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domingo, 16 de dezembro de 2012

Franck Cammas - Diário da Vendée Globe - 36º dia - 16/12/2012



Franck Cammas eleito marinheiro do ano de 2012






Boa tarde amigas e amigos leitores

Hoje, se me permitem, falarei de um marujo-gaulês-de-altíssimo-nível, que não participa da atual Vendée Globe, que não participou de nenhuma das suas edições anteriores e nem pretende participar das futuras. Porque? Foi ele mesmo quem declarou, o que vocês vão ler a seguir, (isto se minha memória é boa), (no início desta semana), (no Salão Náutico de Paris). 
“- Não pretendo participar da Vendée Globe, porque não é navegando em solitário que se consegue levar um veleiro aos limites da sua
capacidade e eu sou radical, só gosto dos extremos.”
- Já sabem de quem estamos falando?
-  Ainda não?
 Estamos falando do homem que antes de ser marujo foi pianista.
Estamos falando do homem que venceu a Solitaire du Figaro em 1997 aos 24 anos.
 Estamos falando do homem que venceu a Transat Jaques Vabre em 2001, 2003 e 2007.
 Estamos falando do homem que ganhou o troféu Jules-Verne em 2010, após duas tentativas frustradas.
E aí já sabem qual é o nome do nosso homenageado de hoje?
Ainda não?
Estamos falando do homem que venceu a Route du Rhum em 2010, curiosamente em solitário.
Estamos falando do homem que venceu a última edição da Volvo Ocean Race, em sua primeira tentativa.
Estamos falando do marujo do ano de 2012
Bravo Frank Cammas!



CURIOSIDADE 1 - Latitudes dos diabos

Hoje, amigos leitores, não sei se vocês ligados, mas os dois primeiros super-velejadores-pseudo-solitários-da-Vendée-Globle mergulharam abaixo dos 50º de latitude sul. E costuma-se dizer que abaixo dos 40º não há lei e abaixo dos 50º não há Deus. Corajosos não? Desafiar as latitudes do diabo.

CURIOSIDADE 2 - O inverno vagueia lá fora...

Faz uma semana que estou hibernando dentro da cabine do meu veleiro "francês" "Doliceyou", só saindo pra fazer compras no super-mercado, jogar o lixo fora e tomar banho no confortável toilette da marina de Port Olona. Porque? Porque há mais de sete dias que chove dia e noite quase sem parar aqui em Sables d'Olonne. Ontem chegou a rolar alerta amarelo em todo departamento da Vendée. Mas querem saber? Estou sofrendo não. Ser humano se acostuma com tudo. E depois que meu amigo Claude Colas, o marujo-cantor, emprestou-me um aqueceder portátil, tudo virou chocolate pra mim. Mas quando o vento sopra forte, o "Doliceyou" começa a navegar, apesar de amarrado ao ponton F. Lembrei-me dum poema que meu querido filósofo Borboleta declamou muitas vezes pra mim. "Fica filhinho o inverno vagueia lá fora, levando em suas asas brancas o gelo da morte." Alguém conhece o autor desses versos?



CURIOSIDADE 3  - Há quatro anos atrás...

Escrevi o seguinte no meu excêntrico diário da Vendée Globe:



"Não sei se vocês estão ligados, mas o artista plástico mais famoso do século XX escreveu uma enigmática peça de teatro chamada "O desejo pego pelo rabo". Eu a li e achei super interessante, há uns tempos atrás, e resolvi hoje, não me perguntem porque, que eu sinceramente não sei, resolvi portanto hoje, utilizando o mesmo processo criativo de que Pablo Picasso lançou mão para criar sua peça, escrever um poema intitulado "a buja tesada pela escota" em homenagem a esta incrível, fantástica, extraordinária regata que é a Vendée Globe. Espero que vocês gostem. Se não gostarem segue-se um extrato da bela e quilométrica ODE MARÍTIMA do grande Fernando Pessoa, na pele de Álvaro de Campos, do qual vocês com certeza gostarão. Ei-lo.

A BUJA TESADA PELA ESCOTA

duro é resistir ao frio e à solidão
cheguei aos 32 nós em algumas surfadas
o vento superou a previsão 
o jeito foi arribar, enrolar o gennaker e arriar a mestra
estou um caco 
três tiveram que abandonar a regata 
perigoso demais 
atravessamos um nevoeiro muito espesso
aventura, sofrimento, prazer, desafios a vencer
não deu tempo de rizar as velas
as nuvens negras de chuva eram de apavorar 
meu pé continua inchado
essas variações de vento dão muito trabalho
o barco está ferido
o vento vai refrescar ainda mais esta noite
estou com a buja de temporal e a grande no terceiro rizo
tenho de prestar mais atenção 
o que mais me inquieta são os icebergs 
é a calma que antecede a tempestade
detesto quando a mar espanca meu veleiro
o dia mais longo do ano está próximo 
um crepúsculo azul sem fim
mas nós vamos alcançá-los"








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