57° dia
Vendée Globe
pra não dizer que não falei das...
O tubarão-esfomeado- de-vitórias francês Michel Desjoyeaux dobrou o cabo Horn esta noite em primeiríssimo lugar, cantando uma famosa canção brasileira intitulada "Pra não dizer que não falei das flores." - Conhecem? Começa assim ó! "Vem, vamos embora que esperar não é saber. Quem sabe faz a hora, não espera acontecer." Ave professor! Nós que vamos morrer lhe saudamos.
Salve amigas e amigos leitores
Neste exato momento em que lhes escrevo estas humildes linhas, o velejador francês Michel Joyeaux, está dobrando o famigerado Cabo Horn, também conhecido como o "cabo duro" ou se preferirem " o cemitério dos
Salve amigas e amigos leitores
Neste exato momento em que lhes escrevo estas humildes linhas, o velejador francês Michel Joyeaux, está dobrando o famigerado Cabo Horn, também conhecido como o "cabo duro" ou se preferirem " o cemitério dos
marinheiros" , isso à frente de 13 dos 30 velejadores que partiram de Sables d'Olonne há dois meses atrás, sonhando em pelo menos completar o imenso percurso de 24. 840 milhas desta hercúlea maratona.
Resolvi portanto, em homenagem a esse super-marujo, que responde merecidademente pela alcunha de "o professor", citar alguns tópicos da sua excepcional biografia.
MICHEL DESJOYEAUX
> M. D. foi o vencedor da 3° edição a Vendée Globe em 2001, da Route du Rhum em 2002, da "The Transat" em 2004 e tri-campeão da Solitaire du Figaro ( em 1992, 1998 e 2007 ). No total já venceu nada menos que 25 regatas importantes.
>> M. D. foi autor de uma espetacular corrida de recuperação na atual 6° edição da Vendée Globe após um retorno ao porto de partida para consertos, logo no início da regata. Ou seja ele está em primeiro após ter passado 40 horas em último lugar e ultrapassado todos os demais concorrentes.
>>> M. D. velejou quando adolescente um "Vaurien", barquinho muito semelhante à “Estrela d’Alva” e freqüentou o histórico arquipélago dos Glénans, berço da mais antiga, maior e talvez melhor escola da vela francesa. ( alguma coisa a gente tem em comum )
>>>> M. D. detestava a escola e gazeteava pra ir velejar em companhia dos colegas, dois deles se encontram atualmente em segundo e terceiro lugar nesta 6ª edição da fantástica Vendée Globe. ( com toda razão, pois que a escola ideal é o barco à vela e a escola tradicional a coisa mais chata do mundo )
>>>>> M. D. ajudou seu amigo Roland Jourdain a recuperar um “Muscadet” de 6.5 metros, para participar da Mini-Transat de 1983 e foi essa aventura, que lhe fez compreender a importância de todos os órgãos que constituem o corpo de um barco à vela. ( todo velejador deveria, ao menos uma vez na vida, participar da reforma de um barco à vela todo ferrado... é edificante.. )
>>>> M. D. aprendeu muito sobre todos os tipos de barco à vela auxiliando seu pai mais o carpinteiro Jean no estaleiro da família.
>>> M. D. se aperfeiçoou na arte zen de velejar em companhia do grande Tabarly ( uma volta ao mundo aos 20 anos de idade! ) e posteriormente do Philippe Jeantot, o pai da Vendée Globe.
>> M. D. foi piloto de teste do Hydroptère em 1994.
> M. D. criou em 1999 uma equipe de velejadores de alta mar batizada de “Mar Agitada” que já venceu mais de 50 regatas importantes.
Algumas máximas de M. D.:
“O cérebro coletivo pensa melhor que o cérebro individual”
“A Vendée Globe se ganha em terra.”
“O mais belo é o mais rápido.”
A última façanha do grande Michel Desjoyeaux, que age muito e fala pouco, nós acabamos de presenciar, sua meteórica passagem noturna pelo Cabo Horn, como líder da Vendée Globe, a menos de 2 milhas de terra, assolado por ventos de 35 a 40 nós e com o tempo recorde de 56 dias 15 horas 8 minutos. Tempo este ligeiramente inferior ao estabelecido por Jean Le Cam na edição anterior da regata, apesar do aumento do percurso em 1160 milhas e das condições meteorológicas que foram bem mais rigorosas desta feita.
Só estranhei o fato dele ter passado a menos de 2 milhas do Cabo Horn. Eu, a bordo da minha insignificante “Estrela d’Alva” passo sempre a mais de duas milhas do cabo Búzios e quando passo mais próximo sempre me arrependo. Mas eu sou eu, a "Estrela d'Alva" é uma simples canoa à vela e Michel Joyeaux é o grande favorito pra vencer a Vendée Globe, embora eu continue a torcer ( será? ) para o seu colega de infância Roland Jourdain.
ficha técnica do TYRANNOSAURUS REX " Foncia" do Professor
classe - Open 60
arquiteto - Bruce Farr Yacht Design
estaleiro - CDK Technologies
data de lançamento - maio de 2007
comprimento - 18,28 m
boca máxima - 5,85
calado - 4,5 m
deslocamento - 8.500 kg
altura do mastro - 28 m
área vélica máxima - 600 m2
classe - Open 60
arquiteto - Bruce Farr Yacht Design
estaleiro - CDK Technologies
data de lançamento - maio de 2007
comprimento - 18,28 m
boca máxima - 5,85
calado - 4,5 m
deslocamento - 8.500 kg
altura do mastro - 28 m
área vélica máxima - 600 m2
ATUAL CLASSIFICAÇÃO
Michel Desjoyeaux ( 1° ) Roland Jourdain ( 2° ) Jean Le Cam ( 3° ) Vincent Riou ( 4° ) Armel Le Cléac’h ( 5° ) Samantha Davies ( 6° ), Marc Guillemot ( 7° ) Brian Thompson ( 8° ) Dee Cafari ( 9° ) Arnaud Boissières ( 10° ) Rich Wilson ( 11° ) Steve White ( 12° ) Norbert Sedlacek ( 13° ) Raphaël Dinelli ( 14° )
Michel Desjoyeaux ( 1° ) Roland Jourdain ( 2° ) Jean Le Cam ( 3° ) Vincent Riou ( 4° ) Armel Le Cléac’h ( 5° ) Samantha Davies ( 6° ), Marc Guillemot ( 7° ) Brian Thompson ( 8° ) Dee Cafari ( 9° ) Arnaud Boissières ( 10° ) Rich Wilson ( 11° ) Steve White ( 12° ) Norbert Sedlacek ( 13° ) Raphaël Dinelli ( 14° )
ABANDONOS
Yannick Bestaven, Kito de Pavant, Marc Thiercelin, Alex Thomson, Jérémie Beyou, Unai Basurko, Dominique Wavre, Bernard Stamm, Yann Eliès, Loïck Peyron, Mike Golding, Jean-Baptiste Dejeanty, Sébastien Josse, Jean-Pierre Dick, Derek Hatfield e Jonny Malbon.
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Enquanto isso a minha querida concubina "Estrela d'Alva" continua a me esperar na bóia, cheia de limo no fundo, coitada. Mas já já vou fazer-lhe companhia. Estava só esperando passar essa época agitada de fim de ano e resolver alguns problemas em terra. Já perceberam como a Terra morre de ciúmes da Mar? Toda vez que você marca um encontro com sua linda e sensual amante Mar, sua esposa Terra inventa um compromisso qualquer pra lhe agulhar. Não é verdade? Um casamento aqui, um aniversário de criança ali, um almoço na casa da sogra. Mas também é verdade que toda vez que sua temperamental amante Mar lhe açoita sem dó nem piedade, você foge desesperado pros braços da sua velha esposa Terra. Marinheiro, eterna peteca entre a namorada Mar e a esposa Terra... É assim desde que o mundo é mundo e não deve mudar. Não, não, engano seu amigo leitor, se por acaso você tiver uma esposa chamada Ana Terra e uma namorada Marina, não acabei de me referir a sua digna pessoa. Só me refiro às pessoas que cito nominalmente e normalente pra elogiar.
Bons ventos amigos e amigos e até amanhã se Deus, o autor da divina mar, permitir
Fernando "Estrela d'Alva" Costa
MOITESSIER DOBRANDO O CABO HORN
Quinta estrofe do "poema" em versos livres MOITESSIER DOBRANDO O CABO HORN que escrevi, utilizando metade das palavras do próprio Moitessier, em seu clássico “O LONGO CAMINHO”, traduzido pela Carmen Ballot e publicado pelas Edições Marítimas.
5ª ESTOFRE
começa a ventar mais forte
e a mar a bramir mais alto
as ondas crescem de tamanho, grávidas do alto-fundo do cabo Horn
o barômetro caiu
e o vento sopra com força 7
“Joshua” destemido como sempre
segue em frente ziguezagueando
por cima da mar, cada vez mais grossa e irada
sob a mestra com duas
e a mezena com quatro forras de rizes
se o céu não estivesse encoberto
eu veria o horizonte todo branco mais ao sul
reflexos dos raios de sol
nas geleiras...
um cego que perdesse a bengala
caminhando pela primeira vez numa rua
mal calçada de um estranho bairro
da esquisita periferia de Cingapura
não caminharia mais inseguro que eu
que mal e mal consegui medir
a altura do sol esta manhã
entre uma pancada de chuva e outra
lá vamos nós, "Joshua" e eu,
tateando entre Diego Ramirez e o Horn.
a prudência me cochicha ao ouvido
- reduza mais a área vélica de “Joshua” Bernard...
olha que seguro morreu de velho...
minha vontade de passar para o outro lado
e deixar o Horn pela popa é tão grande
que não dou ouvidos à prudência.
mas faz duas horas que estou de plantão ao pé do mastro
atado à linha de vida por dois seguros mosquetões
pronto pra arriar a vela grande a qualquer instante
mas sempre postergando esta sensata decisão
"Joshua" avança veloz, além do bastante
e muito próximo do demais...
o vento aumentou para força 8
percebo até que ponto o medo é excitante
medo sempre temperado com altas doses de adrenalina
o que o torna ainda mais saboroso...
o frio é intenso, mas esta noite sinto vontade
de tirar minhas grossas luvas, meu capuz e minhas botas
quero por minhas mãos, cabeça e pés nus em contato com a atmosfera...
pra quê?
pra melhor sentir, apalpar, sorver os mistérios que circundam o cabo Horn durante a noite...
as vagas tornam-se imensas, mostruosas mesmo...
uma vagaria assim tão alta
é prenuncio certo de uma tempestade de oeste
para amanhã ou depois de amanhã...
precisamos nos apressar caro “Joshua”...
se não, dobraremos o Horn
entrando triunfalmente no Atlântico e minuto seguinte
seremos empurrados de volta ao Pacífico.
muito barco, maior e mais poderoso que você, amigo “Joshua”, passou dias nesse vai e vem horripilante. ..
algo como dançar bêbado à beira de um abismo.
( continua no próximo post )
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