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terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

(9/12/2008) - Velejando por velejar - Diário da Vendée Globe 2008/09 - post 30




Ao lado do ágil coelho Bernard Stamm, a bordo do seu bólido alado "Cheminées Poujoulat", os demais velejadores parecem tartarugas reumáticas. 



Vendée Globe
30° dia 
velejando por velejar 


extra! extra! extra!


Tempestade ( no dizer dos franceses "coup de chien" )  pela proa da cascuda e numerosa flotilha da Vendée Globe. Confirmarei ou não mais tarde."


Salve amigas e amigos praticantes da arte-zen de velejar! 


Há 20 dias atrás eu previ no meu post "dez barbados atrás de duas lindas mulheres" que os
bravos marujos e marujas da Vendée Globe tornar-se-iam com o passar do tempo cada vez mais...


Um minutinho só, que farei melhor, farei uma autocitação. Vou copiar/colar aqui o que escrevi naquele já antigo post. Um minutinho só. Pronto. Pronto. Leiam:


"...a partir de agora os 26 cascudos marujos e marujas que disputam a atual sexta edição da Vendée Globe, metamorfosear- se-ão em criaturas cada vez mais exóticas, pra não dizer estranhas...


Estranhas à nossa pseudo-civilizaçã o-terrestre, quis dizer.


Prestem bem atenção!


Em vez de objetivos tornar-se-ão cada vez mais subjetivos.


Em vez de realistas tornar-se-ão cada vez mais românticos.


Em vez de pragmáticos tornar-se-ão cada vez mais filosóficos.


Em vez de prosaicos tornar-se-ão cada vez mais poéticos.


Em vez de egoístas tornar-se-ão cada vez mais compassivos. ( novo ) 


Querem um exemplo?" 


Fim da autocitação. 


Naquela ocasião, ou seja, há vinte dias atrás eu dei um único exemplo, que já endossava minha tese de que a divina mar humaniza e embeleza os pensamentos daqueles que a atravessam.
Desta feita selecionei seis mensagens, todas sentimentais, digamos assim, que traduzi livremente do francês, especialmente pra vocês. Pode ser que a tradução não corresponda ao original, sem no entanto trair a essência do texto, suponho. Leiam!


>>>"Enviei palavras de condolências ao Unai Bazurko, que começou a viver um drama que eu conheço bem. Tentei mas não consegui conter minhas lágrimas. Espero que ele possa voltar à França e que nos reencontremos em breve na mar." 
Norbert "Nauticsport- Kapsch" Sedlacek


>>>"Uma revoada de pássaros persegue a esteira do meu ágil veleiro. Dentre eles destaca-se os senhores dos mares, os sempre elegantes e altivos albatrozes." 


 Loïck "Gitana Eighty" Peyron


>>>"Brandas aragens retardaram a nossa passagem pelo primeiro dos três grandes cabos. E uma noite calma me permitiu dormir um sono tranqüilo e reparador. Mas com o raiar do dia o vento voltou a soprar com ímpeto e estou feliz por poder avançar..."
Dee "Aviva" Caffari


>>>"O outro dia alguém me pediu pra descrever a mar. Se a tal pessoa me tivesse pedido pra desenhar um carneiro, mesmo sem saber desenhar, eu teria me saído bem. Mas descrever a mar com palavras... Difícil."
Michel "Foncia" Desjoyeaux


 A continuação do prólogo acima constitui um dos mais criativos textos que já li no site da Vendée Globe e que sinceramente não tenho capacidade de traduzir. Donde se conclui que Michel Desjoyeaux é professor de vela e de literatura. A propósito eu sempre pensei que ler é como dirigir um carro e escrever é como velejar. Dirigindo um automóvel você é obrigado a seguir uma rua, avenida ou estrada. Lendo, você é obrigado a ler o que está escrito no livro. Mas escrevendo, você pode escrever o que lhe der na telha. Com uma caneta na mão, diante de uma folha de papel virgem você tem liberdade total. Da mesma forma velejando na mar você pode ir na direção que bem entender. Porque não existem estradas na mar, nem fronteiras numa folha em branco. Escrever é muito parecido com velejar. 


>>>Steve "Toe in the Water" White filosofa sobre a paixão humana pela competição à qual ele confessa que não poder resistir.


Eu, pessoalmente lamento essa fixação que nós brasileiros temos pela regata. No Brasil a maioria das poucas pessoas que tem o hábito de velejar só o fazem preparando-se para correr ou correndo uma regata. Gostaria de ver mais pessoas velejando por velejar.  Às vezes eu penso que o sentido da vida é um só este: velejar por velejar. Velejar pelo puro e excelso prazer de deslizar em silêncio sobre a superfície da mar. Em silêncio leram bem? O relativo silêncio que se saboreia no mar e quase nunca mais em terra é um dos maiores prazeres-privilé gios dessa vida. Estão ligados? Vou abandonar por hora, mas prometo voltar futuramente a esse apaixonante assunto.


   "Eu me comunico com meu barco. Nós somos companheiros e nenhum de nós dois conseguiria terminar a viagem sem o outro.De tempos em tempos quando eu o vejo sofrer açoitado pelas violentas vagas eu lhe digo ao ouvido - Meu pobre amiguinho... ( em francês "mon pauvre chéri" ). Eu sou um admirador do meu veleiro. Ele é o que eu tenho de mais precioso neste momento. Se ele me abandonar eu estou perdido.
Jean "VM Matériaux" Le Cam


Essa amizade que o marujo fatalmente desenvolve pelo seu barco cresce com o passar do tempo e se fortalece em função dos perigos que enfrentam juntos. Ao final da edição 2000/2001 da Vendée Globe, a pequenina-notá vel Ellen McArthur beijou seu veleiro em público, encostou a cabeça na sua proa e se debulhou em lágrimas. É bem verdade que a genial e super-emotiva Ellen passou a regata toda chorando diante da sua web cam, mas... Depois dizem que só nós brasileiros é que somos chorões.


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Novidades 


1 - O autor da corrida de recuperação mais espetacular da presente edição da Vendée Globe é o "peixe-grande- suiço" Bernard Stamm do "Chéminées  Poujoulat"  e não o tubarão-ogro- martelo-esfomead o-de-vitórias- francês Michel "Foncia" Desjoyeaux, como todos supunham.


Ele, Bernard Stamm, levou exatos 12 dias 04 horas 50 minutos pra velejar do Equador ao Cabo da Boa Esperança, enquanto que Michel Desjoyeaux levou 13 dias 08 horas 53 minutos.


 Todos os demais concorrentes precisaram de mais de 14 dias pra realizar o mesmo percurso.


 Gostaria de saber porque dois velejadores, após regressarem ao porto de origem, para conserto de avarias sofridas por seus bólidos alados, permanecendo portanto em último lugar durante bastante tempo (40 horas para o Desjoyeaux e mais de 72 horas, se não me falha a memória, para o Bernard Stamm ) conseguem realizar uma corrida de recuperação tão fantástica? Eis a questão!  A propósito durante a noite Bernard Stamm papou a alegre, bela e pra nosso júbilo, exibida "sardinha-inglesa" Samantha Davies e já figura em 14° lugar. Enquanto isso Michel Desjoyeaux parece ter momentaneamente sucumbido à guerra de nervos que seus concorrentes do pelotão de frente lhe declararam. Seja como for ele não conseguiu se aproximar do tubarão-branco- inglês Mike Golding durante a noite.


http://www.bernards tamm.com/


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"Ah seja como for, seja por onde for, partir!  
Largar por aí  afora, pelas ondas, pelo perigo, pelo mar.  
Ir para Longe, ir para Fora, para a Distância Abstrata,  
Indefinidamente, pelas noites misteriosas e fundas,  
Levado, como a poeira, plos ventos, plos vendavais!  
Ir, ir, ir, ir de vez!"


Álvaro "Fernando Pessoa" de Campos


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Bons ventos amigos da Flotilha MacVela!


Fernando "Estrela d'Alva" Costa    

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