Universidade de Todos os Saberes da Vendée Globe - Diário da Vendée Globe - 15º dia - 25/11/2012

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Perdemos ontem, amigos, ninguém menos que o doutor honoris causa em navegação à vela em solitário Vincent Riou.

Tenho tanta coisa interessante a lhes dizer, amigas e amigos leitores, sempre mudos, deste meu oceânico blog, que nem sei por onde começar... Sim, sim tenho assuntos que dizem respeito ao "Everest dos Mares" e outros não. Falemos antes de mais nada da Vendée Globe, que é a única regata do mundo que me encanta, a ponto de... a ponto de abandonar um curso de vela, pra mim caro, e pré-pago, na LES GLENANS, pra continuar frequentando todos os eventos, que se realizaram no irresistível Village Vendée Globe, entre 1 e 10 de novembro de 2012.

- Porque negligenciei o ótimo curso de vela da LES GLENANS? Porque a regata VENDÉE GLOBE é, na minha humilde opinião, a melhor

escola de vela do planeta. Escola pra todos os velejadores em geral e para os solitários inveterados e apaixonados como eu, em particular. Cada um dos super-marujos da Vendée Globe, amigos, é um excelente professor de vela. Professor ideal, que em vez de ensinar falando, ensina fazendo. Professor ideal que em vez de explicar, demonstra na prática, como se faz um veleiro avançar a toda brida com tudo em cima. Professor ideal que em vez de confinar os alunos numa intragável sala de aula, atravessa três oceanos em série mostrando ao vivo, a cores e em tempo real, como é que se veleja com rapidez, segurança e elegância da maneira mais moderna que os humanos podem navegar. Em solitário!!! Vocês se dão conta, amigos leitores, o quanto nós "des-humanos" tivemos de evoluir pra sermos capazes de atravessar um oceano em solitário? Vocês sabiam que dos 6.120 anos que a doida raça humana navega pelos mares do planeta Terra, que deveria chamar-se ÁGUA, há apenas 120 anos, que alguns poucos navegantes, navegam em solitário? Aposto que não sabiam.

E é porisso, por saber que a Vendée Globe é a melhor escola de vela para solitários do mundo, que cada vez que um super-marujo abandona a regata, fico triste. Fico triste é pouco. Fico deprimido. Fico arrasado. Quando penso que já perdemos sete mestres da UNIVERSIDADE DE TODOS OS SABERES DA VENDÉE GLOBE, em apenas 15 dias de regata "tristíssima tristeza me entristece". Perdemos ontem, amigos, ninguém menos que o doutor honoris causa em navegação à vela em solitário Vincent Riou. Perda irreparável. Perda irreparável. Perda irreparável. Perdemos ontem o único campeão que participava desta edição da regata. Soteropolitanos do meu Brasil, façam-me o favor de recepcionar mestre Vincent Riou da melhor forma possível, para não sermos injusto com ele, como a dura e simétrica REALIDADE acaba de ser.

http://www.vendeeglobe.org

CURIOSIDADE 1 – Primeira festinha a bordo do "Doliceyou", meu segundo veleiro

Ontem, amigos, tive o imenso prazer de receber a bordo do meu pequenino "Doliceyou", um Daimio 23, atracado em Port Olona, (a alguns metros do famoso cais de onde zarpam de quatro em quatro anos os super-marujos-solitários da Vendée Globe), que comecei a comprar, quatro simpáticos cidadãos franceses que vieram festejar comigo esta feliz e surpreendente aquisição. Quem foram eles? Meu providencial anjo da guarda Agnes, o polivalente fotógrafo Julien e os antigos proprietários do "Doliceyou", os marujos Poupin e Colas, este último, além de marujo é músico e cantor. Noite de inverno das mais quentes, se é que me entendem. Sim, sim, agora possuo dois veleiros, amigos, um brasileiro e outro francês, mas não posso velejar nenhum dos dois no momento. Paciência. :) 

CURIOSIDADE 2 – Comparando...

Só pra vocês terem idéia da importância desse super-marujo-solitário, que acaba de abandonar a regata e está rumando neste exato momento para Salvador da Bahia (Vincent Riou) saibam que além de ter vencido a quinta edição da Vendée Globe e ter sido podium (terceiro lugar) na edição anterior, ele detém os recordes de mais rápida singradura entre:

 Sables d'Olonne e o cabo da Boa Esperança : 24 dias, 02 horas e 18 minutos
Sables d'Olonne e o cabo Leeuwin : 36 dias, 12horas e 48 minutos

Soteropolitanos do meu Brasil, façam-me o favor de recepcionar mestre Vincent Riou da melhor forma possível, viu? 

CURIOSIDADE 3 - Há quatro anos atrás...

Não sei se vocês ainda se lembram, mas há quatro anos atrás eu comecei assim a 15ª página do meu diário do "Everest dos Mares":


"A maioria dos tubarões, cações e peixinhos da atual edição da fantástica Vendée Globe já ultrapassou três obstáculos importantes até o presente momento, amigos:
Primeiro obstáculo - Uma violenta tempestade no temperamental golfo de Gasconha, logo nos primeiros dias da prova... Tempestade esta que liquidou com os sonhos de quatro importantes concorrentes: Kito de Pavant, Yannick Bestaven, Marc Thiercelin e Alex Thomson. Vendée Globe pra eles, só daqui a quatro anos... Pena.

Além dessas quatro desistências, vários outros marujos foram obrigados a voltar ao porto de origem, pra consertar danos diversos, ocorridos em seus bólidos alados. Todos esses lamentáveis eventos estão super bem documentados em textos, vídeos e fotos, nos arquivos do excelente site da Vendée. O que ignoramos, o que todos ignoram, amigos, são os danos invisíveis, provocados pelos repetidos esforços, que as mastreações e cascos dos barcos sobreviventes sofreram, durante aquela traiçoeira tempestade, e que somados a outros tantos, poderão causar-lhes avarias futuras, ao longo da prova, em locais distantes, bem distantes de terra. Eis o "quid obscurum" da regata. Eis o "quid obscurum" de qualquer aventura marítima, à vela. A fadiga invisível dos diversos materiais, usados na construção do veleiro em questão. Mal sem cura. Moléstia sem diagnóstico e consequentemente sem remédio. Doença sem sintoma que só se agrava com o passar do tempo e a continuidade da viagem."