Ei! Não deixe de visitar as outras páginas!

sábado, 27 de outubro de 2012

(13/3/2009) - Internet, dinheiro, sexo e mulher - Diário da Vendée Globe 2008/09 - post 122










122º dia

vendée globe

Internet, dinheiro, sexo e mulher

Raphaël Dinelli, o único velejador que participou da atual edição da Vendée Globe, a residir em Sables d'Olonne, retorna amanhã ao seu porto de origem, após provar que é possível dar uma volta completa ao planeta Terra a bordo de um veleiro, usando somente fontes de energia limpas: eólia, hidrálica e solar. Oh admirável mundo novo! Como os homens podem ser inteligentes quando
usam seus cérebros.

Salve amigas e amigos velejadores

Tudo indica que esta 6ª e acidentada edição da Vendée Globe conclua-se na próxima segunda-feira com a chegada do último participante, Norbert Sedlacek, ( a bordo do seu antigo e combalido Nauticsport- Kapsch, pintado com uma das cores da minha querida e inseparável canoa a remo e à vela “Estrela d’Alva” ), o primeiro cidadão austríaco a participar e concluir esta “sui generis” aventura humana. – Como? - O amigo velejador ignora o significado da expressão latina “sui generis”? Não deveria, mas vou ajudá-lo transcrevendo aqui seu significado, de acordo com a deslumbrante Wikipedia . “Sui generis”, preguiçoso leitor, significa literalmente "de seu próprio gênero", ou seja, "único em seu gênero". Usa-se como adjetivo para indicar que algo é único, peculiar: uma atividade sui generis, uma proposta sui generis, um comportamento sui generis.

 Não sei como as pessoas ainda permanecem na dúvida após o advento da enciclopédia das enciclopédias, a inacreditável Internet. O único invento humano que correspondeu às imensas expectativas que nutri durante a minha adolescência sobre os míticos anos 2000. Não deveria, mas vou contar mais uma das minhas fantasias pra vocês, amigos leitores. Queria ter um barco à vela indestrutível, inafundável, com internet a bordo e raio de ação infinito pra passar o resto dos meus dias navegando duplamente.. .  Na mar misteriosa, bela, profunda e salgada, bem longe da costa e durante as calmarias na internet.  Infelizmente a prodigiosa WWW está ameaçada de colapso, previsto para o ano que vem. Espero que mais uma vez os arautos do desastre-mor se enganem. Como viver sem barco à vela e internet amigos? Digam-me!

 Só pra vocês terem uma idéia, acabei de entrar com a expressão latina “sui generis” na providencial janelinha do google e encontrei, pasmem, nada menos que 2.320.000 citações em  0,04 segundos. Depois entrei com Vendée Globe e recebi 4.700.000 resposta em 0,25 segundos. Depois entrei com barco à vela e encontrei 2.140.000 citações em 0,06 segundos. Depois entrei com internet e recebi 2.200.000.000 respostas em 0,06 segundos. Depois entrei com mulher e encontrei 54.100.000 citações em 0,06 segundos. Depois entrei com sexo e recebi 102.000.000  respostas em 0,10 segundos. Depois entrei com dinheiro e encontrei 37.900.000 citações em 0,17 segundos.   Isto porque até o presente apenas 16% da população mundial está plugada. Imaginem quando... Chega! Quero mais não. Nada disso existe! Estou delirando amigos.  Voltemos, como diria minha avó Balbina à vaca fria. O que eu dizia a vocês é que a atual e sexta edição da rainhas das regatas está com seus dias contados. Um, dois três, quatro dias. Termina na segunda. Eu que fui, se não me engano, o maior apologista da Vendée Globe no Brasil, durante os últimos 4 meses, gostaria de fazer-lhe algumas cinco críticas. Isso acreditando piamente, como acredito, que a melhor coisa que podemos fazer para o bem de algo ou alguém que amamos é um crítica sincera.

Crítica nº 1 – Graças à Vendée Globe, a mais bela invenção da divindade, o oceano foi poluído com dois open 60 inteiros, o “Generali” do Yann Eliès mais o “Veolia Environnement” do Jean Le cam, mais cinco mastros acompanhados de imensas velas e longas cordagens, mais dois bulbos de quilha. Acrescente-se a isso, tudo que os 30 velejadores participantes da regata jogaram ou deixaram cair na mar.

Crítica n° 2 – A comissão de regata manteve a data e a hora da partida da prova apesar de saber que uma tempestade violenta se abateria sobre o golfo de Gasconha logo nos primeiros dois dias, o que equivale a obrigar 30 nadadores a participar de uma travessia do canal da Mancha, 30 segundos após terem sido despertados. Um pseudo assassinato. Concordam? Pra mim este foi o principal motivo de tantas quebras e abandonos. Amigos, eu não conheço a experiência não, nem quero conhecer, que se sou maluco, sou só maluco beleza, mas enfrentar uma tempestade em solitário na mar nos primeiros dias de viagem, a bordo de um veleiro é, suponho, a pior e mais mortal das experiências. Primeiro que todo marujo só deveria partir pra mar após uma semana na mar e segundo, porque só deveria enfrentar uma tempestade na mar após um mês de mar. O certo, o sensato, o lógico, na minha humilde opinião, seria adiar a partida da regata. Esperar a tempestade passar e aí dar o tiro de largada. Eu, na hipótese de participante desta Vendée Globe faria o seguinte. Partiria normalmente e bem antes da tempestade entrar, voltaria pra Sables d’Olonne pra sanar uma avaria fictícia qualquer e só sairia do porto após a tempestade passar. Aliás é o que dizem alguns que o esperto Michel Desjoyeaux fez. Será? Se for ele merece o título de professor. E eu também, pois que a melhor definição de professor é “aquele que aprende”.


Crítica nº 3 – Perturbar o sagrado sono dos velejadores participantes da regata, obrigando-os a participar de um “vacation radio” quase diária num horário fixo, e cômodo só para quem vive em terra, atrelado à maldita carroça da sociedade de consumo e subordinado aos interesses do “monstro”. Se o amigo leitor quiser saber a quem me refiro quando digo monstro entre aspas leia o livro “O longo caminho” do grande, do preclaro, do magnífico Bernard Moitessier. Que eu tenha notícia, o único campeão em potencial, de uma regata oceânica, que teve coragem de dar um solene pontapé no rabo sujo do “monstro”. Conclusão: a “vacation radio” que foi criada com a finalidade de aumentar a segurança dos velejadores na mar, transformou- se em mais um instrumento de publicidade, em detrimento justamente da segurança dos velejadores na mar. Em suma, tremendo contra-senso.

Crítica nº 4 – Não divulgar a Vendée Globe no Brasil, crítica que estendo a todas as emissoras de TV brasileiras, que abusam dia e noite da nossa paciência com telenovelas imbecis, filmes hollywoodianos da pior qualidade, reality shows idiotas e telejornais tendenciosos, negligenciando eventos edificantes como a maior, mais ousada e moderna das regatas. Querem saber o que faço nos raros momentos em que ligo a TV amigos? Vou zapeando freneticamente até encontrar algo que valha a pena assistir. Encontro, quando encontro alguma coisa interessante pra se ver no NATGEO, no HISTORY CHANNEL e DISCOVERY, que já começaram a cair na vida. O resto, o resto... melhor nem falar. Aqui no Brasil, a crítica, em vez de ser agradecida pelo criticado, é paga com a ofensa, a perseguição e até com a morte. Passemos adiante.

Crítica nº 5 – O excelente site da regata não dispunha de uma janela de busca interna, o que me obrigou a um esforço enorme de pesquisa. Como pesquisar é divertido e edificante esse foi, na minha humilde opinião, dos males o menor.

Tinha mais críticas a fazer, mas por absoluta falta de tempo terei de arribar.

Bons ventos amigos e amigas velejadoras

Fernando “Estrela d’Alva” Costa

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seus comentários, críticas ou elogios farão meu blog evoluir. Obrigado por participar.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...