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quinta-feira, 9 de agosto de 2012

(8/1/2009) - tristíssima tristeza me entristece - Diário da Vendée Globe 2008/09 - post 59










59° dia


Vendée Globe


tristíssima tristeza me entristece


Vincent Riou salvou heroicamente seu velho amigo Jean Le Cam da morte, mas teve o precioso mastro de seu veleiro "PRB" amputado pela perversa Netuna, ao largo do cabo Horn. De doer!


 Boa noite amigos


 Hoje estou triste. Há quase dois meses escrevendo esse tresloucado diário sobre a Vendée Globe e nunca estive tão triste. Confesso que estou mais triste hoje, do que estive por ocasião do acidente do Yann Eliès. O que constitui um contrasenso. Eu sei. Ficar mais triste por conta de uma perda material, do que por um acidente pessoal grave é um contrasenso. Reconheço e
peço-lhes perdão por este contrasenso, mas hoje estou realmente muito triste. Hoje como disse o poeta “tristíssima tristeza me entristece”. Estou triste e revoltado com o injusto drama que se abateu sobre a cabeça do heróico e solidário Vincent Riou, que salvou seu companheiro Jean Le Cam da morte e acabou perdendo o precioso mastro do seu veleiro, nas imediações do cabo Horn... Perversidade de Netuna.  Amputar sem mais nem menos o mastro do “PRB” do Vincent Riou, depois da bela ação que ele praticou ontem. Porque não fez isso mesmo com o mastro de qualquer dos outros doze veleiros que ainda participam da Vendée Globe?


Hein? Malvada, cruel, imperdoável Netuna?


Hoje perdi toda vontade de escrever.


Maiores detalhes sobre este triste acidente no site da regata.


 http://www.vendeegl obe.org/fr/


Posso lhes adiantar que ambos os velejadores passam bem e que um navio polivalente da marinha chilena, virá socorrê-los urgentemente.


Bons ventos amigas e amigos e até amanhã se Deus quizer.


Fernando “Estrela d’Alva” Costa


MOITESSIER DOBRANDO O CABO HORN


 Sexta estrofe do "poema" em versos livres MOITESSIER DOBRANDO O CABO HORN que escrevi, utilizando metade das palavras do próprio Moitessier, em seu clássico “O LONGO CAMINHO”, traduzido pela Carmen Ballot e publicado pelas Edições Marítimas.


estrofe 6 


aqui e ali clarões grandes como balões de gás aparecem sob a mar como vaga-lumes submarinos


eu sei do que se trata


mas imagino sempre que são olhos de calamares gigantes


se tivesse um arpão comigo tentaria de novo arpoá-los em vão


como o fiz diversas vezes durante a adolescência


em breve será meia-noite


continuo sem sono


velando de pé ao pé do mastro que estala e estremece ao final de cada surfada que “Joshua” dá


em sua corrida desenfreada rumo ao mais terrível dos cabos...


estou me referindo ao mastro de vante


que sofre a maior pressão das velas


mastro que fiz com um poste de telégrafo


por falta de capital pra comprar um mastro de verdade


seus mastros são postes de telégrafos amigo “Joshua”


tenha vergonha não meu irmão


que mais vale um poste de telégrafo que resista


que um mastro de fibra de carbono que se parta


nós vamos passar, mas daqui a 40 anos Jean Le Cam e Vincent Riou vão dançar


cada vez que o mastro de vante estala e estremece meu coração também estala e estremece


há uma ligação virtual entre o mastro de vante de “Joshua”


e o meu velho e forte coração amigos


marujo de alta mar que pretende dobrar o cabo Horn precisa ter coração forte amigos


coração de cabo pré-estirado do bom


se não arrebenta num desses terríveis estalos do mastro de vante





```````````` ````````


o vento refrescou ainda mais


dei mais um rizo na vela grande


e me pergunto se não deveria também rizar a bujarrona


não, não, seria exagero


só se riza a bujarrona quando o diabo está solto


ainda não é o caso


dá pra esperar um pouco mais


esperemos que o diabo saia da sua filial do inferno no alto do cabo Horn


louco pra roubar a alma do pobre marujo que decidiu dobrá-lo em solitário e à meia noite


esperar... esperar... temos de esperar


temos sempre de esperar nós marinheiros de alta mar


esperar pelo bom momento pra fazer a boa manobra


nem antes nem depois


momento exato


basta uma falha, um senão, uma precipitação e pimba! mastro n’água


e mastro n’água no cabo Horn pode significar barco nas pedras do cabo Horn





´´´´´´´´´´´´


o famoso clarão das altas latitudes começou a surgir


o céu abriu-se a barlavento


clareando a mar, o céu e envolvendo “Joshua” numa aura metafísica


em poucos minutos as estrelas tomaram conta do céu.


brilhantes, excessivamente brilhantes.. .


sinal claro de ventos soprando forte


muito forte na alta atmosfera

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