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quinta-feira, 20 de setembro de 2012

(02/2/2009) - Bárbara, cabelo e bigode - Diário da Vendée Globe 2008/09 - post 85






85º dia
vendée globe
bárbara, cabelo e bigode

Muito bom dia amigas e amigos velejadores

sugestão do autor: ler esta mensagem ao som de a "Cavalgada das Valquírias" de Richard Wagner, a mesma trilha sonora de que me servi para escrevê-la http://br.youtube.com/watch?v=GSKL5E3zSjs&feature=related

Estou feliz! Estou muito feliz hoje, apesar do tórrido calor que faz em Cabo Frio. Porque? Porque enfim meu inconsciente, louco, primitivo e sábio como todo inconsciente concordou que meu consciente reassuma a
cana do leme da minha querida “Estrela d’Alva”, para nossa primeira aventura de 2009, que não tem destino nem duração pré-estabelecidos. Podemos ir pra Búzios, Arraial do Cabo, Rio das Ostras, Arquipélago dos Papagaios, Canal de Itajurú, lagoa de Araruama ou ficar em Cabo Frio, que pra mim vai da Ponta da Lajinha à pequenina praia de José Gonçalves, incluindo a praia do Forte. Tudo será decidido no último minuto pelos dados, graças a um livro que a bela e inteligente B. F. me deu de presente no último Natal. Não preciso dizer que se Éolo e Netuna fecharem o tempo não me arredo uma jarda da prainha da Passagem, pois que seguro morreu de velho, embora eu não pretenda morrer de velho. Maiores detalhes na newsletter nº 001/2009 do projeto “Estrela d’Alva”.

Mas deixemos de falar de mim, Fernando “Estrela d’Alva” Costa,  que sou nada e falemos de Michel “ Foncia” Desjoyeaux que é tudo.

Não sei se vocês já se deram conta amigos, mas como dizia minha avó Balbina mestre Desjoyeaux fez barba, cabelo e bigode na incrível, fantástica, extraordinária Vendée Globe. Se sim, vejamos:

1 – M. D. venceu a 6ª edição da Vendée Globe, deixando seu então segundo colocado a 1400 milhas de distância, no momento em que cruzou a linha de chegada às 16h 11 minutos 8 segundos do dia 1°/2/2009.

2 – M. D. bateu o recorde da Vendée Globe com o tempo de 84 dias 3 horas 9 minutos e 8 segundos, à uma média de 12,3 nós, sobre a distância teórica de 24 840 milhas náuticas ( sua velocidade média sobre a distância realmente percorrida de 28 300 milhas, foi de 14, 02 nós ). Leve-se em consideração que ele foi 4 dias e 7 horas mais rápido que o recordista anterior da prova, Vincent Riou, apesar de ter regressado ao porto de origem para reparos, perdendo assim 44 horas e 360 milhas para o resto da flotilha e apesar do percurso da regata ter sido aumentado em 1.160 milhas ( o que equivale a quase 4 dias, à velocidade de 12.3 nós ). Ou seja se o percurso da regata tivesse sido mantido e ele não tivesse feito um pit stop, o genial Mich’ Dej’ teria batido a famosa marca julio-vérnica dos 80 dias. Estão ligados?

3 – M. D. sagrou-se o primeiro bicampeão da Vendée Globe, com reinado garantido por 4 anos, se um ex-campeão da regata não voltar a vencê-la em 2012. Se isto acontecer a Vendée Globe terá dois reis, caso contrário M. D. reinará forçosamente por pelo menos mais 4 anos adicionais.

4 – M. D. bateu o recorde de singradura da regata com a marca de 466,6 milhas em 24 horas em 16/1/2008.

5 – M. D. assinou uma estonteante corrida de recuperação após sua parada no box em Sables d’Olonne, ultrapassando todos os concorrentes que ainda se encontravam na regata à sua frente, após ter perdido 44 horas e chegado a ficar 671,3 atrás do então líder Loïck Peyron.

6 – Com esta última vitória M. D. passa a ter o seguinte C. V. – Uma “Route du Rhum” mais uma “Transat Inglesa” em multicascos, três “Solitaires du Figaro” mais duas “Vendée Globe”. Ninguém fez mais nem melhor até o presente.

7 – M. D. foi o concorrente que mais tempo passou na liderança da regata, 47 contra 16 dias de Loïck Peyron.

8 – M. D. bateu o recorde dos percursos parciais:
Sables d’Olonne-Cabo Horn e Sables d’Olonne-Equador, que não registro aqui para não irritar a amiga leitora, que mais ama as letras que os números, no que temos algo em comum.

9 – M. D. redigiu os melhores textos dentre os publicados no excelente site da regata e na minha humilde opinião de apaixonado pela rainha das artes, a Literatura.

10 – M. D. deu aulas, por correspondência, de vela e outras matérias correlatas, à inglesa Samantha Davies e ao norte-americano Rich Wilson.

11 – M. D. preparou o melhor barco da regata, seu tyrannosaurus rex alado “Foncia”, onde cada componente tem no mínimo duas funções. No que a minha primitiva “Estrela d’Alva” tem, ao menos, este ponto em comum com o sofisticado “Foncia”. Não sei se já contei pra vocês, mas a bolina da “Estrela d’Alva”, por exemplo, tem nada menos que 7 funções: bolina é lógico, mesa de refeição, tábua pra cortar peixe, tabuleiro pra transporte de materiais dentro ou fora d’água, maca para rápidas sonecas, prancha pra ginástica, “esteira” pra deitar em cima e raspar o fundo da canoa.

12 – M. D. usou a internet com muita inteligência e propriedade durante a regata, fazendo por exemplo, do e-mail seu veículo básico de comunicação com sua eficaz equipe técnica, composta de 13 pessoas, a maior de todas.

13 – M. D. realizou eficientes consertos no seu veleiro, em especial nos lemes, que resistiram até o final da regata.

14 – M. D. comunicou-se melhor com os jornalistas que cobriram a regata e eu diria que de certa forma ele os colocou todos no bolso, ao contrário do que normalmente acontece com as celebridades.

15 – M. D. realizou os melhores prognósticos durante a regata.

16 – M. D. conquistou a namoradinha da Vendée Globe, a charmosa inglesa Samantha Davies que declarou – “Ele é meu herói!” pra não ir mais longe.

17 – M. D. promoveu um histórico quebra-quebra nesta Vendée Globe. Leiam a respeito minha futura matéria “O macho arrivista contra os outro machos.”

18 – M. D. fez ótimas fotos durante a regata.

19 – M. D. botou fogo na galera de Sables d’Olonne e comemorou sua vitória até tarde da noite de domingo, em companhia da população da cidade, mais seus familiares, amigos, colaboradores, patrocinadores, admiradores e detratores ( aqueles poucos que alardeiam que ele é descortês, presunçoso e egoísta ). Mas também disseram isso mesmo de Beethoven, que deu a maior prova de amor à humanidade, compondo sua magistral 9ª sinfonia coral. Que diz assim:

“Oh amigos, mudemos de tom
Entoemos algo mais prazeroso
E mais alegre!”


20 – Enfim segundo Hervé Hillard, de “Voile et Voiliers”, M. D. deu uma tremenda aula de vela, de meteorologia, de planejamento, de reflexão, de análise, de lucidez e de coragem aos seus 29 concorrentes.

Como dizia minha avó Balbina é deus lá no céu e Michel Desjoyeaux aqui na Terra.

Bons ventos a todos e até amanhã se Netuna deixar.

Guerrear jamais, regatear eventualmente, velejar por velejar sempre!

Fernando “Estrela d’Alva” Costa




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