Salve amigas e amigos velejadores!
Confesso a vocês que eu adoraria viver num mundo povoado só por pessoas heterodoxas, como o excêntrico Francis Burton.
Mas de todas as loucuras que ele realizou, a que mais gostei foi sua tradução irreverente das MIL E UMA NOITES.
Sou apaixonado pelas MIL E UMA NOITES. Não tem livro melhor pra se ler a bordo de um veleiro.
- Porque?
- Porque as MIL E UMA NOITES são tão surreais quanto o ato de velejar.
Ah! eu queria viver num mundo em que em vez de copiar, parodiar, imitar, plagiar, seguir, acompanhar, todos, sem excessão, inventassem sua própria vida.
Um mundo sem padrões ou referenciais. Sem modismos, nem catecismos. Sem uniformes, nem bulas. Um mundo todo heterodoxo enfim.
Arre! Não suporto mais todos esses clones-zumbis-ortodoxos, que andam por aí, tornando o mundo monótono!
Indivíduos que, por exemplo, se regozijam em comprar um Laser novo, exatamente igual a milhares de outros Lasers e que quando cruzam com um canoa heterodoxa como a "Estrela d'Alva", dentro d'água, torcem o nariz ou fingem olhar pro bordo oposto ou então imitam os atores de teatro, fazendo "ponto branco".
Não seria muito mais divertido a gente inventar nossas roupas, nossos sapatos, nossa casa, e principalmente NOSSO VELEIRO, que é a casa ideal? Poderíamos inventar também nosso modo de falar, de andar, de dançar, de amar, não? Tudo original, pessoal, particular e intransferível.
Pra que copiar, se a emoção maior desse mundo é criar, inventar ou pelo menos reinventar?
A propósito, amigos, uma das aventuras que vivi durante todo esse tempo, que andei desaparecido, foi estudar arquitetura naval com mestre C. R. e logo após, conceber, desenhar o plano de linhas e construir com minhas próprias mãos, que a MAR há de comer um dia, o "Alegria". O "Alegria" é um humilde botinho de apoio, dublê de catboat de iniciação à vela, totalmente heterodoxo, que por incrível que pareça...
Nem sei se conto... Vou contar, mas você não vai acreditar. Eu mesmo não acredito.
estudo para a pintura heterodoxa da popa do "Alegria"
O meu pequenino e heteredoxo "Alegria" está fazendo um sucesso imenso e inexplicável aqui em Cabo Frio. Sucesso com as crianças, com os adultos, com os pobres, com os ricos, com os jovens, com os maduros, com os conhecidos, com os desconhecidos, com os homens, com as mulheres, e pasmem, até com as adolescentes. Eu disse com as ADOLESCENTES, que todos sabem, nos tempos que correm não se interessam por nada que não seja celular, tatuagem, gíria, maquiagem, cabelo e roupas copiadas dos personagens de novela televisiva ou filme hollywoodiano. Acreditam? Acreditam que o "Alegria" faz sucesso até com as adolescentes? Enfim o pequenino e humilde "Alegria" faz sucesso tanto com os navegantes, quanto com quem nunca pisou num barco? Devo estar sonhando acordado... Só pode...
Não, não posso compreender como um barquinho tão heterodoxo como o "Alegria", possa fazer tanto sucesso entre os ortodoxos. Isso de certa forma me incomoda. Gosto de fazer sucesso com os ortodoxos não. Aliás isso jamais aconteceu. É a primeira vez, em toda minha vida, que alcanço prestígio entre os ortodoxos. Sensação estranha. Desconcertante mesmo.
Depois conto mais, meu tempo acabou!
Ótimos ventos aos heterodoxos e furacão violento pra cima dos ortodoxos!
Fernando Costa, o maluco da "Estrela d'Alva". Heterodoxo? Não! O cão chupando manga!
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