Posta à janela, dali a meia hora, Sofia contemplava as ondas que vinham morrer defronte, e, ao longe, as que se levantavam e desfaziam à entrada da barra. A imaginosa dama perguntava a si mesma se aquilo era a valsa das águas, e deixava-se ir por essa torrente de idéias abaixo, sem VELAS nem remos. Deu consigo olhando para a rua, ao pé a MAR, como procurando os sinais do homem que ali estivera, na antevéspera, alta noite... Não juro, mas cuido que achou os sinais. Ao menos, é certo que cotejou o achado com o texto da conversação: “A noite era clara, fiquei cerca de uma hora, entre a MAR e a sua casa. A senhora aposto que nem sonhava comigo? Entretanto, eu quase que ouvia a sua respiração. A MAR batia com força, é verdade, mas o meu coração não batia menos rijamente, com esta diferença que a MAR é estúpida, bate sem saber por quê, e o meu coração sabe que batia pela senhora.” Sofia teve um calafrio, procurou esquecer o texto, mas o texto ia-se repetindo: “A noite era clara...”
QUINCAS BORBA
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