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quinta-feira, 10 de abril de 2014

A solidária rádio cabo-verdiana Morabeza - NEWS do mês de abril de 2014 - 4



Mindelo - São Vicente - Cabo Verde - África - foto de Fernando Costa


- Bom dia amigas e amigos leitores do oceânico serial-blog da Estrela.

- Estou feliz e alegre hoje.

- Espero que vocês também estejam.

- Qual o motivo da minha felicidade?

- A chegada de um certo veleiro aqui a Mindelo, São Vicente, Cabo Verde, África.

- Que veleiro é este?


- Uma escuna de casco azul marinho e 60 pés de comprimento, que trouxe peças de reposição para consertar o leme, de uma outra escuna de casco vermelho, a bordo da qual cruzarei em breve o oceano rumo a um certo país, chamado Brasil.

- Motivo de sobra pra beber uma boa cerveja Sagres mais tarde, não?

- Mas como neste mundo de deus e do diabo idem, toda alegria chega sempre de mãos dadas com alguma tristeza, também estou triste. :(

- Estou triste porque partirei em breve desta bela e agradável cabo verdiana ilha de São Vicente, pela qual apaixonei-me.

- E se é verdade que a ilha de São Vicente é bela e agradável, o povo que a habita é dos mais gentis e simpáticos.

- Querem um exemplo?

- Dou-lhes o melhor dos exemplos.

- A galera amiga e sorridente da fraternal rádio Morabeza, que adotou-me pouco depois que aqui desembarquei e nunca mais me desamparou.

- Confesso a vocês que já comecei a sentir saudades antecipadas da "enfermeira" Aninha (que fez um curativo ontem, no meu dedo médio da mão esquerda, a do coração) , da "doceira" Rosí, da jornalista Milú, da doutora Ivone, das estagiárias Vanísia e "Mary Kings", do ator-melômano Flávio, da fotógrafa Jennyfer, da jornalista Alécia, da administradora Ligia, da DJ Érika, do jornalista "Kiki", perdão Euclides Carvalho e por fim de "São Nuno", protetor dos navegantes solitários à deriva.

- A propósito ouçam o extrato da colossal "Ode Marítima" do lusitano Álvaro de Campos, que São Nuno fez a gentileza de gravar exclusivamente pra todos nós, leitores e administrador deste serial-blog, dedicado à divina MAR, ao inteligente BARCO À VELA e ao sagrado MEIO AMBIENTE.

- Parabéns pela performance São Nuno!

- Felicidades mil queridas irmãs e irmãos, da solidária rádio cabo-verdiana Morabeza.

- Saibam que todos vocês moram no fundo do coração do meu coração, viu? :)

Fernando Costa

PS.: Leiam abaixo o trecho do poema "Ode Marítima" de Álvaro de Campos, na interpretação de Nuno Andrade Ferreira ("São Nuno"), diretor da Morabeza, seguido dos links para as três entrevistas que tive o prazer de conceder a esta providencial e inesquecível rádio.




EXTRATO DA "ODE MARÍTIMA"

de Álvaro de Campos

Era na velha casa sossegada ao pé do rio 
(As janelas do meu quarto, e as da casa-de-jantar também, 
Davam, por sobre umas casas baixas, para o rio próximo, 
Para o Tejo, este mesmo Tejo, mas noutro ponto, mais abaixo 
Se eu agora chegasse às mesmas janelas não chegava às mesmas janelas. 
Aquele tempo passou como o fumo dum vapor no mar alto... ) 

Uma inexplicável ternura, 
Um remorso comovido e lacrimoso, 
Por todas aquelas vítimas - principalmente as crianças - 
Que sonhei fazendo ao sonhar-me pirata antigo, 
Emoção comovida, porque elas foram minhas vítimas; 
Terna e suave, porque não o foram realmente; 
Uma ternura confusa, como um vidro embaciado, azulada, 
Canta velhas canções na minha pobre alma dolorida. 

Ah, como pude eu pensar, sonhar aquelas coisas? 
Que longe estou do que fui há uns momentos! 
Histeria das sensações - ora estas, ora as opostas! 
Na loura manhã que se ergue, como o meu ouvido só escolhe 
As cousas de acordo com esta emoção - o marulho das águas. 
O marulho leve das águas do rio de encontro ao cais.... 
A vela passando perto do outro lado do rio, 
Os montes longínquos, dum azul japonês, 
As casas de Almada, 
E o que há de suavidade e de infância na hora matutina!... 

Uma gaivota que passa, 
E a minha ternura é maior. 

Mas todo este tempo não estive a reparar para nada. 
Tudo isto foi uma impressão só da pele, com uma carícia 
Todo este tempo não tirei os olhos do meu sonho longínquo, 
Da minha casa ao pé do rio, 
Da minha infância ao pé do rio, 
Das janelas do meu quarto dando para o rio de noite, 
E a paz do luar esparso nas águas! ... 

Minha velha tia, que me amava por causa do filho que perdeu..., 
Minha velha tia costumava adormecer-me cantando-me 
(Se bem que eu fosse já crescido demais para isso)... 
Lembro-me e as lágrimas caem sobre o meu coração e lavam-no da vida, 
E ergue-me uma leve brisa marítima dentro de mim. 
As vezes ela cantava a "Nau Catrineta": 

                                        Lá vai a Nau Catrineta 
                                        Por sobre as águas do mar ... 

E outras vezes, numa melodia muito saudosa e tão medieval, 
Era a "Bela Infanta"... Relembro, e a pobre velha voz ergue-se dentro de mim 
E lembra-me que pouco me lembrei dela depois, e ela amava-me tanto! 
Como fui ingrato para ela - e afinal que fiz eu da vida? 
Era a "Bela Infanta"... Eu fechava os olhos, e ela cantava: 

                                        Estando a Bela Infanta 
                                        No seu Jardim assentada... 

Eu abria um pouco os olhos e via a janela cheia de luar 
E depois fechava os olhos outra vez, e em tudo isto era feliz. 

                                        Estando a Bela Infanta 
                                        No seu jardim assentada, 
                                        Seu pente de ouro na mão, 
                                        Seus cabelos penteava 

Ó meu passado de infância, boneco que me partiram! 
Não poder viajar pra o passado, para aquela casa e aquela afeição, 
E ficar lá sempre, sempre criança e sempre contente! 

Links para as minhas três entrevistas à rádio Morabeza


Entrevista 2 - Nuno Andrade Ferreira - dia 11 de março de 2014


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