88º dia
Vendée Globe
o macaco-calígrafo das mil e uma
Simpatizo e muito com o Raphaël Dinelli,
amigos, primeiro porque ele gosta mais de “velejar por velejar” do que de
regatear. Segundo porque ele só usa energia limpa. Eólia, hidráulica e solar.
Óleo Diesel a bordo do veleiro dele nem pensar.
Bom dia amigas e amigos velejadores
Cozinhei
cinco flash infos recheadas de comentários pra vocês. Foram preparadas ontem à
noite e requentadas no micro-ondas agora mesmo. Vai? Sim? O amigo leitor deverá
preencher as lacunas com uma das palavras entre parênteses no final do texto.
Divirta-se que o cérebro humano foi feito, o das mulheres pra ouvir ou contar
estorinhas e o dos homens pra
jogar.
Ah a trilha sonora que lhes sugiro para
ler esta página do meu tresloucado diário da Vendée Globe é esta aqui:
http://www.youtube.
com/watch? v=yNRXhYyGpss
Isso se o
amigo gostar de instrumentos de cordas e das Bond Gils. Gosta amigo leitor? De
todas ou de alguma em especial. Qual? Da loira, da ruiva, da morena ou da
oriental? Alguém tem um cinqüenta pés aí pra gente levar as quatro pra uma velejada
com vento forte? Patrick Eymard? Tá me ouvindo?
>Armel
Le Cléac’h passou um noite de cão a bordo de “Britair”. Uma noite dantesca
segundo ele a pior situação que ele já viveu ao longe desta Vendée Globe.
Ventos de 40 a 50 nós com rajadas de 60 nós e ondas de mais de 9 metros.
Amigos quando um europeu usa o adjetivo
dantesco podem acreditar que a coisa foi feia, terrível, infernal. E no entanto
Dante escreveu Purgatório e Paraíso idem... Mas parece que a galera só se liga
no Inferno. Engraçado, o Armel Le Cléac’h me lembra o piedoso macaco-calígrafo
das MIL E UMA NOITES. Alguém poderia me explicar porque? Outra coisa. Qual
vidente, qual cartomante, qual pitonisa profetizou que o ............ .........
.. Armel Le Cléac’h seria segundo da Vendée Globe, tendo largado ao lado de
monstros sagrados como Loïck Peyron, Mike Golding, Jean Le Cam, Vincent Riou,
Sébastien Josse e Bernard Stamm? Hein?
>> Marc Guillemot está ralando dia
e noite na tentativa até o momento ............ .. de ultrapassar a charmosa
sardinha inglesa Samantha Davies. Na primeira parte da subida da costa do nosso
amado Brasil ele se deu bem, na segunda, de Cabo Frio pra cima duplamente mal,
primeiro porque o vento tão sonhado não pintou. Segundo porque foi hostilizado
por alguns pescadores brasileiros que pensam que a divina mar lhes pertence com
exclusividade. Ontem Marc Guillemot enveredou por um radical desvio para Oeste,
enquanto que Sam Davies optou pelo Leste.
Tá torcendo pra quem amiga leitora? Pro
Marco ou pra Sam? Eu? Torço pro Marco. Acho que ele merece, apesar de ter
mandado muito mal quando ameaçou o Armel Le Cléac’h há alguns dias atrás. Sabem
o que ele disse?
-
Jantei a Samantha e você será o próximo.
-
Ao que o Armel revidou.
-Pode vir quente que estou fervendo!
Marco prometeu ultrapassar o Armel e
corre o risco de não conseguir re-ultrapassar nem a Sam. Difícil um concorrente
com dois rizos na grande ultrapassar um outro como tudo em cima. Acabei de
verificar. A distância entre a inglesa e o francês aumentou ainda mais. 225
milhas no presente momento. Mas... mas... olhando a previsão meteo, como dizem
os franceses, tudo indica que... não... não... esperemos mais um pouco.
>>> Raphaël Dinelli fez uma
escala que quase resultou em desastre em Porte Stanley nas Malvinas. Sua
intenção era trocar a ............ da vela grande do seu “Fondation Océan
Vital”, coisa que vem sonhando fazer há anos. Lembram-se que ele tentou fundear
à sombra da nossa Trindade no primeiro terço da regata? Desta feita sua âncora
garrou, o vento começou a empurrar seu velho Open 60 pra cima das pedras e ele
foi obrigado a passar a faca na amarra. Arrepiou caminho exausto e
decepcionado, mas antes um bote inflável arremessou-lhe um pacote com
medicamentos. Remédio para uma tendinite recalcitrante que lhe vem amargando a
vida a bordo há mais de oitenta dias...
Simpatizo e muito com o Raphaël Dinelli,
amigos, primeiro porque ele gosta mais de “velejar por velejar” do que de
regatear. Segundo porque ele só usa energia limpa. Eólia, hidráulica e solar.
Óleo Diesel a bordo do veleiro dele nem pensar. Bravo Raphaël! Devagar e
sempre. Pra que pressa se a pressa foi inventada pelos lancheiros? E depois se
a gente mudar de referencial o último vira primeiro num piscar de olhos. Mas o
Raphaël não está mais em último. Está em penúltimo ou melhor em segundo de trás
pra frente.
>>>>
E o Bahrain Pindar Team, obra controversa do argentino que possui o nome mais
difícil de se escrever e pronunciar Juan Kouyoumdjian, conduzido pelo inglês
Brian Thomson quebrou de novo. Dessa vez foi problema de ............ ... Não
entrarei em detalhes técnicos porque... porque...
“Sou um técnico, mas tenho técnica só
dentro da técnica.
Fora disso sou doido, com todo o direito
a sê-lo.
Com todo o direito a sê-lo, ouviram?
Não me macem, por amor de Deus!
Queriam-me casado, fútil, quotidiano e
tributável?
Queriam-me o contrário disto, o contrário
de qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a
todos, a vontade.
Assim, como sou, tenham paciência!”
Álvaro de Campos
O importante é que ele conseguiu
consertar mais uma vez seu super Open 60, que chegou a causar apreensão na
concorrência antes do início da prova, mas que na prática se revelou inócuo. A
culpa seria do argentino ou do inglês? Seja com for as relações entre a
Argentina e a Inglaterra sempre foram delicadas.
>>>>> Norbert Sedlacek, o
lanterninha da Vendée Globe dobrou o cabo Horn e levou consigo minha esperança
de que algum dos 30 concorrentes desta acidentada Vendée Globe tentasse
reinventar a ousada façanha de Bernard, do grande Bernard Moitessier, que deu
uma volta e meia sem escalas ao planeta Terra há 40 anos atrás. É amigos o
Romantismo está definitivamente morto e do seu espólio nasceu o ............
...... , a escola dos carneiros e robôs. Incrível como ninguém tem mais coragem
de trilhar um caminho original, diferente, pessoal, inventado ou pelos menos
reinventado. Só restaram os amigos da fila indiana, das prateiras de super
mercado e do Control C seguido de Control V.
Enquanto
isso eu, pequenino e obscuro xaréu da paradisíaca Região dos Lagos passei minha
primeira noite a bordo “Estrela d’Alva”, este ano, fundeada no canal de Itajurú
diante do bairro mais antigo e charmoso de Cabo Frio, a Passagem. Dormi do
jeito que mais gosto, deitado de costas ao relento. A noite estava quente,
depois esfriou, o tempo estava encoberto, depois abriu e milhares de estrelas
testemunharam que sou o miserável mais rico do mundo. Como nada é perfeito no
mundo, zilhões de mosquitos me atacaram. Sorte que não esqueci o repelente.
Banco
de palavras, para o amigo leitor escolher as que devem preencher as seis
lacunas acima:
(
quilha-basculante, adriça, Pragmatismo, peixinho-debutante, infrutífera )
Bons
ventos amigos e amigas velejadoras
Fernando
“Estrela d’Alva” Costa
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