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domingo, 3 de outubro de 2010

Moitessier dobrando o cabo Horn - primeira estrofe - poema

foto - Fernando Costa - projeto Pescador de Nuvens

Philippe Jeantot, o grande Philippe Jeantot, que venceu duas BOC CHALLENGE (atual Velux 5 Oceans Race) consecutivas, declarou no seu livro “Trois océans pour une victoire” que leu duas vezes consecutivas e na mesma noite, eu escrevi na mesma noite, “La longue route” de Bernard Moitessier. Isso aos quinze anos de idade. Isso antes de aprender a velejar. A amiga velejadora já leu, por acaso, um dos ótimos livros do Amyr Klink, duas vezes na mesma noite?
Eu andava curioso pra saber o que aconteceria de extraordinário comigo, ao ler este famoso livro-fetiche, que já mudou a vida de muito marujo pelo o mundo afora . Pois bem, li enfim o livro durante esta última aventura a bordo da “Estrela d’Alva” e aconteceram três coisas extraordinárias comigo:
1 – pela primeira vez li um apêndice com prazer, eu que detesto ler, quando leio, apêndices, prólogos, introduções ou prefácios.
2 – durante os três dias em que li o livro não consegui velejar, nem me alimentar ou dormir direito... Só pensava em ler, ler, ler e pensar a respeito... torcendo pro livro não acabar.
3 – logo após a leitura, eu que não sou poeta, comecei naturalmente a escrever o longo poema em versos brancos, digo em versos livres, MOITESSIER DOBRANDO O CABO HORN, utilizando metade das palavras do próprio Moitessier, traduzido pela Carmen Ballot e publicado pelas Edições Marítimas em 1984. Porque não li o livro no original, o que seria ideal? Simplesmente porque não o possuía à mão? Em tempo, se algum poeta de verdade, desejar reescreve-lo, que o faça, por favor.

 
MOITESSIER DOBRANDO O CABO HORN
estrofe 1
as nuvens desfilam filamentosas pelo céu ao por do sol
filamentos nas nuvens é mal sinal
mas faz parte das coisas da mar
e é tão bonito de se ver
iço a vela de proa ao luar
é lua cheia esta noite
e ela ainda estará cheia durante a passagem pelo cabo Horn
isto se "Joshua" mais eu conseguirmos dobrar o cabo Horn...
tantos tentaram em vão
desistindo, naufragando, morrendo enfim
antes de consegui-lo
existe um grande cemitério submarino ao largo do Horn
com milhares de almas angustiadas de bravos marujos…
não sinto sono
o Horn está tão perto…
apesar de imensa a MAR respira calmamente
um raio de luar reflete-se no topo de uma nuvem
de raio transforma-se em facho de luz
que sobe reto, vertical, sobrenatural furando o zênite
- céus, fui siderado!
- como pode a lua criar algo tão lindo?
mas o facho se alaga e torna-se fosforescente...
dir-se-ia...
- o que meu Deus?!
- um canhão de luz a disparar estrelas?
- sei lá! quando a magia é grande demais
não cabe em letras...

Extrato da newsletter nº 18 de 3/10/2008 – projeto “Estrela d’Alva”


foto - Fernando Costa - projeto Pescador de Nuvens

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