47° dia
Vendée Globe
Um verdadeiro inferno!
Atual pódio da regata
1° lugar # tubarão-francê s Michel Desjoyeaux – “Foncia” ( décimo primeiro dia na liderança )
2° lugar # cação-agressivo- francês Roland Jourdain – “Veolia Environnement” – meu atual favorito para vencer a regata - a 70 milhas do líder
3° lugar # cação-agressivo- francês Jean Le Cam - BT – segundo lugar na edição anterior da regata - a 170 milhas do líder
Bom dia amigas e amigos velejadores!
O albatroz-hightech “BT” de Sébastien Josse, vulgo Jojô, recebeu um violento direto de bombordo da irada Netuna e deu com o mastro n’água durante a última noite, e assim ficou deitado por alguns minutos até
aprumar-se e quando aprumou-se o caos reinava a bordo e diversas avarias mais perdas de preciosos equipamentos foram verificadas.A cabeça da flotilha, da qual Jojô fazia parte há mais de 30 dias, atravessava ontem, sexta-feira, um dos seus piores momentos, desde o início da regata. O quarteto da comissão de frente avançava a duras penas, sob um violento ciclone, que já dura mais de 24 horas, contra ventos de 40 com rajadas de 60 nós, mais granizo, mais neve, mais ondas desencontradas de mais de dez metros de altura.
Além de perder os sensores dos instrumentos de navegação que se encontravam fixados ao mastro, o teto da cabine do “BT” de Sébastien Josse sofreu várias rachaduras. Através da maior delas a água gelada do Pacífico passou a infiltrar-se no interior do barco, os lemes ganharam jogo e o piloto automático não funciona mais na opção vento.
Conseqüência, mesmo que não abandone a regata, é pouco provável que Sébastien Josse continue a participar da disputa pelo lugar mais alto do pódio, para o qual era um dos favoritos. No presente momento, o velejador francês ruma lentamente ao norte, envergando apenas uma pequena buja, com a intenção de avaliar a extensão dos danos sofridos pelo seu veleiro e já perdeu 2 posições.
Mas Sébastien Josse não foi o único a ter problemas estes últimos dias, leiam o que dizem, por exemplo, três outros concorrentes:
“Traumatizante!” – Vincent Riou
“Impressionante! Deu nem pra eu abrir meus presentes de Natal. Roland Jourdain.
“Um verdadeiro inferno!” – Jean Le Cam
O pior já passou? Talvez não, a Meteorologia previu mais tempestades violentas pela proa. O Atlântico limou meia dúzia de concorrentes. O Índico mais meia dúzia. Quantos limará o Pacífico? Espero que nenhum.
Voltando quatro anos no tempo, durante a última edição da regata, pra ser exato dia 23/12/2004, e nesta mesma região do Pacífico, Sébastien Josse deu a má sorte de bater de proa num growler ( mini iceberg ), danificando o bico de proa do seu Open 60, o que não o impediu de finalizar a regata em 5° lugar. Desta feita foi vítima da fúria de uma “rogue wave” em inglês, déferlante em francês e em português não sei como chamar, mas imaginem uma onda de arrebentação deslocando-se em pleno oceano.
Voltando 40 anos no tempo, o grande Bernard Moitessier, que participava da primeira regata de volta ao mundo em solitário em 1968, velejando neste mesmo trecho do Pacífico ( um pouco mais ao norte talvez ), em que Sébastien Josse já se acidentou duas vezes, escreveu o seguinte em seu diário de bordo:
“O barômetro desce, mas a vida continua a fluir em seu ritmo normal, mesmo quando há ameaça de vendaval. Quanto tempo ainda vai durar esta paz que encontrei na mar?”
Enquanto isso minha queria “Estrela d’Alva” continua a me esperar na bóia, já com o casco cheio de limo e de novo cheia d’água do dilúvio que despencou sobre Cabo Frio durante as últimas horas.
Será que vou conseguir levantar vôo antes do reveillon? Vontade não falta. O que falta é resolver alguns problemas que ainda me prendem em terra. Já perceberam como a terra é mestra em sabotar nossas partidas pra divina mar?
Bons ventos amigos e até amanhã, se Netuna deixar.
Fernando “Estrela d’Alva” Costa
Surpresa – Jean Baptiste Dejeanty que conduziu o primeiro Open 60 nascido brasileiro até o vestíbulo do Índico e mais recentemente até a Port Elisabeth, na África do Sul, já se encontra em Paris e participou da vacation radio de hoje. Viajar de avião é muito mais rápido que de veleiro. Mas qual a graça de viajar de avião?
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