61° dia
Vendée Globe
deu errado? você fez errado!
Vincent Riou solicitou, junto ao Jury Internacional, uma reparação pelos danos sofridos pelo seu veleiro, durante a o operação de salvamento do Jean Le Cam.
Boa noite amigas e amigos velejadores
Ainda sobre a quebra do mastro do “PRB” do Vincent Riou, ao largo do cabo Horn, em conseqüência do choque de um dos outriggers do seu veleiro, com a asa da quilha basculante do open 60 “VM Matériaux”, do Jean Le Cam, que ele salvou das águas ontem... Pensei, pensei e encontrei uma solução que me parece bem menos arriscada da que ele adotou, a seguinte.
* Em vez dele, Vincent Riou, que estava sem motor, tentar salvar o Jean Le Cam à vela, passando perigosamente e por quatro vezes consecutivas próximo ao casco emborcado do “VM Matériaux”, penso que ele deveria ter
sugerido que o Armel Le Cléac’h o fizesse.
**O Armel colocaria a proa do veleiro dele no vento, após inflar sua balsa salva-vidas, que estaria amarrada a um longo cabo e lentamente dando marcha ré aproximaria a balsa salva-vidas do veleiro sinistrado até que o Jean Le Cam conseguisse embarcar nela.
***Depois era só rebocar a balsa pra longe do casco emborcado e o Jean Le Cam seria facilmente resgatado pelo Vincent ou pelo Armel, sem expor o velejador sinistrado, nem os veleiros dos seus salvadores ao mínimo risco.
Gostaram?
Minha sábia avó Balbina costuma dizer o seguinte:
Deu errado? Se deu errado, você fez errado! Pois se você tivesse feito certo, teria daria certo.
O outro erro crasso foi dobrar o cabo Horn à noite com um mastro não confiável, a bordo de um veleiro sem motor, e sem velas reservas, após ter dispensado a assistência do Armel Le Cléac’h, que disparou na frente.
Não fosse o navio polivalente da marinha chilena “Alacalufe” chegar asinha ao local do novo desastre, os dois cascudos marujos estariam à deriva, sem mastro, sem vela reserva pra improvisar uma mastreação de fortuna, sem motor, sem lenço e sem documento. Um, dois, três, quatro, cinco erros. Quase que uma comédia dos erros.
Bem, essa é a idéia que me ocorreu e que coincidiu com a opinião do meu colaborador e eventual proeiro Aguavel*. Mas e vocês, o que é que vocês pensam?
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Com relação ao novo acidente ocorrido hoje, o atropelamento de uma baleia pelo “Veolia Environnement” do Roland Jourdain, o único velejador que conseguiu seguir de perto o genial Michel Desjoyeaux, em sua insana disparada de tubarão-esfomeado- de-vitórias, o que aconteceu foi o seguinte.
Roland Jourdain dormia e foi despertado ao fim da tarde de hoje, por um forte solavanco, seguido do ruído provocado por um choque violento, que fez seu open 60 arribar e atravessar na mar. O velejador saltou pra fora da sua cabine e chegando ao convés percebeu a água do mar tingida de vermelho e o corpo de uma grande cetáceo se contorcendo em dores a poucos metros da popa do barco e imediatamente arriou as velas.
Examinando seu veleiro, Roland Jourdain encontrou fissuras em volta da caixa da quilha basculante e do mastro, que segundo a equipe de terra poderiam ser remediadas com os recursos de bordo. Amanhã confirmaremos ou não esta possibilidade.
Bons noite de sono amigos e amigas e até amanhã se Deus quiser.
Fernando “Estrela d’Alva” Costa
MOITESSIER DOBRANDO O CABO HORN
Oitava estrofe do "poema" em versos livres MOITESSIER DOBRANDO O CABO HORN que escrevi, utilizando metade das palavras do próprio Moitessier, em seu clássico “O LONGO CAMINHO”, traduzido pela Carmen Ballot e publicado pelas Edições Marítimas.
Estrofe 8
essas surfadas fantásticas que “Joshua” vem realizando na crista das ondas podem resultar em desastre.
são lindas
são emocionantes
são excitantes
mas como tudo que é lindo, emocionante e excitante são perigosas, pra não dizer perigosíssimas
aposto que a velocidade limite do casco já foi diversas vezes ultrapassada.
essas imensas vagas geladas mais parecem
labaredas de incêndio
e eu estou brincando com fogo, amigos
expondo-me demasiadamente ao perigo
sorvendo overdoses de adrenalina
eis-me viciado na droga mais alucinante do mundo
não é a cocaína, não é a heroína, não é a maconha, nem tampouco a nicotina
é a poderosa ADRENALINA
somos todos, nós aventureiros, nós marujos de alta mar, uns mais outros menos, viciados em adrenalina
e o cabo Horn é o maior traficante de adrenalina
do planeta
é só por isso que voltamos sempre ao Horn
todos fissurados numa overdose de adrenalina da boa que só o Cabo Horn sabe nos preparar
metade por conta dos seus perigos reais, metade por conta da legenda que potencializa o pavor
“Joshua” endoideceu
vejam! tá com um enorme osso entre os dentes
imagino impressionado os efeitos de uma capotada à toda velocidade, à noite e na vizinhança do famigerado cabo Horn.
não desejaria isso ao meu pior detrator.
mesmo àqueles que costumam alardear que eu naufraguei quando, na realidade, apenas virei pela segunda vez.
duas vezes em cinco anos de aventuras
velejando freqüentemente numa canoa mais instável que três mulheres juntas e em plena TPM.
as rajadas do vento estão beirando a força 9
preciso tomar um decisão
capear, aquartelar, orçar, arriar todas às velas
sei lá, só sei que preciso tomar
uma providência
antes que seja tarde demais
porque o tempo não para
não não não para, não para nem volta atrás
acontecido um fato, nem deus desfaz o feito
o futuro só a deus pertence
e o passado nem deus revoga
por isso a grande filosofia, a maior de todas as filosofias dessa vida é
“melhor previr que remediar”
capear, é isso, acho que... vou capear!
capear é a melhor solução quando não sabemos mais o que fazer.
vamos capear amigo “Joshua”?
( continua no próximo post )
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