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sábado, 22 de dezembro de 2012

Alex e Bernard nunca chegaram tão longe - Diário da Vendée Globe - 42º dia - 22/12/2012


NOVIDADES 

1 – A realidade está brincando de simetria de novo, brinquedo proibido para a ficção. Os três veleiros da ponta foram projetados pelo mesmo arquiteto francês - Quentin Lucet. Os três veleiros que navegam atualmente em sétimo, oitavo e novo lugares também foram projetados por um mesmo arquiteto inglês - Merfyn Owen.  É... parece que os franceses estão ganhando duplamente dos ingleses nesta edição da Vendée Globe. E tudo indica que a regata será vencida pela sétima vez por um gaulês. Trata-se portanto de uma regata internacional em termos de participação, mas absolutamente francesa em termos de vitórias. De vitórias e de pódios idem. Não, não, engano meu, houve uma inglesa no pódio da quarta edição e um inglês no pódio da quinta edição. E foi só. Todos os outros dezesseis lugares disponíveis no pódio, os franceses conquistaram ao longo das seis edições já realizadas do "Everest dos Mares". Resultado em termos de pódios? França 16 x 2 Inglaterra + resto do mundo. 


2 – Inacreditável, mas hoje de manhã Armel Le Cléac'h estava

navegando a apenas 1,4 milhas na esteira de François Gabart, embora o afastamento lateral entre os dois tenha aumentado para 30 milhas. Resumido enquanto que segundo e primeiro navegam juntinhos, os demais participantes seguem espalhados por centenas de milhas náuticas uns dos outros. Pode?

3 – Quando chegarem ao meio aritmético do Pacífico os super-marujos-pseudo solitários da Vendée Globe estarão a 2.200 milhas da terra mais próxima. Ou seja, possibilidade de socorro urgente em caso de acidente grave ou naufrágio praticamente nula. Haja coragem. Mas, mas, faltou o mas... Mas não nos esqueçamos que nesta regata original em quase tudo, a única esperança de socorro de um concorrente vem de seu adversário mais próximo.  Na edição anterior da regata, Vincent Riou salvou Jean "Moisés" Le Cam das águas geladas das imediações do famigerado cabo Horn, lembram-se?







Estou feliz amigas e amigos leitores. Querem saber porque? Estou feliz pelo Bernard Stamm e pelo Alex Thomson idem, que estão ambos participando pela terceira vez do "Everest dos Mares", tendo abandonado a prova nas duas tentativas anteriores. Esses dois cascudos velejadores nunca chegaram tão longe numa Vendée Globe,
Vejam bem. O ingles Alex Thomson participou da edição 2004-2005 da regata e foi obrigado a abandonar a raia em Cape Town.
Depois participou da edição 2008-2009 e jogou a toalha logo no início da prova. Já o simpático suiço Bernard Stamm participou das edições de 2000-2001 e 2008-2009 e foi obrigado a abandonar ambas não tendo ultrapassado nessa última a longitude das ilhas Kerguelen, no arquipélago da Desolação, nome assombroso.
Bem, desta feita estão ambos, Alex Thomson e Bernard Stamm em quarto e quinto lugar respectivamente e já venceram dois oceanos, o Atlântico (parte 1) e o Índico. Mas nem tudo são flores na vida desses dois grandes batalhadores da MAR. Os veleiros de ambos já sofreram um grande número de avarias, algumas bem resolvidas, outras não. Se eles não estiverem blefando pra confundir seus adversários, a situação deles é delicada. Parece que o caso mais grave é o do Bernard Stamm, coitado, que não pode mais contar com nenhum dos seus hidrogeradores. Mas felizmente ontem à noite ele tomou a sabia decisão de fundear ao abrigo da ilha de Auckland para tentar solucionar seus múltiplos problemas. Estou torcendo e esperando por ambos em Sables d'Olonne, mas sinceramente ainda não sei se estarei por aqui, quando eles chegarem de volta, se eles chegarem de volta. Veremos. Como todos costumam dizer a respeito da Vendée Globe, o caminho é longo. Eu acrescentaria um apêndice ao refrão. O caminho é longo E CHEIO DE OBSTÁCULOS.  A boa notícia é que ambos, Alex e Bernard já venceram dois dos três maiores obstáculos da regata.
Já venceram  o cabo da Boa Esperança e o cabo Leeuwin.
Falta o cabo Horn, mais conhecido como o "Ferrão do Escorpião das Américas" ou se preferirem "O Cemitério dos Marinheiros". Embora não seja supersticioso bati na madeira seis vezes aqui, viu? Três pra proteger o Bernard  e três pra proteger o Alex dos infortúnios da MAR. Bons, ótimos ventos pra ambos e pros outros super-marujos-pseudo-solitários da Vendée Globe idem.
Agora vocês vejam como é perigoso fazer previsões. Eu previ que esta sétima edição da regata teria um número recorde de abandonos e até o presente pequei feio. Sabem qual foi o meu erro, não? Aplicar as leis da estatística a uma amostra relativamente pequena. Eu raciocinei assim. Se em 10 dias de regata houve sete abandonos em 100 dias ocorrerão 70. Ledo engano. Toda vez que fizermos isso erraremos. Isso o quê? Aplicar as leis da estatística a amostras pequenas. As leis da estatística, prestem atenção amigos, só são válidas a partir de um certo tamanho da amostra. Concordam ou discordam? Resultado, em 10 dias de regata ocorreram 7 abandonos e em 40 dias de regata ocorreram igualmente 7 abandonos. E agora? Que conclusões tirar desses novos dados? Hein? A resposta é nenhuma. Porque? Porque como já dissemos em amostras pequenas todas as leis da estatística falham. Então nada podemos dizer com relação a expectativa de abandonos para o resto da regata? Podemos sim. Podemos dizer que quanto mais homens e barcos navegam juntos, maior é a chance de ocorrerem avarias graves a bordo. Porque? Porque os esforços repetidos fatigam os materiais e o cansaço de horas e horas de navegação fatigam os homens. Mas também podemos dizer que quanto mais homens e barcos navegam juntos, menor é a chance de ocorrerem avarias graves a bordo. Porque? Deixo vocês refletirem sozinhos a respeito. Autor que conta tudo aos seus leitores, acaba perdendo seus leitores. Porque? E eu sei lá porque?! Ih, o mundo não acabou ontem! Ainda bem que eu não comi todos os chocolates da minha pequena reserva, a bordo do meu aconchegante "Doliceyou". Inverno europeu sem chocolate e sem banho quente é duro de tragar. LoL! Falar nisso são 8 horas aqui em Sables d'Olonne, hora do banho. Folgando a escota de grande. Arribei!

Bons ventos a todas e a todos e até amanhã!





CURIOSIDADE 3  - Há quatro anos atrás...

Escrevi o seguinte no meu excêntrico diário da Vendée Globe:



"Sobre a impressionante estória do resgate do Yann Eliès ontem de manhã, o desempenho do comandante + tripulação da ágil fragata australiana “Arunta” é digno dos maiores louvores. Tudo foi perfeito, exceto por um detalhe. Qual detalhe? Não sei se devo mencioná-lo. Talvez o faça mais adiante. O que mais apreciei foi o toque de elegância final. Uma cestinha de natal enviada de presente para Marc Guillemot, o anjo da guarda do Yann Eliès e forte concorrente ao título de campeão mundial de solidariedade. – Curiosos pra saber o que continha a cesta? Um pão fresquinho + três laranjas + uma garrafa de vinho tinto + um boné personalizado. O tempo da operação de traslado do marujo vitimado para o nave salvadora, não ultrapassou os 45 minutos, apesar das monumentais ondas que rolavam na ocasião e a maior dificuldade encontrada, pasmem, foi localizar o passaporte do Yann Eliès no seu armário todo desarrumado.

-         Chegou a hora de apontar o único senão da operação, na minha humilde opinião.

Respondendo à entrevista concedida a um dos jornalistas do site da regata o comandante da “Arunta” declarou que...

Não, não, não é hora de criticar. É hora de elogiar.

Parabéns bravos marujos da fragata “Arunta”! Oxalá vocês jamais partam pra divina mar pra realizar outra missão, que não seja o salvamento da preciosa vida humana. Partir pro mar pra dar tiro de canhão e disparar mísseis contra nossos próprios irmãos terráqueos é inaceitável. Todos os seres vivos são filhos da Terra e portanto irmãos de sangue."




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