pessoas.
Naquela época, estamos falando dos anos 40 do século passado, frutos da MAR de toda espécie não faltavam à mesa de nenhum habitante da Região do Lagos.
Você podia escolher um bonito, uma enchova, um dourado, um namorado, um olho-de-cão, um linguado, que os conterrâneos pescadores lhe traziam
a encomenda na porta por um preço camarada e às vezes de graça ou na base do escambo. Tipo, eu lhe dou dez peixes, você me dá dez quilos de aipim.
Nessa época a água da lagoa de Araruama era cristalina, tom verde-esmeralda e
cheirava a camarão fresco.

Poucas eram as estradas, ruas e pontes e os produtos que abasteciam o insipiente comércio de então eram transportados por embarcações à vela dentro d'água e carroças puxadas a burro em terra.
Curiosamente mestre Coelho nunca velejou. Porque, não sei. Perguntei, mas ele não me respondeu. Mudou de assunto, comentou sobre as canoas à vela ou a remo de um-pau-só importadas de Santa Catarina, que eram usadas na região e pelas quais o grande Joshua Slocum se apaixonou.
Mestre Coelho embarcou aos dezesseis anos de idade no "Leão", que contava 16 anos na época e nele trabalhou por 16 anos.
- Entenderam?
- Prestem atenção.
Mestre Coelho tinha 16 anos, quando embarcou no navio "Leão" de 16 anos e nele trabalhou como marinheiro por 16 anos.
Detalhe curioso. O "Leão" e o marinheiro Coelho além de possuírem a mesma idade, eram filhos do mesmo pai.
Sim, sim, sim, acreditem se quiserem, mas o carpinteiro naval que construíu o navio "Leão" no estaleiro Souza Matos, a bordo do qual o jovem marinheiro Coelho embarcou, era seu pai.


Poderíamos dizer que o marinheiro Coelho era irmão-gêmeo do barco
 que governava ao timão.
Porque? Ora porque?
- Quem não sabe que toda mulher engravida dos barcos que o marido constrói.
Tremenda responsabilidade nas costas de um pai.
Imagina amigo leitor, seu filho voando a serviço, a bordo do avião que você mesmo construiu. Imagina amiga leitora, sua filha pulando de 10 000 metros de altura com um para-quedas que você mesma desenhou, cortou e costurou. 
Detalhe curioso. Mestre Coelho me disse que o construtor do famoso "Tenente Santos", que eu vi velejando em Búzios em 2008, durante a regata de Veleiros Clássicos, foi aprendiz do seu pai.
Mas o jovem marinheiro Coelho embarcou no "Leão" em 1944. Ou seja navegou um ano sob a ameaça dos impiedosos submarinhos alemães, que teriam afundado mais de 30 navios brasileiros e por causa disso é considerado ex-combante
da Segunda Guerra Mundial.

Coisa feia, absurda e ridícula a guerra, não amigos? Indivíduos de uma mesma raça, sim porque todos nós, seres humanos, pertencemos à mesma raça, mandando mecha nos navios uns dos outros. Em algum lugar no futuro, uma verdadeira civilização existirá sobre a Terra e nós seremos considerados todos bárbaros. Esses homens-humanos-pacíficos-do-futuro dirão assim de nós.
- Eles matavam-se uns aos outros em guerras fratricidas! Eram bárbaros!
Mas mestre Coelho não pegou em armas, não deu tiro, não lançou bombas, não disparou torpedos, não morreu, nem matou ninguém.
Mestre Coelho é do signo de Leão, serviu no "Leão" mas é manso, é educado, é gentil, é fraternal, é compassivo, logo não é bárbaro.
Ele declarou-me que se preciso for, tira a própria camisa pra com ela agasalhar
um irmão necessitado.
E que mesmo irado, não levanta a voz pra ofender um simples cão.
Que maravilha seria esse mundo se todos pensassem com a cabeça
 solidária de mestre Coelho.
- Que tipo de matéria prima transportava o "Leão" no tempo de mestre Coelho?
- Sal e madeiras.
O sal era levado daqui da Região dos Lagos até, no limite, Santa Catarina ao sul e Espírito Santo ao norte. Normalmente para o Rio de Janeiro e Angra dos Reis.
O navio voltava carregado de toras de madeira.
- Que tipo de madeira?
- Na ponta da língua: vinhático, cedro, peroba do campo e jequetibá.
Perguntei a mestre Coelho qual o pior perrengue que ele enfrentou na MAR e ele me contou que após arribar às pressas pra evitar um mau tempo anunciado, o "Leão" encalhou em Conceição da Barra, Espírito Santo.
A propósito, acabei de tomar conhecimento de dois dados interessante no site Naufrágios do Brasil.

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Primeiro - O estado do Rio de Janeiro é o campeão brasileiro de naufrágios.
Segundo - A principal causa de naufrágios no Brasil é o encalhe.
Mas o "Leão" de mestre Coelho sobreviveu àquele rápido encalhe e entre mortos e feridos, como se costuma dizer, salvaram-se todos.
Depois de ser marinheiro a bordo do "Leão", mestre Coelho trabalhou na Álcalis e posteriormente no colégio Miguel Couto.
- Perguntei a ele de qual dos três empregos ele gostou mais e ele me respondeu que a companhia das crianças é uma dádiva dos céus.
- Entendi que ele gostou mais de trabalhar como inspetor de alunos, do que de ser marinheiro e secretário na Álcalis e vocês?
Como já lhes disse, mestre Coelho continua navegando firme e forte a bordo do "Kauai", nome do bisneto e possui dois botinhos de apoio, o "Coelho" 1 e o 2. Todos três pintados de cinza.
- Cinza? Porque cinza mestre Coelho?
- Porque não amarelo, laranja ou vermelho?
- São as cores que mais se destacam contra o fundo azul da MAR, não?
- Acho o cinza uma cor tão triste. Ah, já sei pra quê. Camuflagem pra escapar do ataque dos submarinos alemães.
- Brincadeira, não me leve a mal. Sabe como é brasileiro, não?
 Faz piada até com a própria morte.
- Esqueci de perguntar a mestre Coelho se o MAR pra ele é masculino ou feminino.
Pra mim e pros franceses, que entendem mais de MAR e de mulher, que portugueses e brasileiros juntos, o MAR é e sempre será feminino.
Saúde mestre Coelho e muito obrigado pelas entrevistas!


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