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domingo, 9 de dezembro de 2012

Por um punhado de milhas a mais... - Diário da Vendée Globe - 29º dia - 09/12/2012




"Virbac Paprec", o open 60 de Jean-Pierre Dick




Não sei se os amigos leitores estão ligados, mas faz um mês e dez dias que cheguei a Sables d’Olonne, França, com a intenção de assistir a partida para a sétima edição da Vendée Globe. Como já lhes disse, fiquei tão encantado com a beleza do evento, que decidi instalar-me aqui, até que o último super-marujo-pseudo-solitário volte ao porto (o que ainda não sei se será possível), após ter dado uma volta completa em torno do nosso redondo-pequeno-grande-mundo. No momento encontro-me a bordo do meu veleiro “francês” “Doliceyou” (que tornou-se habitável, só após o uso do providencial aquecedor, que o gentil-marujo-maestro-e-cantor Claude emprestou-me e o igualmente providencial absorvente de umidade que comprei no Brico da E. Leclerc por apenas  5 euros), atracado no ponton F de França e de Fernando idem, da bela marina de Port Olona, ouvindo o divino Villa-Lobos e redigindo mais uma página deste tresloucado diário pra vocês lerem e não comentarem. LoL!


 Dito isto a título de prólogo, falemos da regata. Ando muito preocupado, amigos, com esta acirrada disputa que vem rolando desde o início da prova, entre os integrantes da “comissão de frente”. Estamos falando, é claro de Armel Le Cléac’h, François Gabart, Jean-Pierre Dick, Bernard Stamm e Alex Thomson. Porque? Querem saber o porque da minha preocupação? Porque no afã de liderar a regata por algumas horas, um ou vários desses super-marujos, pode ou podem cometer um erro fatal e
quebrar o barco. Pra mim que me importo menos com-quem-venceu-quem,  ou quem-subiu-mais-alto-no-pódio, do que com o-que-posso-aprender com esses super-marujos-pseudo-solitários, seria trágico. Já perdemos sete mestres, nesta Vendée Globe, não podemos perder mais nenhum. Mas que posso eu, mísero canoeiro-solitário da Costa do Sol, fazer pra impedir os ágeis, os fogosos, os irrequietos , os frenéticos, os empolgados, os alvoroçados integrantes do pelotão de frente,  de se autodestruírem, batendo-se  dia e noite por um punhado de dól... ia escrevendo dólares... por um punhado de milhas  a mais? Nada, não é verdade? Pensando bem... posso sim, posso apenas torcer para que o pior não aconteça. E o pior pra mim é e será sempre o trágico abandono de um participante da Vendée Globe, porque pra mim, um super-marujo de menos na prova é menos um mestre em sala de aula, a maior e mais bela sala de aula possível, os três oceanos  Atlântico, Índico e Pacífico, do planeta Terra, que deveria chamar-se, a bem da verdade, ÁGUA. 


Notícia inquietante, Alessandro de Benedetto, o único italiano a participar da regata e autor da volta ao mundo em solitário, sem escalas, sem assistência e passando pelos três terríveis cabos Boa Esperança, Leewin e Horn a bordo do menor veleiro que se tem notícia, deve enfrentar uma violenta tempestade nas próximas horas. Torçamos pra que ele sobreviva, ele que na falta da Samantha Davies vem encantando a galera com seus vídeos sempre poéticos, bem humorados e criativos, ele que vem navegando em primeiro lugar, se contarmos  as posições dos concorrentes de trás pra frente, já que os últimos serão sempre os primeiros.


CURIOSIDADE 1 - Todos os velejadores que já abandonaram a regata

Vincent Riou já voou do Brasil pra França e o veleiro dele, “PRB”, já fez-se à MAR, partindo de Salvador,  com destido a Port-la-Forêt, by-passando Les Sables d’Olonne, o que é de se lamentar... Todos os veleiros que abandonam a regata, deveriam revisitar esta bela e acolhedora cidade, ponto de partida e chegada da incrível, fantástica, extraordinária Vendée Globe , antes de seguir seu destino final, não acham?


CURIOSIDADE 2 – Comparando...

...a história da primeira regata à vela, de volta ao mundo, em solitário , sem assistência e passando pelos três terríveis cabos Boa Esperança, Leewin e Horn, com a atual edição da Vendée Globe, descobri mais um ponto comum entre elas. Descobri que tanto na Golden Globe quanto nesta sétima edição do “Everest dos Mares”, dois marujos precisaram mergulhar  em plena alta MAR, ainda no oceano Atlântico  pra inspecionar as obras vivas de seus veleiros. Vamos ver se o amigo leitor está ligado. Foram eles:
A – Loïck Fougeron + Alex Thomson
B – Donald Crowhurst  + Armel Le Cléac’h
C – Alex Carozzo + Alessandro de Benedetto
D – Sir Robin-Knox Johnston  + Jean Le Cam
E – Bernard Moitessier + Jean-Pierre Dick



CURIOSIDADE 3 - Há quatro anos atrás...

Não sei se vocês ainda se lembram, mas, há quatro anos atrás, eu escrevi o seguinte na 26ª página do meu diário do "Everest dos Mares":




"Conta-se, amiga leitora, que Alexandre, o grande, disse certa vez:
"Se eu não fosse Alexandre gostaria de ser Diógenes."
Enquanto eu, Fernando, o grande apaixonado por barcos à vela LowTech, costumo dizer que "se meu filósofo predileto não fosse o francês Montaigne, seria o grego Diógenes".
Favor não confundir o nosso Diógenes, com o Diógenes Laércio que é outra filósofo completamente diferente.
Estamos falando de Diógenes de Sínope.
Aquele que morava num barril.
Aquele que queria ser um cão.
Aquele que andava nu e se masturbava em público.
Aquele que pedia esmola às estátuas. 
Aquele que procurava o verdadeiro homem durante o dia, com uma lâmpada acesa na mão.
Aquele que desprezava a opinião pública e as novelas televisivas.
Aquele que pediu que Alexandre saísse da frente do sol.
Aquele que havia sido rico, mas doara todos os seus bens e imóveis, porque pensava que a administração dos bens materiais nos roubam um precioso tempo de vida, que todos sabem, é escasso, minguante e não renovável.

O filósofo Diógenes de Sínope + sua famosa lâmpada + seu famoso barril + três admiradoras curiosas pra vê-lo se m... pensar!

Diógenes, amigos, gostava de usar seu precioso tempo de vida pra pensar.
Enquanto eu já gosto de usar o meu pra velejar.
Mas velejar em solitário, num barco pequeno, simples e sem motor, que não requer grandes cuidados de manutenção, nem perda de tempo na consulta de sofisticados equipamentos de navegação é pra mim sinônimo de pensar.
Mas... Mas... Perguntou porque estou fazendo esse longo discurso apologético sobre Diógenes de Sínope, amigo leitor?
- Porque me lembrei que os detratores de Diógnes costumavam infamá-lo dizendo:
- Olha só o ignaro Diógenes dando aula de filosofia na praça, sem saber bulhufas de filosofia. Não freqüentou a universidade, não tirou diploma, nem fez mestrado e quer ter alunos.
Ao que Diógenes respondia.
- Professor é aquele que aprende.
É neste ponto que eu queria chegar amigos.
Não tenho pretensão de ensinar-lhes nada sobre vela, com meus freqüentes posts e newsletters. Minha intenção é diametralmente oposta. Só escrevo pra aprender. Só pra isso.
Minto, escrevo também para promover o projeto "Estrela d'Alva" e divertir meus amigos leitores."






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