Montaigne, meu filósofo predileto, amigos, conta que um grande filósofo grego observava o gênero humano e não parava de chorar, enquanto outro grande filósofo, igualmente grego e contemporâneo do primeiro, não parava de rir, debruçado sobre a comédia humana.
Eu tenho feito ambas as coisas, ora sorrio ora choro voyeurando as nossas pequeninas-grandes estórias de vida, de efêmeros humanos.
Como a Vendée Globe, mais que todas as outras competições esportivas, constitui uma ótima metáfora da vida, ora me faz rir ora chorar.
Mas digam-me como não chorar assistindo o Kito de Pavant ("Groupe Bel") e o Yannick Bestaven ("Aquarelle. com"), desfilarem montados em seus pássaros de asas quebradas e corações partidos, ao longo de famoso canal de Sables d'Olonne? Olhem, lá vão eles cabisbaixos, seguidos de perto por uma soturna procissão de compassivos parentes, amigos e empregados das empresas que os patrocinam. Pra eles o espetáculo acabou no dia seguinte à estreia. Que tristeza!
Sebastien Josse ( Jojô )
Mas digam-me como não sorrir diante do tranquilo sono reparador do Sebastien Josse ( "BT" ), atual lider da prova, embalado suavemente pelas calmas águas do Atlântico Norte, enfim pacificado após passada a momentânea fúria de Netuna?
Mas como tudo muda o tempo todo no mundo, é bem possível que amanhã estejamos sorrindo por conta do Kiko e do Yannick e chorando por conta do Jojô. A propósito, o mesmo Jojô que neste exato momento está dormindo sorridente, após ter saboreado sua primeira refeição quente, estava chorando e xingando os piores palavrões durante a edição anterior, desta mesma regata, por ter batido de proa num pequeno iceberg. Vide o excelente DVD "Ocean's Twenty".
Bons ventos, amigos, e que o bendito mastro dos seus preciosos veleiros, jamais se quebre.
Fernando "Estrela d'Alva" Costa
www.vendeeglobe. org.
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