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sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

"Que du bonheur" - Diário da Vendée Globe - 48º dia - 27/12/2012










Short Cuts

1 – Seria lamentável, mas existe o risco de após todo o hercúleo esforço feito nos últimos três dias, pra consertar seus hidrogeradores, o cascudo Bernard Stamm seja desqualificado da atual edição da Vendée Globe.

2 – Ainda não foi dessa vez que a dupla dinâmica Armel & François se separou e tudo indica que eles dobrem juntos o famigerado cabo Horn no último dia de 2012 ou primeiro de 2013 em condições meteorológicas bastante difíceis.

3 – O veterano Jean Le Cam escapou por pouco de um forte pé de vento de 37 nós, ele que já havia sobrevivido a um violento choque do seu bólido alado contra o dorso de uma grande vaga. Boa sorte Rei Jean!



 Hoje, se vocês me permitem, amigos leitores, em vez de falar dos super-marujos-pseudo-solitários-da-Vendée-Globe, falarei sobre mim mesmo, o-humilde-canoeiro-solitário-da-Costa-do-Sol. Permitem? Obrigado. Ouçam. Melhor, leiam! :)

1 - Eu que fui, durante sete meses, a única pessoa da cidade de Cabo Frio a morar a bordo de um veleiro, o providencial "Cisne Branco", de propriedade do nosso gentil amigo Paulão, (grande abraço Paulão e mais uma vez obrigado pela canja), sou agora talvez a única pessoa a morar a bordo de um veleiro, na charmosa e deserta (durante o inverno) marina de Port Olona em Sables d'Olonne. Que delícia, amigos, passar o dia inteiro mergulhado no mais profundo

silêncio. Não me falem em algazarra, matinada, alvoroço, tumulto, alarido, balbúrdia, barafunda, confusão, que nada disso é comigo. Tudo isso é coisa de brasileiro, eu sei. Mas neste quesito não sou, nunca fui brasileiro. Meu negócio é silêncio, paz, sossego, tranquilidade. Pra que? Pra ler, pra escrever, pra pensar, pra sonhar tomando chá quente, sem açúcar, sozinho, em pleno inverno, a bordo de um veleiro francês e ouvindo música erudita baixinho... Qual? O "Concerto Imperador" de Luís de Beethoven. Exatamente o que estou fazendo agora, mergulhado no mais absoluto silêncio. Muito bom. Bom demais. "Que du bonheur", como dizem meus anfitriões gauleses. "Que du bonheur"! Ué? O ventão que Windguru previu, não rolou? Só espero que essa calmaria não seja seguida por uma tremenda porranca-arranca-mastro.

2 - Eu sou talvez o único marujo desse mundo de Deus e do diabo idem, a ter circunavegado as 20 ilhas selvagens da Costa do Sol a bordo de uma canoa alada e serei talvez, em breve, se Netuna assim permitir, o único velejador a circunavegar numa única viagem as 20 mais belas ilhas brasileiras. Se, como dizia meu querido filósofo Borboleta, a idéia é o primeiro estágio da ação, minha excêntrica viagem já começou. Mas o que é que vocês acham que eu estou fazendo aqui em Sables d'Olonne, a não ser estudar navegação em solitário, na melhor escola do mundo sobre o assunto? Hein?


3 - Eu sou talvez o único blogueiro do mundo a publicar 100 posts por mês todo mês, desde que inaugurei o blog da Estrela, cujos temas principais são a divina MAR, o inteligente BARCO À VELA e o sagrado MEIO-AMBIENTE, há mais de dois anos atrás. Conhecem algum outro?


4 - Eu sou com certeza o único "marujo-jornalista" do mundo a contar a Vendée Globe, dia após dia, num diário redigido a bordo de um barco à vela, atracado no mesmo porto, Les Sables d'Olonne, partida e chegada desta regata radical, conhecida como o "Everest dos Mares".


5 - Eu sou um dos poucos marujos do mundo que só se locomove utilizando veículos ecologicamente corretos, na MAR, sempre a bordo de um barco à vela e em terra sempre montado numa bicicleta. Quem mais?


6 - Eu sou um dos poucos marujos do mundo que transportava seu bote de apoio a reboque de uma bicicleta. Lembram-se dos meus dois pequeninos, mas polivalentes "Alegrias", que a princípio todos desprezavam e que depois todos desejavam adquirir?


7 - Eu sou talvez o único marujo do mundo que possui um veleiro que "muda de cor" quando camba, a cascuda, apesar de pequenina "Estrela d'Alva".


8 - Eu sou talvez o único marujo do mundo que possui um veleiro que tem dois nomes. Um impresso no costado de boreste, outro no de bombordo. Qual? A canoa alada "Estrela d'Alva", que também se chama "A Mãe do Dia".


9 - Eu sou talvez o único brasileiro a ter voado do Brasil pra Sables d'Olonne, França, especialmente pra assistir a partida pra Vendée Globe e depois ter permanecido na cidade, à espera de que os super-marujos-solitários-da-Vendée-Globe regressem, após ter dado uma volta inteira ao planeta Terra, que deveria chamar-se Água.


10 - Eu sou talvez a única pessoa do mundo que pensa que "o barco à vela é o rei dos brinquedos pra ambos os sexos e todas as idades." Todos as demais adoram o maldito automóvel a motor. Arre! Ô coisa feia, mal-cheirosa, barulhenta e ecologicamente incorreta, um motor!




Viram como a maldita sociedade de consumo tentou, tentou, tentou de todas as maneiras passar o maldito rolo compressor por cima do meu cérebro, pra me tornar igual a todos os outros macróbios humanos do planeta e até agora não conseguiu? Viram como nesse mundo de maria-vai-com-as-outras só faço o que me dá na telha e ponto? Viram como o tempo passou, passou, passou e eu não me tornei boi-de-presépio em nenhum quesito? Viram como sou talvez o único ou um dos únicos, em pelo menos dez tópicos? Mas prometo que se vocês investigarem bem, encontrarão mais. 

Eu sei, eu sei, eu estou careca de saber que as dez originalidades acima listadas não tem o mínimo valor pra vocês. Só tem valor pra mim. É verdade. E daí? A vida é minha. O veleiro é meu. O blog é meu. A cabeça é minha. As mãos são minhas e com elas digito o que eu bem entender e ninguém tem nada a ver com isso. Porque nem a MAR, nem a folha de papel em branco, real ou virtual,  possuem trilhos. Pensar, escrever e "velejar por velejar" são exercícios de plena liberdade. Ligados? E agora com licença que eu tenho mais que fazer. Rsrsrsrsrs!








5 comentários:

  1. Tudo bem Fernando?

    Boa crítica sobre esse mundo de macróbios humanos maria-vai-com-as-outras, tomando aqui emprestado seus termos. Pedindo licença e lhe parafraseando: "Pensar, escrever, "tocar por tocar" e "velejar por velejar" são exercícios de plena liberdade. Acrescentei mais uma, mas é claro, se você permitir...

    Abraço grave e boa estada em Sables.

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  2. "Tocar por tocar" deve ser ótimo... Infelizmente não aprendi a tocar nenhum instrumento. Confesso que desperdicei meu precioso tempo aprendendo coisas que a famigerada sociedade de consumo considera úteis e que na verdade são inúteis. Creio que ao menos sei apreciar boa música. A propósito estou super feliz, porque organizei meu arquivo musical em pastas virtuais e posso em fim programar os concertos, a bordo do "Doliceyou", por compositor. Hoje por exemplo só ouvi Villa-Lobos. Gosta de Villa-Lobos amigo Rico? Se gostar, somos dois. Minha favorita dele é a Bachianas Brasileiras nº 4. Só não sei se gosto mais da versão para piano ou para orquestra. Bons ventos.

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  3. Opa Fernando! Sim, só não gosta de Villa-Lobos quem não conhece. Acredito até que você conheça mais sobre música erudita que eu. Gosto muito da linguagem do Jazz, pelo fato justamente dos músicos seguirem, sim, uma partitura mas depois ficarem livres para improvisar, fora que uma música tocada por um jazzista [entenda jazz como uma linguagem, não como o estilo estadunidense] tem sempre uma interpretação única, cada qual arranja à sua maneira. Livre não? Abraço grave.

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  4. Opa Fernando! Sim, só não gosta de Villa-Lobos quem não conhece. Acredito até que você conheça mais sobre música erudita que eu. Gosto muito da linguagem do Jazz, pelo fato justamente dos músicos seguirem, sim, uma partitura mas depois ficarem livres para improvisar, fora que uma música tocada por um jazzista [entenda jazz como uma linguagem, não como o estilo estadunidense] tem sempre uma interpretação única, cada qual arranja à sua maneira. Livre não? Abraço grave.

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  5. Boa noite amigo Rico, graças ao seu comentário pude corrigir este post. Tinha cometido um tremendo erro de edição. Não sei se percebeu. Comentando seu comentário, também gosto muito do Jazz e penso que pra que cada situação que você vive "na" MAR, de preferência velejando em solitário, existe um jazz ou um "clássico" (entenda-se música erudita no sentido mais amplo do termo) que serve perfeitamente bem como trilha sonora. Problema, problema grave é que ouvir música em "plena" MAR "embriaga", alucina, endoida. No entanto, não sei se você já percebeu, grande número dos super-marujos participantes da atual edição da Vendée Globe, embriagam-se dia e noite de música, o que pode ser mais perigoso do que a gente embriagar-se com álcool, penso eu. Bons ventos.

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