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quinta-feira, 1 de junho de 2017

Leviatãs*, hidras*, górgonas*, circes* e outros "monstros marítimos" que infernizam a enseada - Ragevan 8





Enseada de Jurujuba - Mapa do J - 18

  
 - Jogamos mais duas partidas do mais divertido e emocionante dos jogos, colegas velejadores.

- Qual jogo?

- Ragevan 2!

- Nós quem?

- Eu mais minha querida "Estrela d'Alva" somamos 300 pontos (placar máximo) (atenção que as regras do
jogo mudaram) nos circuitos J - 17 e J - 18.

- O circuito J - 17 foi traçado por mim e o J - 18 por "Madame Probabilidade", a impiedosa.

- Falemos do J - 18, que foi o mais difícil e excitante.

- O dia começou com visibilidade reduzidíssima.

 - Às 6 h da manhã do dia 30 de maio de 2017, a enseada de Jurujuba estava quase que totalmente mergulhada numa densa névoa úmida e varrida por ventos, a princípio fortes de sul.

- E aí Estrela*, entramos na raia ou jogamos a toalha?

- Que pergunta! Entramos na raia é claro!

- E o frio?

- Tem problema não.

- E o fog?

- Vai dissipar-se já já.

- E o vento forte? 

- Vai amainar.

- Corajosa e otimista você, hein amiga?

- Sou e sempre fui!

- Tem medo não?

- Pra quem velejou mais de sete anos em MAR aberta* entre Arraial do Cabo e Búzios, Jurujuba é macia, doce e colorida como jujuba.

- Mais respeito com Jurujuba, Estrela*, que estamos falando do berço náutico de vários velejadores brasileiros importantes, entre eles os olímpicos Graels.

- Eu só disse o que penso.

- E os tsunamis causados pelas leviatãs*, hidras*, górgonas*, circes* e outros "monstros marítimos" que infernizam a enseada?

- Bota tudo em cima e deixa o resto comigo, que eu resolvo.

- Escrevi "monstros marítimos" e não monstros marinhos de propósito e um dia vocês entenderão...

- E foi com quase tudo em cima, que percorremos as 15 milhas do J - 18 visitando todos os 13 pontos notáveis do perímetro da enseada de Jujuba, perdão de Jurujuba.

- Fiquei tão feliz com nossa performance que apesar do cansaço e da perda temporária do "Alegria 2", (Obrigado pela ajuda amigo ER!) coroei a Estrela* com um diadema composto por 3 espelhos de dupla face rodopiantes...

- Mas quem pensava que a Estrela* era uma canoa de enfeite, agora já sabe que ela navega bem e não teme água doce ou salgada. 

- Seja água de canal, laguna, lagoa, enseada ou MAR aberta*.

- Não é verdade Estrela*?

- Quem afirmar o contrário estará mentindo.

Curiosidade: Copiei pra vocês lerem o extrato de "Os Trabalhadores da* MAR" de Victor Hugo (livro traduzido por ninguém menos que Machado de Assis, o homem mais inteligente e culto que raça brasileira já produziu até o presente) que deu-me a brilhante ideia de criar esta nova versão do meu antigo RAGEVAN.

"A noite desse dia, das 10 horas em diante, devia ser noite de luar.
Todavia, qualquer que fosse a boa aparência da noite, do vento e do mar, nenhum pescador estava disposto a sair nem de Hougue La Perre, nem de Bordeaux, nem de Houmet Benet, nem de Platon, nem de Port-Grat, nem da baía Vason, nem de Perelle: Bay, nem de Pezeris, nem de Tielles, nem da baia dos Santos, nem de Petit Bô, nem de nenhum outro porto ou angra de Guernesey.


E isso por uma razão simples: o galo tinha cantado ao meio-dia.

Quando o galo canta a uma hora extraordinária, não há peixe.
Nesse dia, pois, ao cair da tarde, um pescador que voltava a Omptolle teve uma surpresa. Na altura de Houmet Paradis, além de Brayes e Grunes, tendo à esquerda a baliza de Plattes Fougéres, que representa um funil virado, e à direita a baliza de Saint- Sampson, que representa uma figura de homem, o pescador acreditou ver uma terceira baliza. Que baliza era essa? Quando foi posta ali? Que banco indicava ela? A baliza respondeu logo a estas interrogações; mexeu-se; era um mastro. Não diminuiu o espanto do pescador. Baliza era para admirar; mastro ainda mais. Não havia pesca possível. Quando todos voltavam, porque saía aquele? Quem era? Por que?
Dez minutos depois, o mastro, caminhando lentamente, chegou a pouca distância do pescador de Omptolle. Este não pode reconhecer o barco. Ouviu remar. O ruído era de dois remos. Provavelmente era um homem só. O vento era norte; o homem navegava evidentemente para ir tomar o vento além da ponta Fontenelle. Aí era natural que abrisse a vela. Contava pois dobrar o Ancresse e o monte Crevel. Que queria dizer aquilo?
O mastro passou; o pescador foi para terra.
Nessa mesma noite, na costa oeste de Guernesey, observadores de ocasião disseminados e isolados fizeram alguns reparos a horas diversas e em diversos pontos.
O pescador de Omptolle acabava de amarrar o barco, quando um condutor de sargaço, a meia milha distante, chicoteando os animais na estrada deserta de Clotures, perto do Cromleche, nos arredores dos martelos 6 e 7, viu no mar, um tanto longe, em lugar pouco freqüentado, porque é preciso conhece-lo bem, do lado da Roque-Nord e da Sablonneuse, um barco içando uma vela. Deu pouca atenção, pois que era homem de carro e não de barco.
Meia hora depois, um estucador que voltava da cidade e contornava a lagoa de Pelée achou-se repentinamente quase em face de um barco que penetrara audaciosamente entre as rochas do Quenon, da Rousse de Mer, e da Gripe de Rousse. A noite era negra, mas o mar estava claro, efeito que se produz muitas vezes, e podia-se distinguir ao largo os navegantes. Só havia no mar aquele barco.
Mais abaixo e mais tarde, um pescador de lagostas, dispondo as suas tendas no areal que separa o Port Soif do Port Enfer, não compreendeu o que faria um barco que passava entre a Boue Comeille e a Moulrette. Era preciso ser bom piloto e ter pressa de chegar a algum lugar para arriscar-se a passar ali.
Sendo 8 horas no Catel, o taveneiro de Cobo Bay observou, com algum espanto, uma vela além da Boue do Jardim e das Grunettes, mui perto da Suzanne e dos Grunes do Oeste.
Não longe do Cobo Bay, na ponta solitária do Houmet da baía Vason, estavam dois namorados a despedir-se e a reter-se um ao outro; foram distraídos do último beijo por um vasto barco que passou por perto deles e dirigia-se para as Menellettes.
O Sr. Le Peyre des Norgiots, morador em Catellon Pipet, estava examinando, às 9 horas da noite, um buraco feito por larápios na cerca da sua horta, e ao mesmo tempo que averiguava os estragos, não pode deixar de observar um barco dobrando temerariamente o Croce-Point àquela hora.
No dia seguinte ao de uma tempestade, com o resto de agitação que sempre fica no mar, aquele itinerário era pouco seguro, a menos que se não saiba de cor todos os passos. As 9 horas e meia, no Equerrier, um pescador levando a rede, parou algum tempo para ver entre Colombelle e Soufleresse alguma coisa que devia ser um barco e que se expunha muito ao tempo. Há ventos perigosos nesse lugar. A rocha Soufleresse é assim chamada porque sopra constantemente os barcos que passam.
Ao levantar da lua, estando a maré cheia, e havendo pleno mar no estreito de Li-Hou, o guarda solitário da ilha de Li-Hou assustou-se ao ver passar entre a lua e ele uma longa forma negra. Esta forma ia resvalando lentamente por cima das espécies de paredes que formam os bancos da rocha. O guarda de Li-Hou pensou ver a Dama Negra.
A Dama Branca habita o Tau de Pez d'Amont, a Dama Cinzenta habita o Tau de Pez d'Aval, a Dama Vermelha habita a Lilleuse ao norte do Baric-Marquis, e a Dama Negra habita o Grand-Etacré ao este de Li-Houmet. Ao clarão da lua todas essas damas saem e encontram-se às vezes.
Rigorosamente essa forma negra podia ser uma vela. As longas fileiras de rochas sobre as quais parecia que a vela andava, podiam com efeito esconder o casco de um barco vogando atrás de si, deixando ver apenas a vela. Mas o guarda perguntou a si próprio que barco ousaria arriscar-se àquelas horas entre Li-Hou e a Pecheresse, e as Angullières e Lerée-Point. E com que fim? Pareceu-lhe mais provável que fosse a Dama Negra.
Estando a lua já acima da torre de Saint-Pierre-du-Bois, o sargento de Rocquaine levantou metade da escada da ponte levadiça e distinguiu na foz da baía, mais perto que a Sambule, um barco a vela que parecia descer de norte a sul.
Existe na costa sul de Guernesey, atrás do Plaininont, no fundo de uma baía, toda precipícios e muralhas, cortado a pique na onda, um porto singular que um francês, residente na ilha desde 1844, talvez o mesmo que escreve agora estas linhas, batizou com o nome de porto do quarto andar, nome geralmente adotado hoje.
Esse porto que então se chamava a Moie, é uma planura de rocha meio natural, meio talhada, de 40 pés de altura acima da água, e comunicando com as vagas por duas grandes pranchas em plano inclinado. Os barcos içados à força de braços por correntes e roldanas, saem ao mar e descem ao longo dessas pranchas que são dois trilhos. Para os homens há uma escada. Esse porto era então muito freqüentado pelos contrabandistas. Sendo pouco praticável, era-lhes cômodo.
Pelas 11 horas, alguns trapaceiros, talvez os mesmos com quem Clubin contava, estavam com os seus fardos na Moie. Quem trapaceia, espia; eles espiavam. Admiraram-se de ver uma vela desembocando repentinamente além das linhas negras do cabo Plainmont. O luar estava claro. Os contrabandistas espreitavam a vela, receando que fosse algum guarda-costa colocar-se de emboscada atrás do grande Hanois, mas a vela passou os Hanois, deixou atrás de si a noroeste a Boue Blondil, e mergulhou-se ao largo nas brumas lívidas do horizonte.
- Aonde diabo vai aquela barca? - disseram os contrabandistas."


Fernando Costa     

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