Mais de 60 dias de navegação pelos mares mais tempestuosos do planeta... - Diário da Vendée Globe - 64º dia - 13/01/2013

François Gabart - Sables d'Olonne - França - foto de Fernando Costa

News News News News News News News News News

1 – O debutante-líder-e-recordista François Gabart encontra os alíseos brasileiros antes dos demais e dispara na frente com uma média de 4 nós de vantagem sobre perseguidores mais próximos Armel Le Cléac'h e Jean-Pierre Dick. Resultado? A distância ao segundo colocado saltou para 252 e ao terceiro para 605 milhas náuticas, o que equivale aproximadamente a 500 e 1200 quilômetros respectivamente.

2 – Mestre Dominique Wavre conseguiu se recuperar da "violenta atravessada" que seu bólido alado sofreu ontem, por culpa de uma falha do
piloto automático e já reconquistou as duas posições que havia perdido para Javier Sansó et Arnaud Boissières.

3 – Alessandro di Benedetto, o último colocado da regata,  cruzou em fim a "Porta-Leste-Pacífico" e já ruma diretamente para o famigerado cabo Horn, que distava esta manhã, 1.500 milhas do bico de proa do seu antigo open 60 "Team Plastique".

Se o amigo leitor leu os últimos cinco posts deste nosso oceânico blog, sabe que nós decidimos estudar aqui as preciosas lições da UTSVG -  Universidade de Todos os Saberes da Vendée Globe, a melhor escola de vela do mundo, à razão de uma por dia, todos os dias, até que o último super-velejador-pseudo-solitário volte a Sables d'Olonne.
Os títulos das cinco lições precedentes foram os seguintes:
1 - "Melhor prevenir, que remediar".
2 - "Navegante que descobre uma ilha, ganha uma nova amiga".
3 - "Cambar em oito é mais seguro que jibear ou cambar em roda".
4 - "Marujo bom é marujo que chega ao porto de destino, com seu barco inteiro".
5 - "A vela é o mais democrático dos esportes".

A lição de hoje, nos vem do mais jovem participante da atual edição da Vendée Globe. Quem? O debutante-líder-recordista François Gabart, que não cessa de nos encantar com sua antológica performance. Esta lição é, penso eu, a melhor resposta à pergunta que deixamos no ar, ao final da primeira lição. Lembram-se? Como prevenir a quebra de uma peça fundamental a bordo de nossos veleiros?
Respondendo à pergunta de um jornalista, durante uma das últimas "vacation radio", François, que é o mais dedicado discípulo do "Professor" Michel Desjoyeaux, disse que possui uma "check list", de todas as peças que mais sofrem esforços a bordo do seu bólido alado e assim que o mau tempo passa e ele consegue caminhar sobre o convés, faz uma inspeção minuciosa de todas elas, trocando imediatamente as que apresentam qualquer sinal de fadiga. Resultado, mais de 60 dias de navegação pelos mares mais tempestuosos do planeta, na comissão de frente da regata, sem o registro de nenhum acidente digno de nota. Pergunta para os amigos leitores. Qual o nome deste método? Como se chama esse processo que François Gabart usa? Dou-lhe uma, dou-lhe duas, dou-lhe três. Acertou quem disse "Controle de Qualidade" ou mais especificamente "Manutenção Preventiva". "Melhor prevenir que remediar" é o princípio e "Manutenção preventiva" o método. É isso amigos, é só isso que temos de fazer quando em viagem em plena MAR. "Tocar o barco", consultar a previsão do tempo, comer, dormir e realizar a "manutenção preventiva" de todas as peças consideradas fundamentais e que costumam sofrer esforços repetitivos, que fatalmente conduzem à ruptura. Detalhe óbvio. De nada adianta inspecionar peças de uma check list, se não sabemos identificar os sinais de fadiga, se não sabemos substituir ou consertar essas peças duvidosas e se não temos peças de reposição a bordo mais as ferramentas adequadas para consertá-las ou trocá-las.

Bons ventos e até amanhã.

Fernando Costa, contando o dia a dia da Vendée Globe pra você, diretamente de Sables d'Olonne, na costa oeste da França.