Jérémie Beyou levando o "Delta Dore", na pontinha dos dedos, pro mastro não quebrar,
rumo a Salvador, Bahia.
A maioria dos tubarões, cações e peixinhos da atual edição da fantástica Vendée Globe já ultrapassou três obstáculos importantes até o presente momento, amigos:
Primeiro obstáculo - Uma violenta tempestade no temperamental golfo de Gasconha, logo nos primeiros dias da prova... Tempestade esta que liquidou com os sonhos de quatro importantes concorrentes: Kito de Pavant, Yannick Bestaven, Marc Thiercelin e Alex Thomson. Vendée Globe pra eles, só daqui a quatro anos... Pena.
Além dessas quatro desistências, vários outros marujos foram obrigados a voltar ao porto de origem, pra consertar danos diversos, ocorridos em seus bólidos alados. Todos esses lamentáveis eventos estão super bem documentados em textos, vídeos e fotos, nos arquivos do excelente site da Vendée. O que ignoramos, o que todos ignoram, amigos, são os danos invisíveis, provocados pelos repetidos esforços, que as mastreações e cascos dos barcos sobreviventes sofreram, durante aquela traiçoeira tempestade, e que somados a outros tantos, poderão causar-lhes avarias futuras, ao longo da prova, em locais distantes, bem distantes de terra. Eis o "quid obscurum" da regata. Eis o "quid obscurum" de qualquer aventura marítima, à vela. A fadiga invisível dos diversos materiais, usados na construção do veleiro em questão. Mal sem cura. Moléstia sem diagnóstico e consequentemente sem remédio. Doença sem sintoma que só se agrava com o passar do tempo e a continuidade da viagem.
A propósito, o Jérémie Beyou acaba de mudar radicalmente de rumo no meio do Atlântico. Duas das cruzetas do seu bólido alado se quebraram e uma delas está açoitando, sem dó nem piedade mastro. Peso da cruzeta 10 quilos. Comprimento? Três metros. Consequência? Ele será obrigado a buscar assistência em nossa distante Bahia e abandonar a prova. Se decidir continuar, será fatalmente desclassificado. Isso, claro, se não conseguir realizar o conserto sozinho. Seja como for é duro. O mais difícil será conduzir o veleiro até um ancoradouro seguro, sem deixar o mastro quebrar a meio do seu longo caminho. Torçamos pra que tudo dê certo. Adianta nada torcer. O que adianta é o Jérémie Beyou saber fazer a coisa certa, na hora certa.
Segundo obstáculo - A travessia do largo pedaço de mar compreendido entre a costa portuguesa e as ilhas de Cabo Verde, varridos nas últimas duas semanas por alíseos muito irregulares e que exigiram muita dedicação e "savoir faire" de todos os participantes da regata.
Terceiro Obstáculo - As famigeradas "calmas equatoriais" , que eu chamei erroneamente de "latitudes do cavalo", e que só foram vencidas rapidamente, graças a grandes doses de paciência e atenção de todos os minutos, de que só esses exímios velejadores foram capazes.
Mas como diz, todo fim de noite, a sedutora Sahrazad, aos primeiros raios da aurora, "isto não é nada" comparado com os próximos e imensos obstáculos que aguardam nossos heróis: O cabo Boa Esperança, o oceano Índico e o cabo Leewin. Não nos apressemos...
Enquanto isso, eu, pequenino xaréu da paradisíaca Região do Lago/Costa do Sol, continuo ancorado em algum ponto do canal de Itajurú, à espera de uma janela de bom tempo, pra "nadar" até Búzios... No presente momento um novo dilúvio está caindo sobre Cabo Frio. Meu tempo está se esgotando... Pensam que o tédio me encestou? De jeito algum, estou me divertindo em companhia do melhor amigo do velejador, um livro. Estou lendo o melhor de todos os livros, amigos, o DAS MIL E UMA NOITES, traduzidas diretamente do árabe, para o português, por Mamed Mustafá Jarouche. Já leram?
Bons ventos amigos Ana e Mário!
Fernando "Estrela d'Alva" Costa
http://www.vendeeglobe.org/fr/
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