Ei! Não deixe de visitar as outras páginas!

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Marinheiro, eterna peteca entre o temor e o deleite - livro sobre a MAR - post reciclado


Tem males que vem pra bem, diria minha avó Balbina Gomes. Joshua Slocum teve de perder seu grande e elegante veleiro “Aquidneck”, destroçado pela ressaca sobre um banco de areia em Paranaguá, para poder realizar a mágica viagem do “Liberdade”, em companhia de sua jovem esposa Henriquetta, de 24 anos e dos seus filhos Victor, de 14 anos e Garfield de 7 anos. E foi com certeza a cascuda canoa “Liberdade” que soprou no atento ouvido de Slocum a brilhante e arrojada idéia de realizar a primeira volta ao mundo em solitário, revolucionando a estória da navegação marítima no planeta Terra. Até à façanha de Slocum os homens haviam navegado exclusivamente em equipe, durante 6 000 longos anos. Estão ligados? Para o prazer daqueles que gostam de Slocum e do relato de uma boa aventura, aqui vai de presente alguns dos meus extratos prediletos de “A viagem do Liberdade”, que acabei de ler a bordo da minha inseparável “Estrela d’Alva”.



EXTRATOS DE “A VIAGEM DO LIBERDADE”

1 – “A beleza espiritual da mar não admite infiéis em seu espaço sem fronteiras.” ( Slocum )
Sou, sempre fui, desde criança pequena em Atafona, um fiel adorador da divina mar. ( Costa )




2 – “Um livro que seja lido em altomar, ganha um lugar de destaque em nossa amizade...” ( Slocum )
É verdade! Li “Robson Crusoé” de Daniel Defoe, atravessando o Atlântico, a bordo do “Cielo d’Europa” e tenho um enorme carinho por ele. A propósito, Jean Jacques Rousseau escreveu que este poderia ser o único livro, que uma criança deveria ler, até os 12 anos de idade. Esqueceu de dizer que o único brinquedo que uma criança deveria possuir até os 12 anos de idade é um barco à vela... O rei dos brinquedos para todas as idades. ( Costa ).

3 – “Um medo angustiante que o segundo cabo se partisse, ocupou nossas mentes durante toda a noite, mas o perigo que havia dentro do barco nos apavorava ainda mais.” ( Slocum )
Marinheiro, eterna peteca entre o temor e o deleite. ( Costa )

4 – “ Cortando a água com sua proa fina e bem talhada, enquanto voam sobre as águas tranqüilas das baías e dos rios, essas canoas apresentam uma imagem de incomparável habilidade e graça.” ( Slocum )
Meu reino por uma boa canoa! Meu reino, vocês já sabem, vai do cabo Búzios ao Cabo Frio. ( Costa )

5 – “A eficiência da nossa canoa foi logo constatada: no dia 24 de junho, depois de navegar alguns dias dentro da baía, para nos adaptarmos à embarcação e arranjar as coisas em seus devidos lugares, cruzamos a barra e rumamos para a mar...” ( Slocum )
O marujo só deve ir pra mar após sete dias velejando na mar. ( Costa )


6 – “...lembrança de uma das mais simpáticas visitas às costas hospitaleiras de Cabo Frio.” ( Slocum )
Emocionante saber que mestre Slocum velejou e gostou de velejar nas minhas águas. E as minhas lindas águas, vocês já sabem, se estendem do cabo Búzios ao cabo Frio. Pouco mais ao norte, pouco mais ao sul. ( Costa )

7 – “Em nossa prazerosa viagem nesta canoa, a coleta de experiências vivenciadas pelos navegantes do passado era emocionante.” ( Slocum )
Quando a gente vê uma ilha selvagem como a de Âncora, em Búzios, vê a mesma ilha que Cabral viu. Se é que Cabral avistou a ilha de Âncora. Mas se Cabral não a viu, Américo Vespúcio te-la-ia visto. A confirmar, que a descoberta de Cabo Frio é um capítulo nebuloso da história do nosso amado Brasil. Cabo Frio aparece misteriosamente num mapa de 1502, apesar de Cabral não ter navegado ao sul do monte Pascoal, na Bahia. Seja como for, isto me emociona, sabiam? Circunavegar em solitário, em companhia da minha humilde canoa, uma ilha que o homem que deu o nome ao continente americano viu igual...

-Tá ligada “Estrela d’Alva”, estamos vendo a mesma ilha que o pai da América viu?
-Verdade?
-Dizem que sim.
-Então cheguemos mais perto, pra ver melhor.
-Mais perto é perigoso amiga.Prestou atenção na altura da onda-eco rebatida pelo paredão de pedra?
-E desde quando o perigo me assusta? ( Costa )

8 – “Nessa perigosa situação... sacudidos como uma rolha na crista das ondas, lutávamos com unhas e dentes no leme e nas velas... avançando pouco a pouco em direção a águas mais profundas...” ( Slocum )
Mil vezes mais barcos se perderam no raso que no fundo. ( Costa ) 
9 – Abandonando as familiares estrelas do sul e rumando em direção às constelações do norte, içamos todas as velas a essa amigável brisa que nos transportava. ( Slocum )
Bom... Tão bom velejar ao sabor de uma amigável brisa... ( Costa )


10 – “Sem dúvida você viu montanhas de açúcar e até rios de rum, meu menino, mas peixes-voadores não existem.” ( Slocum )
Existem peixes-voadores. Existem aves-nadadoras. Existe cavalo-marinho. Existe o diabo no planeta Terra. Deus freqüentou... Não, foi Deus quem fundou a escola surrealista. ( Costa )

11 – “Ladeamos o banco e saltamos para terra firme, porém mal tínhamos pisado na praia, quando centenas de cães brotaram do chão...” ( Slocum )
A gente foge da tempestade e é atacado na praia por uma centena de cães. Já me aconteceu. Quando é que as praias no Brasil serão isentas de armadilhas, para o pobre marujo perseguido, pelo eventualmente perverso casal Netuna-Éolo? ( Costa )

12 – “ ... com nossas velas abertas à brisa terral, carregadas com o perfume das florestas tropicais e com a música do canto de bandos de pássaros, velejamos plenamente felizes...” ( Slocum )
Se Slocum, tão simplório, tão culturalmente limitado encontrou tanta poesia na mar, o que teria escrito Fernando Pessoa, Victor Hugo ou Baudelaire, se tivessem navegado tanto quanto Slocum? ( Costa )

13 – “Tudo ali estimulava a imaginação e fazia sonhar.” ( Slocum )
É nisto mesmo que consiste a especialidade da divina mar, fazer sonhar e estimular a imaginação. Não entendo porque nós os antropóides falantes, pra não dizer meta-orangotangos-vagabundos vivemos metidos na famigerada cidade, respirando dia e noite a intragável e cancerígena fumaça de óleo diesel. ( Costa )

Bons ventos amigos

Fernando Costa


6 comentários:

  1. Fernando, 15 dias atras estive em Guaraqueçaba, onde o Mestre construiu o Liberdade. Na madrugada no veleirinho, fiquei horas imaginando o Mestre construindo e depois saindo do mesmo local que eu estava ancorado.

    Um abraço

    ResponderExcluir
  2. Feliz de você amigo Celso!

    Também adoraria visitar o lugar onde O mestre construiu o "Liberdade".
    - Porque não pode ser a "Liberdade", se Slocum a chama o tempo todo de canoa?
    - Você sabia que dois velhos marujos reconstruiram a "Liberdade" e refizeram o mesmo roteiro do mestre recentemente?
    - Você já leu "A Viagem da "Liberdade" Celso?

    Sim ou não, bons ventos!

    Já leu "

    ResponderExcluir
  3. Fernando,
    li a Viagem do Liberdade e foi la encontrei a citação a Antonina . Não sabia que dois velhos marujos refizeram o roteiro do Mestre, vou procurar por mais informações.
    Gostaria de indicar Os vagabundos dos mares do sul de John Wray, estou terminando pela segunda vez a leitura, depois parto para Trabalhadores do Mar.
    Grande abraço

    ResponderExcluir
  4. Salve Celso!

    "Os trabalhadores da MAR" é meu livro de cabeceira. Um verdadeiro tratado-poema-anti-romance sobre a divina MAR. Gostaria de ouvir/ler os comentários de todos os marujos do mundo sobre essa incrível obra.

    Machado de Assis após traduzir os Trabalhadores aos 20 anos, ficou impregnado de água salgada pro resto da vida. Não sei se você tem lido a série "Só pra quem gosta de MAR e MACHADO", mas penso que tudo que Machado sabe sôbre a MAR, aprendeu com Victor Hugo.

    Obrigado pela sugestão. Vou pesquisar "Os Vagabundos dos mares do sul" de John Wray.

    Voltando a mestre Slocum, o lugar onde ele naufragou com o "Aquidneck" é o mesmo onde ele construiu a "Liberdade". Acabei de conferir, no original ele cita Guarakasava. Sabe que lugar é esse?

    Bons ventos!

    "We spent Christmas of 1887 at Guarakasava. The bark was loaded soon after, and when proceeding across the bay, where currents and wind caught her foul near a dangerous sand bar, she misstayed and went on the strand. The anchor was let go to club her. It wouldn't hold in the treacherous sands; so she dragged and stranded broadside on, where, open to the sea, a strong swell came in that raked her fore and aft for three days, the waves dashing over her groaning hull the while till at last her back was broke and--why not add heart as well! for she lay now undone. After twenty-five years of good service the Aquidneck here ended her days!"

    Joshua Slocum

    ResponderExcluir
  5. Fernando, é Guaraqueçaba, onde estive dias atras , veja a localização no link:
    http://maps.google.com.br/maps?q=guaraquecaba+pr&um=1&ie=UTF-8&hq=&hnear=Guaraque%C3%A7aba+-+PR&gl=br&ei=kwdjTbXDOoK0lQff7eC0BQ&sa=X&oi=geocode_result&ct=title&resnum=1&ved=0CBoQ8gEwAA .
    Veja esta foto que direi, quando estive la :
    https://picasaweb.google.com/ogro.redes/GuaraquecabaSuperaguiDe04A07022011#5571308074313502658

    Lugar maravilhoso, para nossos padrões no SUL.

    Um abraço

    ResponderExcluir
  6. Obrigado Celso!

    Vi o mapa, vi a foto e naveguei na baía de Paranaguá graças ao Google Earth.
    Interessante, lendo o dramático capítulo do naufrágio do "Aquidneck", no livro do Slocum, pensei que Guaraqueçaba fosse uma praia de MAR aberta. Na verdade fica no fundo da baía de Paranaguá. Donde se conclui que qualquer pedaço de MAR é MAR e navegar na MAR não é brincadeira de criança não. Pode ser brincadeira de adolescente, vide Laura Dekker, mas não de criança.

    Grande abraço e bons ventos!

    ResponderExcluir

Seus comentários, críticas ou elogios farão meu blog evoluir. Obrigado por participar.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...