Ei! Não deixe de visitar as outras páginas!

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

bernard moitessier - velejador solitário



Para salvar minha alma

Imagine amigo velejador que você está liderando uma regata, com uma enorme vantagem sobre o segundo colocado. Imagine que o premio dessa regata é um globo de ouro, mais 5 000 libras oferecidos por um certo jornal inglês. Imagine que trata-se de uma regata extraordinária. Uma regata como jamais houve outra na historia da navegação à vela no planeta Terra. A primeira regata de volta ao mundo, em solitário, sem escalas, sem assistência e passando pelos três famosos e terríveis cabos Boa Esperança, Leewin e Horn. Imagine que você praticamente já venceu a regata, após ter completado sua volta ao mundo. Dê saltos de alegria, dance, cante, pois a chegada está mais próxima que nunca... Dezenas de barcos de todos os tipos e tamanhos estão se preparando para vir te recepcionar ainda no mar, com champanhe, fogos de artifício e os mais variados instrumentos de sopro e percussão. Porque? Porque há mais de três meses você é notícia nos principais jornais europeus. Curioso pra ler as manchetes? Ei-las! “Um desbravador dos oceanos”. “O lobo-mor de todos os mares”. “Um super-homem”. Agora me diga. Qual a última coisa que você faria numa situação dessas? Hein? Abandonar voluntariamente a prova, não é verdade?


Pois pasme amigo velejador, pasme, pois foi exatamente isso que o guru-mor dos velejadores fez. Estamos falando, é claro, do grande Bernard Moitessier, que na liderança da primeira e histórica regata de volta ao mundo em solitário, "The Sunday Times Golden Globe Race", em 1968-69, decidiu pura e simplesmente abandonar a prova e seguir viagem até o longínquo Tahiti, dando uma meia volta ao mundo a mais e ignorando prêmios, dinheiro e fama. Estou contando essa estória pra vocês, mas eu próprio reluto a acreditar nela. Conhecem a famosa mensagem que ele mandou aos amigos e parentes? Ainda não? Ei-la em português e no original em francês:

“Vou seguir em frente, por duas razões: porque me sinto feliz no mar e para salvar a minha alma.”

« Je continue sans escale vers les îles du Pacifique, parce que je suis heureux en mer et peut-être aussi pour sauver mon âme. »

Acho essa estória fabulosa... Mas existem outras coisas que me encantam na substancial biografia do Bernard Moitessier, leiam:

O que eu + admiro em Bernard Moitessier é que ele foi um dos primeiros a perceber que a cidade-grande é um erro, a sociedade-de-consumo um monstro e velejar em solitário a verdadeira glória.


O que eu + admiro em Bernard Moitessier é que ele soube definir em poucas palavras o veleiro ideal: resistente, seguro, simples e rápido em todos os ventos.

O que eu + admiro em Bernard Moitessier é que ele demonstrou que o cruzeiro, quando realizado com altos propósitos, pode ser mil vezes mais importante que a mais importante das regatas.

O que eu + admiro em Bernard Moitessier é que apesar de ser o grande mestre da vela mundial, jamais teve a pretensão de ser tomado como exemplo a seguir.

O que eu + admiro em Bernard Moitessier é que ele foi o primeiro a perceber que um veleiro é uma não máquina de filosofar.



“Um veleiro é a liberdade em si e não apenas um meio de transporte para se chegar a algum lugar.”

Bernard Moitessier



Newsletter n° 04 de 20 de fevereiro de 2008 - Projeto Estrela d'Alva

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seus comentários, críticas ou elogios farão meu blog evoluir. Obrigado por participar.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...