66° dia
Vendée Globe
God save the Queen!
O incansável Marc Guillemot escalou mais uma vez o mastro do seu "Safran", à sombra das Malvinas e ao final de seis horas de trabalho, pode, enfim, içar a vela grande até o tope e partiu todo feliz rumo ao norte, a 2.000 milhas atrás do professor.
Vejamos se o amigo leitor sabe quem é quem, dentre os 12 cascudos e ilustres marujos e marujas que ainda disputam a atual 6ª edição da Vendée Globe. Dizem os entendidos que o cérebro humano foi feito pra
jogar. O jogo é o seguinte, amigos. Escrever ao lado do nome de cada velejador da lista abaixo o número que corresponde ao seu retrato. A legenda de cada par de fotos constitui a última notícia disponível no excelente site da regata sobre cada concorrente. A resposta do teste encontra-se no final. Divirtam-se.
http://www.vendeeglobe.org/fr/
Marc Guillemot (FRA/Safran)
Steve White (GBR/Toe in the Water)
Raphaël Dinelli (FRA/Fondation Océan Vital)
Dee Caffari (GBR/Aviva)
Michel Desjoyeaux (FRA/Foncia)
Rich Wilson (USA/Great America III)
Arnaud Boissières (FRA/Akena Verandas)
Norbert Sedlacek (AUT/Nauticsport-Kapsach)
Roland Jourdain (FRA/Veolia Environnement)
Samantha Davies (GBR/Roxy)
Armel Le Cléac'h (FRA/Brit Air)
Brian Thompson (GBR/Bahrein Team Pindar)
1
Este velejador que participa pela segunda vez da Vendée Globe, nasceu curiosamente na Áustria, um país não banhado pelo mar e vem navegando em penúltimo lugar a 6.600 milhas do líder. Tudo indica que ele será em breve o lanterninha. Pensam que ele está triste? Nada. A grande alegria dele é "velejar por velejar" e se possível completar pela primeira vez o longo percurso desta hercúlea regata, que foi obrigado a abandonar em 2004.
2
Este velejador francês que vem liderando a regata há 29 dias, perdeu mais de 100 milhas durante as últimas 36 horas para o segundo colocado. Todos acham que ele enfrenta algum problema a bordo, o que ele insiste em negar, dizendo que tá tudo bem.
3
Este velejador norte-americano é, junto com a Samantha Davies, um dos alunos de vela do professor Desjoyeaux, apesar de mestre em matemática diplomado em Harvard e mais velho dentre os participantes da regata. Vem atualmente navegando em 10° lugar a 5.000 milhas do líder da regata, talvez mais ao sul do que aconselha a prudência. Só espero que ele veja vários, sem bater em nenhum iceberg.
4
Este velejador de origem francesa foi o segundo a abalroar uma baleia, durante esta Vendée Globe, o que causou sérias avarias ao seu open 60, que ele felizmente já reparou com os recursos de bordo. Responde pela alcunha de "Bilou" e foi o único que conseguiu acompanhar o ritmo infernal que o professor Desjoyeaux imprimiu à regata.
5
A última notícia que possuo deste velejador inglês, casado e pai de 4 filhos, que responde pela alcunha de "morcego" e que se endividou até a alma, pra financiar a construção do seu open 60, sem a ajuda de patrocinadores, é que ele navegava tranqüilo a 2000 milhas a NW do cabo Horn, ao sabor de um bom vento de alheta de 27 nós.
6
Este jovem velejador de origem francesa, vulgo "Chacal" e ex-fiel escudeiro do Vincent Riou, que quebrou o mastro do seu "PRB", logo após salvar o Jean Le Cam das águas, foi emboscado por um centro de alta pressão, ao largo da costa do nosso Rio Grande do Sul e vem se arrastando em terceiro lugar.
7
Esta velejadora britânica, a primeira mulher a completar uma volta ao mundo em solitário, de E para W, contra os ventos e correntes dominantes, está com sua vela grande em frangalhos, o que poderá inviabilizar seu regresso a Sables d'Olonne. Mas antes disso ela precisa conseguir dobrar o famigerado cabo Horn amanhã, de baixo de vento forte e por cima de ondas colossais. God save the Queen!
"God save our gracious Queen,
Long live our noble Queen,
God save the Queen:
Send her victorious,
Happy and glorious,
Long to reign over us:
God save the Queen."
8
Este velejador de origem francesa, fiel companheiro, pra não dizer namorado, da velejadora inglesa acima, perdeu a cúpula da antena do seu receptor satélite, numa das duas vezes em que deu com o mastro do seu open 60 n'água, ontem, durante a violenta tempestade que vem enfrentando a NW do cabo Horn.
9
Este velejador inglês está dobrando o Cabo Horn no exato momento em que escrevo estas linhas ( no meu relogio são 22 h ). Isto ao sabor de ventos de mais de 40 nós e ondas de 10 a 12 metros de altura. Oxalá tudo corra bem.
10
Este velejador de origem francesa se notabilizou como o anjo da guarda do Yann Eliès, que fraturou o fêmur no oceano Índico. A última notícia que possuo dele, é que tinha parado em Stanley Bay, nas ilhas Falkland, com a intenção de consertar o trilho do mastro do seu open 60 ( onde corre a vela grande, que ele não conseguia içar alé do terceiro rizo ). Detalhe seu primeiro desafio era pegar um bóia à vela, já que havia perdido ambas as âncoras na ilha Auckland.
11
Esta jovem velejadora inglesa, tornou-se a namoradinha da Vendée Globe, às custas de muita simpatia e bom humor e encontra-se navegando em quarto lugar ao norte das ilhas Falkland, após ter sido homenageada por um avião de caça inglês que sobrevoou seu open 60 a baixa altitude, dando-lhe um imenso susto.
12
Este velejador de origem francesa, e que participa pela quarta vez de uma Vendée Globe, a bordo de um dos mais antigos veleiros da frota, e que no entanto é, que eu saiba, o único ecologicamente correto, utilizando apenas fontes de energia limpas, começou a duvidar se possui alimentos suficientes pra chegar de volta a Sables d'Olonne.
Resultado do teste:
Norbert Sedlacek (AUT/Nauticsport-Kapsach) - 1
Michel Desjoyeaux (FRA/Foncia) - 2
Rich Wilson (USA/Great America III) - 3
Roland Jourdain (FRA/Veolia Environnement) - 4
Steve White (GBR/Toe in the Water) - 5
Armel Le Cléac'h (FRA/Brit Air) - 6
Dee Caffari (GBR/Aviva) - 7
Arnaud Boissières (FRA/Akena Verandas) - 8
Brian Thompson (GBR/Bahrein Team Pindar) - 9
Marc Guillemot (FRA/Safran) - 10
Samantha Davies (GBR/Roxy) - 11
Raphaël Dinelli (FRA/Fondation Océan Vital) - 12
MOITESSIER DOBRANDO O CABO HORN
Décima estrofe do "poema" em versos livres MOITESSIER DOBRANDO O CABO HORN que escrevi, utilizando metade das palavras do próprio Moitessier, em seu clássico “O LONGO CAMINHO”, traduzido pela Carmen Ballot e publicado pelas Edições Marítimas.
Parte 10
tinha decidido capear, mudei de idéia
já perceberam quantas vezes mudamos de idéia na mar, colegas marujos?
na mar somos todos mais volúveis que a mais volúvel das mulheres
na mar mudamos de idéia 10, 20, 30 vezes por dia
mudei de idéia vou seguir em frente
keep walking!
keep sailing!
pra frente é que se anda!
pra diante é que se navega!
nada de me acovardar diante do cabo Horn
o Horn detesta marinheiros covardes
leme a meio e seja o que Deus, se existir, quiser
se Deus quiser que eu soçobre no cabo Horn seja feita sua vontade
se Deus quiser que eu dobre o cabo Horn que assim seja
eu que de ordinário sou ateu
virei deísta nas vizinhanças do Horn
ha ha ha!
não contem isso pros meus detratores, viu?
é isso, não vou aquartelar
nem rizar mais as velas
nem orçar
vou seguir em frente
leme a meio
rumo 090
se eu reduzisse os panos nesse momento alguma coisa poderia romper-se
o Horn está perto demais pra que eu reduza os panos
e a força do vento é 9 na escala beaufort
as rajadas sucedem-se violentas
as vagas sucedem-se colossais
é o funil da passagem de Drake que endoida o vento
é o alto fundo que se estende ao sul do Horn que emprenha as vagas
a cada rajada, as velas inflam ao máximo
parece que vão arrebentar
e “Joshua” levanta vôo por sobre a crista das ondas
por alguns segundos a mar fica toda branca
espumante como champagne derramado
“Joshua” orça uns 10° a cada rajada e eu me agarro com toda força à adriça da grande
um idéia insana me toma de assalto
ir até o púlpito do gurupés pra melhor sorver este selvagem espetáculo
mas a coragem me falta e eu não vou além da bujarrona
turbilhões de espuma voluteam no ar a sota vento
uma espécie de efêmera neblina se forma
no canal de vento que se estende entre a buja e a grande após cada nova rajada
a lua escondeu-se, mas sua claridade traspassa as nuvens
tudo parece irreal sob essa luz fantasmagórica das altas latitudes
olho pra proa do meu outrora pacato “Joshua”
e o vejo transformado no irado Flyng Dutchman
se Richard Wagner tivesse dobrado o cabo Horn antes de compor o seu Navio Fantasma
nenhum espectador suportaria ouvir o Navio Fantasma
( continua num futuro post )
Bons ventos amigas e amigos e até amanhã se Deus quiser
Fernando "Estrela d'Alva" Costa
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