94º dia
vendée globe
a fome multiplica o medo
Vejam o drama do Armel Le Cléac'h que ficou
sem ter o que comer nas últimas 48 horas da sua longa viagem de circunavegação.
Salve amigas e amigos velejadores!
Pra amenizar este nosso insuportável verão brasileiro selecionei esta
maravilha aqui:
http://www.youtube.
com/watch? v=yY2Ugpst9VY&feature=related
Notícias quentinhas da Vendée Globe:
- Um imenso centro de alta-pressão
posicionado no meio do golfo de Gasconha tornará a proeza de velejar sem bulbo
de quilha do Marc Guillemot menos arriscada, mas atrasará ainda mais sua
chegada a Sables d'Olonne, na esteira da inglesa Samantha Davies, que talvez
lhe "roube" a
terceira posição.
- Arnaud Boissières enfrenta problemas
elétricos a bordo, escassez de combustível e comida mais jogo nos lemes do seu
antigo "Akéna Véranda".
A vela mestra do "Aviva" de Dee
Cafari continua a se esfarelar.
´´´´´´´´´´´´´´
E agora o que mais me interessa uma nova
lição aprendida na
ESCOLA DE VELA PARA SOLITÁRIOS DA VENDÉE
GLOBE
ARMEL LE CLÉAC'H - Lição nº 4 - Quando
partir pra navegar na divina mar melhor pecar por excesso, do que por falta, no
quesito alimentação.
Por quê? Porque o verdadeiro combustível
do barco à vela não é o vento, mas os gêneros alimentícios da dispensa do
velejador. Vejam o drama do Armel Le Cléac'h que ficou sem ter o que comer nas
últimas 48 horas da sua longa viagem de circunavegação. Deve ter sofrido o
diabo por conta desta carência, principalmente porque enfrentou condições de
tempo, segundo ele mesmo, dantescas no Golfo de Gasconha. Se encarar uma
tempestade na mar já constitui enorme provação, imaginem fazê-lo com fome. A
tempestade aumenta a queima de calorias pelo esforço extra que exige do
navegante. A fome multiplica o medo. O
medo aumenta a fome. Coitado do Armel Le Cléac'h prisioneiro desse círculo
virtuoso dos mais perversos! A bordo da minha humilde "Estrela
d'Alva", percebi que o simples fato de observar minha caixa de mantimentos
se esvaziar, me deixava deprimido. Portanto amigos, quando partirem pra mar
jamais economizem nos mantimentos. Comida a bordo nunca é demais. Cabos também
não. Facas também não. Concordam? Qual de vocês, amigos marujos, que navegam
com frequência na mar, já não sofreram por falta de um pedaço de cabo ou de pão
ou de uma boa faca à mão? Vamos! Atire-me a primeira pedra o marujo que nunca
sofreu por falta de cabo, faca ou rango a bordo!
MARC GUILLEMOT – Lição nº 3 – Quando você
não puder ajudar efetivamente um companheiro em perigo na mar, faça-lhe
companhia virtual. Converse com ele através do VHF ou telefone satélite ou
celular ou sinais de fumaça, de espelho, de bandeirolas, do que for possível,
mas preste-lhe apoio psicológico, que pode ser tão ou mais importante que o
socorro efetivo de corpo presente.
MICHEL DESJOYEAUX - Lição n° 2 – Todas as
peças de um barco à vela deveriam ter no mínimo duas funções. O grande modelo
de sabedoria do arquiteto construtor é o corpo humano. Imaginem que monstros
nós seríamos se precisássemos de um membro pra escrever, outro pra acenar,
outro pra jogar vôlei, outro pra cumprimentar, outro pra pentear o cabelo,
outro pra dirigir, outro pra timonear, outro pra caçar a escota da vela, outro
pra arriar a bolina, outro pra pescar lulas, outro pra comer lulas fritas. Já
perceberam quantas funções possue a mão, prolongamento do braço humano? No
barco a vela ideal, a ser inventado, cada apêndice deverá possuir tantas
funções quanto a mão humana, a ferramenta-mor.
YANN ELIÈS - Lição nº 1 - Quando você
sofrer um revés na mar e sobreviver, jamais se lamente da sorte.
Consegui me curar do terrível resfriado
que me nocauteou durante as últimas 48 horas, sem tomar remédios e penso que
dormirei esta noite ao lado da ilha do Japonês, sem ser atormentado pelo calor,
nem pelos ruídos mil da cidade moderna. Com direito a lua cheia. Feliz de mim.
Ih lembrei dos mosquitos. Nada pode ser perfeito neste mundo de deus e do
diabo. Metade pra cada um.
Bons ventos a todos e até amanhã
Fernando “Estrela d’Alva” Costa
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