Já falamos nesta rubrica dos seguintes velejadores solitários:
Alain“Firecrest” Gerbault, Vito“LEHG II” Dumas, Alfred “Centemnial” Johnson, Howard “Great Western” Blackburn, Fred “Elaine” Rebell, Eric “Pen Duick VI” Tabarly, Alain “Club Mediterrannée” Colas, Philippe “Crédit Agricole” Jeantot, Donald “Teignmouth Electron” Crowhurst, Julio “Mistral” Villar, Francis “Gipsy Moth IV” Chichester, Aleixo “Três Marias” Belov e Florence “Pierre I” Arthaud.
Se me permitem falaremos novamente de Joshua “Spray” Slocum e de Bernard “Joshua” Moitessier.
- Porque?
- Porque?
- Primeiro porque o Slocum foi, como vocês sabem o primeiro velejador solitário a dar uma volta ao mundo num veleiro e segundo porque Moitessier é o grande guru da maioria dos velejadores cruzeiristas do planeta.
Talvez vocês gostem da minha idéia. Sabem o que eu fiz? Comparei os dois, mestre e discípulo e encontrei uma série de semelhanças e diferenças dignas de nota. Não vou citar todas, só dez, para que esta newsletter não fique grande demais, se é que isto já não ocorreu. Vejam bem:
1 – Semelhança - Tanto Slocum quanto Moitessier eram altos e magros. Nosso audaz Betão Pandiani idem. Talvez mais alto que os dois primeiros. Todos três lembrando a figura do lunático Dom Quixote. Lunático no bom sentido, entendam-me bem. Lunático no sentido de sonhador e não no de alienista, perdão de alienado.
2 – Diferença – Ao contrário de Moitessier, que não ganhou um tostão e ainda desprezou 5.000 libras, mais um globo de ouro sem ser rico, Slocum fez um bom pé de meia durante a sua volta ao mundo, primeiro vendendo barris de sebo ( oriundos de um navio naufragado durante uma tempestade, da qual ele escapou por pouco, se não me falha a memória) que ele encontrou na Terra do Fogo e depois realizando palestras sobre sua originalíssima viagem em vários portos.
3 – Semelhança – Ambos, Slocum e Moitessier, já haviam naufragado duas vezes, quando partiram para as viagens que os tornaram famosos.
4 – Diferença – Slocum deu a volta ao planeta de leste para oeste pelas baixas latitudes, Moitessier deu a volta ao planeta de oeste para leste pelas altas latitudes.
4 – Diferença – Slocum deu a volta ao planeta de leste para oeste pelas baixas latitudes, Moitessier deu a volta ao planeta de oeste para leste pelas altas latitudes.
5 – Semelhança – Tanto Slocum quanto Moitessier escreveram cada qual um livro relatando suas aventuras. Slocum escreveu “Sozinho em volta do mundo” e Moitessier “ O longo caminho”. Ambos os livros foram traduzidos para vários idiomas e se tornaram cults.
6 – Diferença – Slocum realizou sua volta ao mundo entre 1895 e 1898 enquanto que Moitessier circunavegou o planeta entre 1968 e 1969.
7 – Semelhança – Tanto Slocum quanto Moitessier, primeiro navegaram em companhia de suas esposas, para depois optarem pela solidão. Se tivesse acontecido o contrário eu teria a primeira e única razão pra levar fé no famigerado casório.
8 – Diferença – aparentemente Slocum não tinha vícios, enquanto que Moitessier fuma sem parar, confessa que gosta do cheiro do tabaco e bebe segundo ele próprio 15 litros de vinho (o que não é tanto assim – menos de dois litros por mês), durante a viagem, sem contar com as garrafas de champagne, sorvidas quando da passagem de cada um dos três terríveis cabos Boa Esperança, Leewin e Horn. Detalhe interessante, ele só abre e bebe a garrafa de champagne depois de se afastar bastante do cabo em questão.
9 – Semelhança – As maiores alegrias e tristezas de Slocum e Moitessier são idênticas. A alegria é ver seus barcos correrem a toda velocidade, a tristeza é assistir à autoflagelação das velas nas calmarias.
10 – Diferença – Slocum faz críticas sutis e eventuais à nascente Sociedade de Consumo. Moitessier condena com virulência o que ele chama de o Monstro. Leiam:
“Não suporto mais os falsos deuses do Ocidente, sempre à espreita como aranhas, que nos devoram o fígado, que nos sugam a medula. Eu declaro aqui minha repulsa contra o Mundo Moderno. É ele o Monstro. É ele que destrói a nossa terra, espezinha a alma dos homens....... É do Mundo Moderno, por conta de sua pretensa “Civilização”, por causa de seus pretensos “Progressos” que eu fujo a bordo do meu belo barco pro meio do oceano.”
Extrato da newsletter nº 18 de 3/10/2008 – projeto “Estrela d’Alva”
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