La Línea de la Concepción - Espanha - outubro de 2013 - foto de Fernando Costa
INCRUSTADOS NA ROCHA QUE NEM MEXILHÃO
Boa noite prezadas e prezados leitores deste oceânico serial-blog, dedicado à divina MAR, ao inteligente BARCO À VELA e ao sagrado MEIO AMBIENTE.
Sinceramente? Não sei como vocês suportam essa vida sedentária que a maldita sociedade de consumo nos impôs. Todo mundo parado. Todo mundo fixado num ponto. Todo mundo incrustado na rocha, como se fosse
mexilhão. Todo mundo agarrado na saia do cônjuge. Todo mundo vivendo uma “vida sentada, estática, regrada e revista”. Todo mundo cravado no chão como se fosse o pedregulho de Gibraltar, que nunca saiu do lugar, jamais levantou âncora, nem içou velas, nem navegou. Mas sejam sinceros comigo, digam-me a verdade, que mentira é coisa feia.
- Como vocês suportam passar dias, meses, anos, décadas morando na mesma casa de sempre, no mesmo bairro de sempre, na mesma cidade de sempre, no mesmo país de sempre, ao lado dos mesmos vizinhos chatos de sempre?
Sim, que os vizinhos de vocês não se ofendam, mas todos os vizinhos do mundo, por melhores que sejam, são no fim das contas, muito chatos. Porque? Uma razão basta. Quer coisa pior do que a gente ter uma testemunha ocular de todas as nossas saídas e entradas em casa? Querem mais uma? Quer coisa pior do que uma pessoa que conta pras outras tudo que sabe a nosso respeito, exagerando sempre nas sombras?
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PRISIONEIRO DA BRUXA SICORAX
Por exemplo, eu passei os últimos trinta dias na bela e sofisticada Marina Bay, em Gibraltar e confesso que já estava cansado. Bem menos cansado, do que quando fui prisioneiro da insuportável Bruxa Sicorax, durante o mesmo período de tempo, é vero, mas estava cansado. A inércia cansa. A inércia mata de tédio. Ser humano foi feito pra se MO-VI-MEN-TAR. Detalhe, em Gibraltar eu tinha os melhores vizinhos do mundo. Única exceção que conheço, à regra acima. Estamos falando do simpático casal britânico Ian e Lynne, do veleiro “Infinity”. Belo nome e belo veleiro. Vizinhos mais sutis impossível. Vizinhos mais gentis, impossível. Pasmem, mas eles não produzem nenhum tipo de ruido. Não discutem. Não brigam. Passam a maior parte do tempo ausentes de "casa". Uma casa chamada "Infinito". Gostam de dar presentes (deram-me uma bolsa cheia de ótimas roupas inglesas da mais alta qualidade, há duas semanas atrás) e possuem um cão chamado "Charlie", que não ataca, não late, não morde, nem cheira os outros vizinhos. Perfeitos, não? Mas hoje, amigos, hoje foi um dia especial porque “navegamos” da Inglaterra até à vizinha Espanha. De Gibraltar até La Línea de la Concepción. Duas milhas de distância percorridas em linha curva, que mudaram tudo pra melhor em minha pequena-grande vida.
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IA ESCREVENDO MULHER, MAS...
Este pequeno deslocamento no espaço mudou tudo em minha vida pra melhor, não que a Espanha seja melhor que a Inglaterra, mas simplesmente porque estava num lugar e mudei pro outro. Só por isso. Variar é o grande prazer desta vida. Sim, sim, eu já havia visitado La Línea de la Concepción. Mas isso foi há um mês atrás. Pra quem gosta de viajar, basta um mês se escoar, pro velho se renovar e novo envelhecer. Seja como for, faz tão bem a gente mudar de ares, de endereço, de coordenadas, de paradeiro, de hemisfério, de cais, de ponto de fundeio, de marina, de mu... Ia dizer de mulher, mas pra evitar conflito com as feministas de plantão, cambei a tempo.
Oceano Atlântico - 2013 - foto de Fernando Costa
MORO ONDE NÃO MORA NINGUÉM
Uma coisa lhes digo, se eu tivesse que morar muito tempo num mesmo lugar, gostaria de morar... adivinham onde? No "Ponto Nemo"! Também chamado de "polo oceânico de inacessibilidade". Sabe onde fica o Ponto Nemo não, amigo leitor? No oceano Pacífico. Trata-se do ponto mais afastado de terra da Terra, que deveria chamar-se Água. Entendeu? Quais as coordenadas do "Ponto Nemo"? Tomem nota pra não esquecer: 48°52.6′ S, 123°23.6′ O. A que distância o Ponto Nemo fica da terra mais próxima? 2.688 Km. O que eu faria assim que me mudasse pro "Ponto Nemo"? Velejaria o dia todo cantando aquela velha canção.
"Moro onde não mora ninguém
Onde não passa ninguém
Onde não vive ninguém
É lá onde moro
E eu me sinto bem"
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MOSQUITO INGLÊS, PRINCESA!
Mas eu, infelizmente, ainda não moro no "Ponto Nemo" e sim em La Línea da Concepción, Espanha, há apenas 13 horas. Só tem uma coisa que não gostei. Dos mosquitos de La Línea da Concepción. O mosquito espanhol é mais perverso que o mosquito inglês. “Mosquito inglês princesa!” Ha ha ha ha ha! O mosquito espanhol também é mais covarde. Ataca sempre em "esquadrilhas" de no mínimo cinco "aviões". Tinha me esquecido disso. Deixando de lado mosquitos ingleses ou espanhóis, no mundo dos meus sonhos, todos navegam sem cessar e jamais passam mais de um mês no mesmo lugar. No mundo dos meus sonhos, todos são navegantes solitários, todos são aventureiros, todos são nômades. Todos são nômades esguios, lépidos e fagueiros. Já perceberam que todo nômade é esguio e elegante e todo sedentário obeso é amorfo? Gosto de gente sedentária não. O sedentarismo faz mal à saúde. Engorda o corpo e a mente. E por falar em aventureiros, vejam esse vídeo que nossa amiga e colaboradora, Barbara Fournier enviou-nos de presente. Esses dois, são ainda mais cascudos que o Betão Padiani + seu fiel escudeiro Igor Bely. Concordam?
Sim ou não, um abraço e até breve, que agora eu vou dar um passeio de bicicleta em La Línea de La Concepción, Espanha... E vocês? Quando é que içam velas? Hein?
Fernando Costa
Pois é amigo, mas temos de ter dinheiro para viver.
ResponderExcluirPois é. Maldito seja o des-humano que inventou o capital, o trabalho e a propriedade. Por mim só haveria nesse mundo barcos à vela e tempo livre pra gente velejar alegremente dia e noite sem parar. :)
ResponderExcluirNão me digas nada, nem sequer consigo velejar. Acabei de desistir de comprar um veleiro devido aos custos da marina
ResponderExcluirUai? E quem precisa de marina pra guardar um veleiro? Veleiro de marina é "cachorrinho de madame". Veleiro que veleja é lobo selvagem e precisa de marina pra existir não. A "sombra" de uma ilha, de qualquer ilha lhe basta. Ou então uma baía protegida dos ventos, junto com os barcos dos pescadores. Marina pra que marina? Marina é pra quem gosta só de dizer que tem barco e em vez de navegar de verdade, dá uma voltinha dentro d'água de duas horas nos fins-de-semana ensolarados e volta correndo pra ver telenovela em casa. :)
ResponderExcluirFernando, um dia, você vem aqui a Lisboa e diga.me um local protegido dos ventos e dos ladrões onde se possa fundear um barco. A nossa costa é quase a direito, sem enseadas, poucas baías e praticamente sem ilhas. Vive-se na galiza e tinha lá muito locais, mas não aqui,
ResponderExcluirPassei ao largo de Lisboa em fevereiro deste ano, vindo da França, rumo à lusitana ilha da Madeira. Isso a mais de 30 milhas da costa. Mesmo usando binóculos deu pra ver detalhes não. Bem se Lisboa não tem baías, nem angras, nem enseadas pra abrigar seu futuro veleiro, amigo Paulo Correia, faça o mesmo que a família real portuguesa fez em 29 de novembro de 1807. :)
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