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quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Velas ao vento - diário da Estrela - newsletter nº 17/2008



foto: Henrique Souza

Minha última expedição, que deveria ter sido pra Búzios, amigos, resumiu-se ao Peró, pra ser exato à minúscula prainha da península do Vigia, onde passei seis dias esperando o vento amainar...
O vento de NE soprou tão forte no período de 11 a 21 de agosto que fui obrigado a tirar a “Estrela d’Alva” d’água, após passar uma noite infernal, de 14 para 15 de agosto, com meus colchonete e saco de dormir encharcados, sem poder repousar um só instante, fundeado diante da extremidade sul da praia do Peró.
No dia 15 de agosto, por volta de meio-dia, surgiram duas linhas de arrebentação no local em que eu tinha jogado a âncora e onde já havia pernoitado, várias vezes, tranqüilo, no passado. Mas naquele dia o vento ultrapassou, suponho, a casa dos trinta nós, nas freqüentes rajadas e as ondas começaram a crescer e açoitar o casco da canoa vindas ora de NE, ora de NW. Fiz um balanço da situação e cheguei à conclusão que tinha as seguintes opções, pra sair daquele impasse:


1 - Tentar chegar à praia do Peró, atravessando a arrebentação.
2 - Içar a vela e tentar voltar para Cabo Frio.
3 - Tentar chegar remando à minúscula prainha da península do Vigia.
4 - Pedir reboque à Guarda Marítima de Cabo Frio.
5 - Abandonar a “Estrela d’Alva” à própria sorte e voltar nadando pra terra em cima da prancha de surf.
Com aquele estado de MAR e contra a força daquele vento todas essas manobras seriam arriscadas.
Em qual das quatro opções o amigo velejador apostaria todas suas fichas?
Optei pela terceira hipótese e obtive êxito, ou seja, não permiti que a MAR irada jogasse a “Estrela d’Alva”, comigo em cima, contra as muitas pedras que ladeiam a tal prainha. A tal prainha, não mede mais que vinte passos e encontra-se no final de um corredor de pedra de três metros de largura.


Passei seis dias acampado naquela tranqüila prainha, pensando, lendo, escrevendo e eventualmente conversando com os raros visitantes que apareceram por lá.
Dentre eles, uma agradável surpresa, duas jovens e simpáticas francesas, Astrid e Solenne, que me abordaram nestes termos:
- Muito bonito o seu barquinho! Bravo!
- Conversamos uma meia hora sobre a divina MAR, a incomparável Paris e meu filósofo predileto, que é francês e contemporâneo do achamento do Brasil. Dei esta única dica e ambas gritaram o nome dele em coro:
- Montaigne!
Foi minha vez de dizer Bravo! e dar um beijo em cada uma a título de prêmio. Desde quando beijo de um humilde canoeiro pode ser considerado prêmio?!
Mas brasileiro se aproveita de qualquer desculpa, pra tirar uma casquinha das gringas, não é verdade?
- Perguntei a elas se admitiam que o povo brasileiro considerasse o MAR masculino. Elas riram muito e uma delas disse.
- « Excusez-moi, mais vous êtes tous fous. »
Pra meu desgosto as lindas francesinhas se foram e eu esperei pacientemente que o vento se acalmasse durante seis dias. E o vento se acalmou um pouco no sétimo dia, mas não o suficiente para que o canal dos Papagaios pudesse ser atravessado com segurança. Resultado: mais um perrengue.


 Sobrevivemos sem grandes problemas, eu a “Estrela d’Alva”, mais um novo candidato a proeiro, o Júnior do Peró. Futuramente voltarei a este assunto e agradecerei nominalmente àqueles que nos ajudaram. Meus detratores alardearam que a “Estrela d’Alva” naufragou. Eu digo que a “Estrela d’Alva” deu uma suave virada, apenas a segunda, da sua breve vida de seis anos. E você, amigo velejador, pode escolher entre acreditar em mim ou nos meus detratores.
- Moral da estória, a grande qualidade do marujo é a paciência e não o arrojo. Quem esperou seis dias, pode esperar mais seis, mais trinta e seis se necessário for. Pensam que estou arrependido? Nada, só pensar no belo eclipse da lua, que assisti do alto da península do Vigia, me faz esquecer imediatamente os pequenos tormentos, digamos assim, à que Netuna e seu inseparável companheiro Éolo me submeteram. Coisa que eu encaro mais como lição do que como punição. Quanto aos meus detratores, só desejo, para o bem deles e meu, que eles velejem mais, muito mais. Já perceberam que quanto mais se veleja, mais feliz a gente fica e menos tempo nos sobra pra falar mal da vida alheia? Aposto com vocês que o Aleixo, o André, o Amyr, o Robert, o Torben, o Lars e a Isabel não falam mal da vida de ninguém. E mesmo que o desejassem, o que considero pouco provável, não teriam tempo. Aposto também, que cada um deles já virou com um veleiro pelo menos umas trinta vezes. Prezados detratores, virar com uma barco à vela de pequeno porte, em dia de um vento forte é coisa absolutamente normal. E dizer que naufragou, quem apenas virou não é nada elegante! Vai uma sugestão? Velas ao vento! Com licença!

Extrato da newsletter n° 17 de 4 de setembro de 2008 – projeto “Estrela d’Alva”.

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