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quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

"A Praia dos Assassinatos" - Diário da Vendée Globe - 46º dia - 26/12/2012










Short Cuts

1 –  Javier Sansó vai ter de escalar o mastro do seu bólido alado 100% ecopowred de novo.

2 – O casal Armel & François está pensando seriamente em se divorciar.

3 – Bernard começou os trabalhos de tentativa de conserto dos seus dois hidrogeradores defeituosos, diante da praia de nome mais terrível desse mundo. "A Praia dos Assassinatos."



Bem, após ter apresentado a vocês, colegas velejadores, as dez razões pelas quais eu adoro a Vendée Globe (a ponto de voar do Rio de Janeiro até Les Sables d'Olonne especialmente para assistir a
partida para a regata) (dia 10 de novembro do corrente) (e posteriormente, encantado com tudo que vi e ouvi permanecer aqui), (redigindo dia após dia meu diário) (desta competição dublê de aventura humana), encerrarei neste post este instigante assunto, publicando um resumo. Sim, um resumo das minhas antigas dez razões para amar a Vendée Globe, acrescidas de mais cinco novas, fruto da minha estadia de 55 dias (de 1º de novembro até hoje) aqui em Sables d'Olonne, no berço, ponto de partida e de chegada do "Everest dos Mares".

QUINZE RAZÕES IMPORTANTES PARA ADORAR A REGATA PARA VELEJADORES SOLITÁRIOS VENDÉE GLOBE

(Extrato do diário da sexta edição da regata de 2008/2009 acrescido de cinco novos tópicos)


 1 – ENUNCIADO RADICAL


A Vendée Globe é uma regata de volta ao mundo em solitário, sem escalas, sem assistência e passando pelos três temíveis cabos Boa Esperança, Leeuwin e Horn. Não adianta procurar que não existe outra mais cascuda. Trata-se do “Everest dos Mares”. Se algum dia você vencer a Vendée Globe, colega marujo, pode dizer com toda convicção. - Eu sou o melhor velejador do mundo. Até lá seja, por favor, humilde. Curiosamente todos os super marujos que já participaram de uma Vendée Globe são humildes e os que ainda não o fizeram são pretensiosos. LoL !

 2 – ACLAMAÇÃO APOTEÓTICA

A retumbante aclamação digna de um herói grego, com a qual o entusiástico povo de Sables d’Olonne brinda a chegada de cada velejador que completa o longo percurso da regata (24.840 milhas náuticas nesta sexta edição) VENDÉE GLOBE,  constitui a sagração-mor que um esportista pode receber. Cinco Maracanãs cheios gritando seu nome em coro. Sabe lá o que é isso?

3 – SOLIDARIEDADE HUMANA

Os velejadores que travam entre si uma violenta batalha sem trégua, durante mais de oitenta dias pra vencer a regata Vendée Globe, transformam-se de repente em anjos da guarda dos mais zelosos, uns dos outros, em caso de emergência.

 4 - MARUJOS EXCEPCIONAIS

  Toda edição da Vendée Globe revela alguns marujos de exceção, que nos servem de modelo e fonte de inspiração para continuarmos progredindo na arte zen de velejar. Durante a sexta edição foi Michel Desjoyeaux quem reinou absoluto.

5 – ESTÓRIAS MIRABOLANTES

A Vendée Globe que já soma mais de 794* dias é rica de 1001 estórias de aventuras radicais que fariam inveja ao roteirista do mais mirabolante filme de James Bond. *Curiosamente a Vendée Globe poderá somar 1001 dias de "existência" se o último velejador a regrassar a Sables d'Olonne levar exatos 136 dias para concluir o longo trajeto da regata.

6 – O EXCELENTE SITE DA REGATA

O excelente site da regata, onde o amigo leitor poderá encontrar fotos, vídeos, artigos breves, artigos longos, cartas, mais uma infinidade de opções interessantes sobre a regata é uma verdadeira festa. Só falta um importante ingrediente, que o do “Brasil 1” teve. Um animado forum de debates (já não falta mais, pois que a possibilidade de interagir com comentários já está presente no atual site da regata).

http://www.vendeeglobe.org/fr/

7 - OS VIDEOCLIPS DE CADA OPEN 60

Os ótimos PROMO CLIPS que mostram os Open 60 velejando “a mil por hora”, em todos os ventos e filmados de vários pontos de vistas diferentes. O do “Cheminées Poujoulat”, do suíço Bernard Stamm é um dos meus favoritos.

8  - CIRCUNAVEGAÇÃO DA MAIS CASCUDA DAS ILHAS

A Vendée Globe na sua expressão mais simples pode ser definida como a circunavegação da maior e mais difícil das ilhas do planeta. Uma ilha-continente gelada e rodeada pelo mais violento dos oceanos. Eu que adoro circunavegar ilhas, não pude ficar alheio a esta particularidade.

9 – A INCRÍVEL METAMORFOSE QUE A MAR OPERA NOS VELEJADORES QUE CIRCUNAVEGAM O PLANETA TERRA.

Ao longo da Vendée Globe os velejadores vão se transformando pouco a pouco em “homens marítimos” e deixando de ser “homens terrestres”. Uma espécie de retorno às origens.
Essa incrível e profunda metamorfose, em tudo positiva, que eu já havia observado lendo os livros de Aleixo Belov, Joshua Slocum, Amyr Klink, Philippe Jeantot e Bernard Moitessier, manifesta-se através de vários sinais e sintomas que já comentamos.

10 - ESCOLA DE VELA PARA SOLITÁRIOS DA VENDÉE GLOBE.

Graças ao maravilhoso site da regata que ilustra de todas as formas possíveis seus visitantes e como os participantes desta prova fantástica, apelidada de "O Everest dos Mares", são alguns dos melhores velejadores do mundo, você aprende com eles como agir em todas as situações que um velejador pode enfrentar na mar.

11 - FAIXA ETÁRIA LARGA DOS PARTICIPANTES

 A larga faixa etária dos super-marujos-solitários que participam da Vendée Globe (20 e 60 anos), o que proporciona aos espectadores um leque bastante amplo de comportamentos e opiniões sobre os episódios que pontilham a realização da regata.

12 - RICO LEQUE DE ANIMAÇÕES E EVENTOS

A riqueza dos eventos que antecedem a largada pra regata, em especial as exposições realizadas em Sables d'Olonne. Desta feita, a campeã, no meu ver, foi a exposição "Barcos de Legenda", graças à qual pude ver de perto o "Joshua" de Moitessier e uma excelente réplica do "Spray" de Slocum, entre outros. (Para quem tiver a chance de vir a Sables d'Olonne)

13 - DESFILE DE CELEBRIDADES DO MUNDO DA VELA

A possibilidade de ouvir os depoimentos e até fazer amizade com importantes personagens do mundo da vela, que "desfilam" no Village Vendée Globe, no PC da regata em Paris e no Point Info instalado no páteo da prefeitura de Sables d'Olonne. (Para quem tiver a chance de viajar para Sables d'Olonne ou Paris)

14 - LES SABLES D'OLONNE

Oportunidade ímpar de conhecer uma charmosa cidade turística européia, com belas praias, ótimos restaurantes e outras curiosidades dignas de nota, como por exemplo o Museu das Conchas. Isso antes ou depois do imenso privilégio de assistir e fotografar a partida para a regata da Vendée Globe, da beira do famoso canal de acesso ao porto ou melhor ainda a bordo de uma embarcação. (Para quem tiver a chance de viajar para Sables d'Olonne)

15 - OS OPENS 60

Oportunidade de ver de perto, tocar e dependendo da sorte do visitante até embarcar em um ou vários open 60 de última geração, que ficam atracados durante vinte dias num "ponton" de Port Olona. (Para quem tiver a chance de viajar para Sables d'Olonne)



Entendem agora porque eu declarei em público, diante dos vinte super marujos solitários que participam ou participaram da atual edição da regata, que trocaria três copas do mundo de futebol com o Brasil campeão, por uma única Vendée Globe, da qual participasse ao menos um brasileiro? A bem da verdade, este último trecho sublinhado, o nervosismo impediu-me de dizer. LoL !

Fernando Costa





5 comentários:

  1. Belíssimo post! Obrigado por aceitar minha sugestão no post passado. Abraço grave, boa e longa estada por aí.

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  2. Obrigado pelo elogio amigo Rico, se tiver críticas elas serão igualmente bem vindas. Motivado pelo seu comentário acabo de retocar em vários pontos este post. Se tiver tempo disponível faça uma releitura. Minha estadia, aqui em Sables d'Olonne, melhorou bastante depois que passei a morar a bordo do "Doliceyou", com direito a internet full time, mais um aquecedor portátil, mais uma panelinha de cozinhar legumes no vapor. É... mas o Windguru previu ventos de até 42 nós na rajada pra dia de hoje. Tremendo aqui de medo, do meu veleiro ir pras pedras, como vários foram em fevereiro de 2010, durante a passagem da famosa tempestade Xynthia. Nada pode ser perfeito neste mundo de Deus e do diabo idem, não é verdade amigo Rico? Seja como for bons ventos e um grande abraço.

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  3. Retoquei todo o post acima, como lhe disse amigo Rico, mas depois fui fazer mais uma modificação e cometi um erro apagando tudo. Acabei recuperando o post original sem os retoques. Ou seja, trabalho perdido. Se por acaso você o tiver recebido por e-mail, faça o favor de enviar-me uma cópia. Obrigado e bons ventos.

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  4. Fernando, seu post reciclado perdeu-se no espaço virtual então pois quando recebo suas atualizações por e-mail só é possível visualizar o começo do post, pra se ler o resto é necessário clicar no link. Sinto muito. Encontrei aqui o post no e-mail, mas...
    Deve ser bacana morar nesse veleiro. Ano que vem, se tudo der certo, também terei esse privilégio. Abraço.

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  5. Tudo bem amigo Rico, quando tiver um tempo livre vou tentar polir o post de novo. Quanto a morar a bordo, é sim, é muito bacana, mas não se esqueça que requer vontade, aprendizado e adaptação. Às vezes um pequeno detalhe muda tudo pra melhor. Por exemplo, eu estava me sentindo muito desconfortável a bordo do "Doliceyou", porque estava "chovendo" dentro do barco, até que comprei alguns "absorventes de umidade" (umas "aspirinas" gigantes de 500 g ou 1000 g, que realmente absorvem a umidade do ambiente, coisas que eu nunca vi no Brasil e que são baratas aqui na França)e de repente o conforto voltou a reinar a bordo. Curiosamente, mesmo aqui na França, tenho encontrado poucas pessoas que já descobriram que morar a bordo de um veleiro é muito melhor do que morar em terra. Mas como também são poucas as pessoas que descobriram que uma salada de legumes, verduras ou frutas é dez vezes mais deliciosa, nutritiva e saudável que um sórdido e duplamente caro Big Mac...

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