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quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

"Cruz Credo"! "Valha-me Deus!" - Diário da Vendée Globe - 40º dia - 20/12/2012



Jean Le Cam a bordo do seu open 60 "SynerCiel"





NOVIDADES 

1 – Continua o troca-troca na ponta da Vendée Globe. Pela "milésima vez" Armel Le Cléac’h  retoma a liderança, que pertenceu a François Gabart por menos de 24 horas. Brincadeira! :) E mais uma vez navegam os dois dentro do campo visual, um do outro. "Du jamais" vu diriam meus anfitriões gauleses.


2 – Enquanto isso o veteraníssimo Jean Le Cam plantou a aguda proa do seu belo open 60 "SynerCiel" no dorso de uma enorme vaga e foi arremessado pra vante com toda força, mas sobreviveu, apesar dos vários hematomas espalhados pelo corpo. É, amigos, o "Grande Sul", andou irado durante esta última semana. Outro assunto. Não sei  se vocês se lembram, mas há 4 anos atrás menos dois dias (18/12/2008) Yann Éliès sofreu um grave acidente a bordo do seu open 60 e foi socorrido psicologicamente pelo Marc Guillemot, que abandonou prematuramente a atual edição da regata.


3 – Já contei pra vocês que Jean-Pierre Dick teve a infinita coragem de escalar o mastro de dez andares do seu bólido alado durante a noite, em pleno oceano? Já sim, tenho certeza, mas como não consigo parar de pensar nesta incrível façanha volto ao assunto. Porque? Porque até o presente eu só escalei, uma vez, o mastro de quatro andares do veleiro "Onda Azul", do nosso amigo Ricardo-Coração-de-Leão, bem ancorado na Moringuinha, em dia de calmaria e tempo bom e mesmo assim tremi nas bases. Consigo nem imaginar as emoções radicais que Jean-Pierre Dick experimentou ante-ontem à noite. E vocês? Algum de vocês já escalou um mastro de dez andares de altura, durante a noite, abaixo dos 50º de latitude sul. Lá onde o celular divino não alcança. Lá onde adianta nada gritar "Cruz Credo"! "Valha-me Deus!"




Boa tarde amigas e amigos leitores!

Nem adianta me perguntar porque não me lembro mais, quando foi que me apaixonei pela Vendée Globe. A primeira notícia que tive do "Everest dos Mares" foi durante o ano 2000, eu estava em Paris realizando um
antigo sonho... Lembro-me da vinheta de chamada da regata. Bonita e envolvente música, mas só muito tempo depois me encantei definitivamente com esta regata sui-generis... Talvez tenha sido quando me dei conta que realizar a Vendée Globe, equivale a circunavegar de uma só vez uma ilha, uma imensa ilha toda congelada, a mais difícil das ilhas do planeta... A colossal Antártica. Eu que já era o louco das ilhas, passei a ser também o louco da Vendée Globe. Eu sei, eu sei muito bem que a Vendée Globe não é perfeita. Nem pode ser. Pois que nada feito pelo mão do homem atinge a perfeição. Mas se não é perfeita, a Vendée Globe é adorável, é excelente, é formidável. Querem saber do que mais gosto na Vendée Globe? 
Não vou falar de tudo, pra que esse post não se torne quilométrico.
- Cinco tópicos bastam?
- Tomem nota, pra comentar com os amigos mais tarde. :)

1 - O fato da Vendée Globe constituir a melhor escola de vela para marujos solitários do planeta. Na verdade trata-se de uma escola de vela para marujos em geral, já que todo marujo deve contar com a possibilidade de ser o único sobrevivente de um acidente em plena MAR. Sim, sim, incluindo os marujos de barco ou navio a motor, porque como vocês sabem todo motor pifa e normalmente pifa quando a gente mais precisa dele. Não é verdade? (É amigo lancheiro, pense que você pode morrer se ignorar a navegação à vela.) 

2 - A larga faixa etária dos super-marujos-solitários que participam da Vendée Globe (20 e 60 anos), o que proporciona aos espectadores um leque bastante amplo de comportamentos e opiniões sobre os episódios que pontilham a realização da regata.

3 - A riqueza dos eventos que antecedem a largada pra regata, em especial as exposições. Desta feita, a campeã, no meu ver, foi a exposição "Barcos de Legenda", graças à qual pude ver de perto o "Joshua" de Moitessier e uma excelente réplica do "Spray" de Slocum, entre outros.

4 - As Vacation Radio transmitidas do PC da regata em Paris, durante as quais assistimos as entrevistas diárias dos super-marujos-pseudo-solitários da regata em tempo real. Às vezes só audio, à vezes audio + vídeo.

5 - O cada vez melhor site da regata, http://www.vendeeglobe.org/fr/onde o internauta tem fácil acesso à uma imensa gama de documentos de excelente qualidade: textos, fotos, cartas, vídeos etc...

E vocês amigo leitores, do que é que vocês mais gostam na planetária Vendée Globe?

Curiosamente, abordei hoje o mesmo tópico abordado neste mesmo dia 20/12, há quatro anos atrás, com argumentos completamente diferentes e só me dei conta disto quando fui sacar o extrato abaixo. :)

Acabo de reler tudo que escrevi há quatro anos atrás sobre este empolgante assunto e achei o texto tão interessante que estou pensando em republicá-lo neste blog. Que tal?

Bons ventos a todos e até amanhã. 




CURIOSIDADE 3  - Há quatro anos atrás...

Escrevi o seguinte no meu excêntrico diário da Vendée Globe:


"Os corajosos marujos e marujas que disputam o imenso percurso da Vendée Globe palmo a palmo, jarda a jarda, milha a milha, com unhas e dentes, a ferro e fogo, com garra e ímpeto do mais selvagem dos gladiadores romanos, transformam-se num passe de mágica, em anjo da guarda dos mais fieis e dedicados, a partir do momento que recebem um pedido de socorro de um outro concorrente.
É o que está acontecendo neste exato momento, amigos.
O Marc Guillemot abandonou voluntariamente a regata, para socorrer o Yann Eliès, que fraturou o fêmur ontem de manhã durante uma manobra de troca de velas.
Passaram a noite aquartelados lado a lado no meio do oceano gelado das altas latitudes, um fornecendo calor humano e apoio moral ao outro. Querem saber a primeira coisa que o Marc disse pro Yann.
- Tô na área, pode contar comigo meu irmão!

- Mas e a regata? Você abandonou a regata por minha causa Marc?

- Regata? Quem falou em regata? Eu já até esqueci da regata. Estou aqui do seu lado, pra lhe ajudar no que for preciso e daqui só saio quando a fragata australiana que está vindo lhe socorrer chegar.

Lindo isso, não? Um exacerbado concorrente que se metamorfoseia de repente no mais solidário e compassivo dos anjos da guarda.

O nome disso é SOLIDARIEDADE HUMANA, meus irmãos!

- Gostaria de perguntar-lhes uma coisa. O que mais o Marc Guillemot poderia fazer pelo Yann Eliès além de dar-lhe o precioso apoio moral. Não sei se vocês estão ligados mas a situação é a seguinte:

- O Yann Eliès está com o fêmur fraturado e deitado no interior do seu Open 60, sem condições de se movimentar. Só pra vocês terem uma idéia da gravidade da situação, até ontem à noite, apesar de estar se contorcendo em dores, ele não conseguira nem pegar os analgésicos na sua farmácia, a dois metros de distância de onde ele se encontra caído.

- Corta!

-  O Marc Guillemot que velejou 100 milhas a toda brida até chegar ao lado do veleiro do Yann Eliès, ontem, por volta das 23 horas, está aquartelado a menos de uma milha de distancia. A pergunta que lhes faço é a seguinte. - O que mais poderia o Marc fazer pelo Yann? Outra pergunta, após o salvamento do Yann Eliès pela fragata australiana, o que será feito do seu intacto bólido alado "Generali"?"


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